PT discute apoiar Boulos em SP

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Foto: Tamires Kopp/Valor

Ex-presidente nacional do PT, Tarso Genro defende a pré-candidatura de Guilherme Boulos (PSol) à Prefeitura de São Paulo. Para Tarso, seu partido deveria abrir mão da candidatura própria na capital paulista para construir uma frente ampla de esquerda, com vistas às eleições de 2022. O PT, no entanto, escolheu há dois meses lançar o ex-deputado Jilmar Tatto na cidade.

Tarso diz que o PT precisa inaugurar uma política de alianças “compatível com um projeto de unidade em 2022”. “É preciso saber selecionar não só quem é o melhor candidato, mas também quem tem mais possibilidades de unificar [a esquerda]”, afirma o petista, que é um dos principais defensores da renovação e “refundação” do partido desde o escândalo do mensalão, em 2005.

Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, Tarso cita o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e Boulos como os nomes de esquerda com maior força política para construir uma frente ampla. “O PT deve ter uma linha de estratégia política”, diz. “Não tenho nenhuma restrição de princípios em relação a Jilmar Tatto, mas sim ao fato de o PT forçar ter a cabeça de chapa. O PT precisa se abrir e mostrar a grandeza política que temos. Sabemos ser tanto cabeça de chapa como apoiar outro candidato”, diz Tarso. “É preciso ter grandeza política para ter um candidato de unidade.”

O ex-presidente do PT diz que Haddad deve se “preservar” para disputar a Presidência em 2022 e, por isso, apoia Boulos. Líder do MTST e ex-candidato presidencial em 2018, Boulos foi anunciado ontem como pré-candidato do Psol à Prefeitura de São Paulo, com deputada Luiza Erundina como vice. A chapa venceu com 60,9% dos votos a prévia realizada pelo Psol no fim de semana.

A avaliação de Tarso é apoiada por lideranças do PT de São Paulo que resistem à candidatura de Jilmar Tatto. A viabilidade eleitoral de Tatto tem sido questionada e dirigentes do partido afirmam que o pré-candidato não conseguirá atrair aliados de centro-esquerda. Com isso, cresce o apoio de petistas ao movimento “Sou PT, voto Boulos”.

Tarso reclama da falta de unidade da esquerda, que se reflete na pulverização de candidaturas neste ano e na ausência de um projeto unitário para o país no enfrentamento da crise no pós-covid-19. O PT caminha para disputar sem alianças em metade das capitais. Ex-ministro do governo Luiz Inácio Lula da Silva, ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-prefeito de Porto Alegre, o petista, no entanto, elogia a decisão do PT de ser vice de Manuela D’Avila (PCdoB) em Porto Alegre, com a indicação do ex-ministro Miguel Rossetto.

Em São Paulo, Jilmar Tatto minimiza as declarações de Tarso, mas concorda que dificilmente conseguirá construir uma frente de centro-esquerda. “Temos uma boa relação com o Psol. Os dois partidos estão juntos em várias cidades e nas lutas sociais, e não teremos dificuldade para 2022”, diz. “Mas em São Paulo é difícil ter uma política de aliança no primeiro turno.” Ao justificar a falta de apoio, Tatto diz que o PCdoB deve lançar o deputado Orlando Silva para ajudar a eleger vereadores; o PDT não fará acordo por conta de brigas com o ex-governador Ciro Gomes; o PSB aposta no ex-governador Márcio França, que, segundo o petista, flerta com o bolsonarismo; e a ex-prefeita Marta Suplicy, do Solidariedade, não definiu seu rumo.

“Mas eu vou ganhar em São Paulo”, diz Tatto. “O PT tem capilaridade na periferia e uma boa chapa de vereadores. Ganhamos três vezes na cidade e vamos defender o legado do partido”, afirma o ex-secretário das gestões Marta e Haddad.

O petista foi escolhido em eleição acirrada e venceu por 312 votos a 297 contra o deputado Alexandre Padilha. Tatto reconhece que é pouco conhecido e diz que só recentemente entrou nas rede sociais como Twitter e Instagram. “Não tenho esperança de me tornar conhecido até o início do processo eleitoral”, diz, citando a propaganda no rádio e TV, que começa em outubro. A campanha será coordenada pelo presidente do PT paulistano, Laércio Ribeiro.

O principal adversário na capital paulista deve ser o prefeito e candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), que lidera sondagens de intenção de voto. Com 42 dias a mais para participar de eventos e entregar obras, por conta do adiamento do calendário eleitoral, o prefeito intensificou sua agenda na rua.

Covas indicou o secretário pessoal de Doria, Wilson Pedroso, para coordenar a campanha e negocia uma chapa com até dez partidos.

O tucano decidiu manter o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) na coordenação de seu plano de governo. Para Covas, não há razão para afastar Alckmin, apesar de o ex-governador ter sido indiciado pela Polícia Federal por suspeita dos crimes de corrupção, caixa dois e lavagem de dinheiro. Dirigentes do PSDB temem que ações da Lava-Jato prejudiquem a campanhas. Além de Alckmin, o senador José Serra foi denunciado pela PF, sob acusação de lavagem de dinheiro.

Valor Econômico