Bolsonaros curtem mais conteúdo ideológico no Twitter
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Uma análise das curtidas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro e seus três filhos políticos — Flávio, Carlos e Eduardo — em publicações no Twitter mostra alguns padrões, mas também diferenças, da atuação digital da família. Diversos perfis têm suas postagens curtidas pelos quatro, entre ministros e ativistas, mostrando um prestígio entre a família. Cada um, no entanto, tem um padrão diferenciado de curtidas, pendendo mais para o apoio a perfis institucionais ou para contas com mais conteúdo ideológico. Além disso, a interação entre os membros da família é desigual.
A empresa de pesquisa e estratégia Quaest analisou, a pedido do Sonar, 7.567 publicações curtidas pelas quatro contas. No caso de Bolsonaro, Flávio e Carlos, os dados foram coletados de janeiro de 2019 até o início de agosto de 2020. Na conta de Eduardo, isso não foi possível, porque ele utiliza a ferramenta muito mais do que os outros, o que dificulta a extração de dados. Por isso, as informações foram coletadas somente a partir de março de 2020.
Mesmo em um intervalo muito menor, Eduardo curtiu muito mais publicações que os outros: foram poucos mais de 3 mil apenas nos últimos meses. Enquanto isso, desde 2019, Carlos passou de 2 mil, Bolsonaro curtiu 1,3 mil, e Flávio, 1,1 mil.
Confira os resultados do levantamento:
Analisando a soma de curtidas das quatro contas, o usuário de fora da família mais prestigiado foi o ministro da Infraestrutura, Tarcisio Gomes de Freitas (126 curtidas). Tarcísio, celebrado como um ministro técnico, é elogiado pelos Bolsonaro e pela militância como um ministro que entrega obras.
Na lista, ele é seguido pelo ex-ministro da Educação Abraham Weintraub (113) e do seu irmão, o assessor da Presidência Arthur Weintraub (92). Completam a lista Filipe Martins (90), também assessor da Presidência, e o youtuber bolsonarista Bernardo Küster (71). Filipe Martins e os irmãos Weintraub são alguns dos principais representantes da ala do governo influenciada pelo ideólogo Olavo de Carvalho.
Bernardo Küster é investigado no inquérito que apura ameaças e notícias falsas contra o Supremo Tribunal Federal (STF), assim como Abraham Weintraub. Outros investigados pelo mesmo inquérito também aparecem mais abaixo na lista, como o blogueiro Allan dos Santos (52 curtidas), os deputados estaduais Gil Diniz (46) e Douglas Garcia (42) e a youtuber Bárbara Destefani (37).
A Quaest também analisou os termos e hashtags que mais aparecem nas publicações curtidas pelos quatro. Em primeiro lugar, aparecem “coronavírus” (39) e “Brasil”. Logo em seguida, PLN42019Ja (21), FechadoComBolsonaro (20) e BolsonaroTemRazao (15), hashtags impulsionadas pela militância bolsonarista (o PLN 4 foi um projeto que autorizou crédito extraordinário para o governo).
Uma análise de cada perfil revela algumas diferenças entre eles. Bolsonaro é o que mais apoia o conteúdo de perfis institucionais, como da Secretaria de Comunicação, do Planalto ou da TV Brasil (quarto, quinto e sexto lugares, respectivamente, em seu ranking). O ex-ministro Sergio Moro, hoje desafeto, foi o terceiro com mais postagens curtidas, perdendo apenas para Carlos e Tarcísio.
Já Carlos privilegia o conteúdo de ativistas de direita: Sarita Coelho, Angel Brasil e Bárbara Destefani lideram sua lista, seguidas por Arthur Weintraub, Filipe Martins e Olavo de Carvalho. Flávio tem um padrão mais parecido com o do pai, enquanto Eduardo apresenta uma combinação entre perfis de ministros e parlamentares com outras contas de sites e ativistas de direita.
Também há uma diferença entre as curtidas dentro da própria família. Bolsonaro e o Carlos são os principais beneficiados: Flávio e Eduardo tem o pai no topo de sua lista de perfis com mais publicações curtidas, com o filho 02 logo abaixo (segundo lugar no ranking de Eduardo e quarto no de Flávio).
A recíproca, contudo, não é verdadeira: Bolsonaro curte muitas publicações de Carlos (o primeiro de sua lista), mas poucas de Flávio e nenhuma de Eduardo. O filho 03, inclusive, também não recebeu nenhuma curtida de seus irmãos.
Outra diferença é que, ao contrário dos seus irmãos, Carlos curtiu poucas publicações do seu pai. Isso pode ser explicado pelo fato de que ele utiliza as contas de Bolsonaro, como já foi admitido pelo próprio presidente, que disse que é o filho quem “basicamente conduz” suas redes.
O levantamento apontou dois pontos que ilustram a ação de Carlos na conta do pai. Um deles é o fato de que as duas contas têm o hábito de curtirem as próprias publicações. Essas “autocurtidas” representam 40,4% de todas as curtidas de Bolsonaro e 42,8% de todas as de Carlos. Com Flávio e Carlos, isso não ocorre. Outra questão ressaltada pela Quaest é uma correlação negativa entre as curtidas de Bolsonaro e Carlos: quando há um pico nas de um, há uma queda nas do outro.