Requião ataca frente ampla com palavrão
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Frequentador assíduo das redes sociais e da política brasileira, o ex-senador Roberto Requião (MDB-PR) tem sido um crítico do governo do presidente Jair Bolsonaro, bem como da frente ampla que se juntou “pela democracia” e da atuação dos procuradores da Lava Jato na capital paranaense.
Em entrevista ao Metrópoles, o ex-governador do Paraná, por três mandatos, critica a tentativa do mandatário do país de formar uma base no Congresso fazendo acordo de cargos com o chamado Centrão. Para Requião, o presidente pratica os mesmo erros cometidos por governantes do passado, como Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff – e não terá garantias de fidelidade.
“O Centrão é o mesmo de sempre. O Fernando Henrique o comprou para a reeleição. O Lula cooptava com liberações de dinheiro para poder governar no tal presidencialismo de coalizão”, afirma o ex-governador. “Não acho que Bolsonaro conseguirá formar uma base. O Bolsonaro terá apoio enquanto ele tiver sustentando o Guedes, que tem o apoio do capital e dos bancos também. Eles gostariam muito é de tirar o Bolsonaro, porque ele não é elegante, se veste mal, não diferencia o copo do vinho branco do copo de vinho tinto, mas eles querem deixar o Guedes e o liberalismo econômico.”
Requião tem sido uma voz dissonante no cenário político que tenta se organizar em uma frente ampla que conta com a participação de partidos que vão da direita à esquerda. Ele aponta o apoio ao ministro da Economia, Paulo Guedes, por parte do PSDB como um sintoma de que essa frente ampla não se sustentará na defesa de causas populares. A frente tem contado com a presença de políticos como Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT).
“Viu o Fernando Henrique dizer que é necessário ter tolerância com o Bolsonaro?”, questiona. “No Brasil, casa de tolerância é prostíbulo, puteiro ou lupanar. Então, a frente da tolerância é um prostíbulo”, ironiza Requião.
“Bolsonaro, mantendo Guedes, está tudo bem para o Fernando Henrique. Logo mais adere a Marina, e o nosso amigo Ciro também se propõe a participar. Eu votei no Ciro na última eleição”, frisa o ex-governador. “O que eles querem é colocar freio no Bolsonaro, para ele se comportar direitinho e deixar o Guedes e os bancos governarem o Brasil. Uma frente que não defende o trabalhador não é frente, é prostíbulo”, dispara.
“Sou amigo do Ciro e da Marina. Eles têm algumas ideias, algumas propostas boas, a Marina na preservação ambiental e Ciro, às vezes, sobre política e economia brasileiras. Mas nós precisamos de um projeto para o Brasil, não para pessoas. O sujeito quando é candidato à Presidência da República não pensa direito mais. Ele começa a fazer concessões. Veja, o Ciro disse que primeiro não aceitava a emissão de moeda, depois ele começou a dizer que não, mas está gravado o que ele diz. Ele não queria desagradar os banqueiros. Agora é a favor da privatização da água. Tenha dó. Isso está sendo revertido no mundo inteiro”, assinala.
Requião chegou a ter seu nome cotado para disputar as eleições deste ano para a prefeitura de Curitiba. Ele, no entanto, defende o adiamento do pleito devido à pandemia do coronavírus. “Devem ser adiadas. Não tem condições de fazer eleições agora.”
Advogado e jornalista, Requião foi irônico ao falar da briga dentro do Ministério Público Federal envolvendo a cúpula e os procuradores da força-tarefa da Lava Jato. Na semana passada, membros da operação em Curitiba se demitiram da força-tarefa depois de considerarem que a coordenadora da operação na PGR, Lindora Araújo, teria tentado ter acesso a dados sigilosos envolvendo a Petrobras. Após toda a confusão, a corregedoria do órgão abriu uma sindicância para apurar o que ocorreu de fato. Lindora é ligada ao procurador-geral da República, Augusto Aras.
Para Requião, Aras deveria pedir dados diretamente aos órgãos de controle dos Estados Unidos, que já teriam essas informações repassadas pelo coordenador da Lava Jato, o procurador Deltan Dallagnol. “Dei um conselho para o Augusto Aras. É bobagem ele pedir essas informações para o Dallagnol. Pede para o Departamento de Estado dos Estados Unidos. Eles têm tudo. O Dallagnol já deu essas informações, com prazer, para os Estados Unidos. Eu não brigaria. Assim, ele vai ter economia processual e não vai precisar ficar brigando com a República de Curitiba. Lá nos Estados Unidos, ele pode conseguir até aquelas gravações que fizeram da Dilma”, ironizou.
“É que vai ter de ser feito em inglês”, brincou Requião. “Aliás, se pedir para o Dallagnol em inglês, é capaz de ele ceder também”, disparou o ex-senador, insinuando que o Ministério Público em Curitiba está a serviço dos norte-americanos. “Eles acham que são intocáveis”, enfatiza.