Sociedade estadunidense ignora Trump na pandemia
Foto: Kevin Lamarque/Reuters
Ao menos 67% da população americana desaprova a gestão do presidente Donald Trump durante a atual crise do coronavírus no país, segundo uma pesquisa ABC/Ipsos. Por essa e outras razões, parte dos governos locais, comerciantes e até mesmo antigos aliados do republicano decidiram agir por conta própria para evitar o crescimento dos casos.
Supermercados como Walmart e Kroger e lojas como a rede de departamento Kohl’s decidiram tornar obrigatório o uso de máscaras em todas as suas filais dos Estados Unidos, apesar da resistência da Casa Branca à peça de proteção.
Além disso, diversos distritos escolares desafiaram as ordens de Trump de recomeçar as aulas presenciais no início do ano escolar, em setembro, e decidiram postergar a reabertura. Casos como esse foram identificados em regiões de São Francisco, na Califórnia, e até mesmo Houston, no Texas, onde o Partido Republicano historicamente é mais popular.
A governadora democrata do Kansas, Laura Kelly, assinou uma ordem executiva para adiar a abertura das escolas para depois do Dia do Trabalho, que será comemorado este ano em 7 de setembro.
O Alabama, considerado por muitos o estado mais pró-Trump do país, tornou obrigatório uso de máscaras em locais públicos nesta quarta-feira 15. As cidades da região observaram um preocupante aumento de casos e de hospitalizações pela Covid-19 nas últimas semanas.
O governador democrata de Montana, Steve Bullock, determinou que as máscaras devem ser usadas em todos os espaços públicos fechados em todos os distritos do estado em que houver mais de quatro casos ativos de coronavírus. Outros 35 estados do país tomaram medidas semelhantes.
As grandes redes de varejo Walmart, Kohl’s e Kroger exigirão que seus clientes usem o item de segurança ao entrar em qualquer uma de suas lojas em todo o país. Todas as medidas tomadas por empresas e governos locais confirmam a tendência que cresce nos Estados Unidos de que o uso obrigatório de máscaras, mais do que uma violação da liberdade individual dos americanos, é uma forma de salvar vidas.
Trump já zombou de outras lideranças políticas por usarem máscaras e insinuou até que alguns pudessem usar esse equipamento de proteção pessoal como símbolo de protesto contra ele, mesmo depois que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) recomendou seu uso. Nos últimos dias o presidente cedeu à pressão popular e foi visto de máscara, mas não indicou seu uso publicamente.
A Casa Branca ainda tem feito pressão pela reabertura das escolas no outono no hemisfério norte. Em duas entrevistas na televisão, a secretária de Educação, Betsy DeVos, insistiu na necessidade de retomar as aulas. “As famílias precisam que as crianças voltem para a sala de aula. E isso pode ser feito com segurança”, disse à emissora CNN.
O presidente ainda tem usado como nova estratégia para minimizar as críticas ao seu governo uma campanha contra Anthony Fauci, maior especialista em doenças infecciosas dos Estados Unidos, diretor geral do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas e conselheiro do governo para combater a pandemia. O médico entrou na mira de Trump depois que contradisse o republicano em muitas de suas recomendações.
Ao mesmo tempo em que líderes locais rejeitam as recomendações da Casa Branca, membros da própria legenda do presidente se voltaram contra sua forma de lidar com a pandemia. O governador republicano de Maryland, Larry Hogan, criticou a liderança de Trump em um artigo publicado no jornal The Washington Post nesta quinta-feira, 16, dizendo que “ficou claro que esperar o presidente executar a resposta correta para a nação é inútil”.
Os governadores “seguiram seu próprio caminho”, escreveu Hogan. “Foi assim que os Estados Unidos acabaram com sua resposta feita de retalhos”, disse ainda, em relação à falta de padrão das medidas adotadas em diferentes partes do país.
Até o frequente defensor de Trump, o líder republicano no Senado, Mitch McConnell, alertou seu estado natal, Kentucky, sobre os riscos que algumas pessoas corriam menosprezando a pandemia. McConnell disse que, embora “houvesse alguns que esperavam” o coronavírus desaparecer, não está desaparecendo.