Parte dos bolsonaristas rejeita militares no governo
Foto: Jorge William / Agência O Globo
Embora seja frequentemente elogiada e ampliada por Jair Bolsonaro, a atuação de militares no governo não possui aprovação unânime entre a base de apoio que milita pelo presidente nas redes sociais. Um levantamento da consultoria Arquimedes cedido ao GLOBO mostra que, no Twitter, o debate sobre o poder decisório de membros das Forças Armadas expõe uma divisão originada desde a posse de Bolsonaro, em janeiro do ano passado, e acentuada após acontecimentos recentes.
Realizado entre domingo e quarta-feira, o estudo considerou 275.765 menções feitas ao termo “militares” no Twitter. A maioria dessas mensagens (52,5%) consta de publicações de usuários alinhados com a oposição e que tecem críticas aos quadros governamentais, sobretudo ao número de cargos militarizados e aos resultados produzidos por seus ocupantes.
Situa-se nesse grupo, por exemplo, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), que escreveu na última terça-feira que “as Forças Armadas não podem aparelhar ou ser aparelhadas por governos”.
Do outro lado do debate digital, estão bolsonaristas de apoio declarado aos militares. Eles compõem 33,5% da amostra e são representados por figuras como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o presidente nacional do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson.
O “racha” reside em publicações correspondentes a 12% das menções feitas a militares no período de quatro dias analisados pela consultoria. Elas foram publicadas no Twitter por usuários alinhados com Bolsonaro, mas críticos aos militares. Grande parte deles dialoga com a chamada “ala ideológica” do governo, associada ao escritor Olavo de Carvalho, cujas ideias já guiaram discursos e nomeações do presidente.
Um dos influenciadores com publicações mais expressivas entre o grupo bolsonarista discordante é o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ). Em 9 de julho, ele escreveu: “Toda a estrutura do governo, toda, está tomada por esquerdistas, os militares ocupam os principais cargos em parceria com os comunistas”.
— Há uma guerra fria entre militares e “olavistas” desde o início do governo. Os dados mostram que, após críticas externas à atuação do primeiro grupo, o segundo não atua para promover uma defesa unânime, como se poderia esperar — afirma Pedro Bruzzi, sócio da Arquimedes, em referência à desaprovação por parte da oposição e do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em relação à atuação de militares na Saúde em meio à Covid-19.
Perfis de militares também foram considerados na pesquisa. Eles equivalem a 3% das menções à própria classe.