Declarações de Bolsonaro mudam decisões eleitorais de Crivella
Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo
Aliados do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), participam de articulações para ter um político do PSL como vice na chapa à reeleição neste ano. O nome considerado ideal por aliados de Crivella é o da policial militar e deputada federal Major Fabiana (PSL-RJ). Mulher e militar, dois requisitos visados pelo grupo do prefeito do Rio para compor sua chapa, Fabiana tem a seu favor o fato de integrar a ala bolsonarista do PSL.
Na última quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que cogita retornar ao PSL, partido com o qual rompeu no fim de 2019 para criar sua própria legenda, o Aliança pelo Brasil, que não obteve assinaturas suficientes para ser homologado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, também acenou a aliados de Bolsonaro com uma proposta de paz após o rompimento no fim de 2019.
Major Fabiana chegou a assumir no ano passado uma secretaria no governo de Wilson Witzel (PSC), atual desafeto do presidente. A deputada se licenciou do mandato em Brasília para comandar a pasta de Vitimização e Amparo à Pessoa com Deficiência em agosto de 2019, quando o relacionamento entre Witzel e Bolsonaro já não era dos melhores. Ela deixou o cargo em outubro, após o rompimento definitivo entre governador e presidente, e passou a atuar pela criação do partido Aliança pelo Brasil.
— Quem decidirá se serei ou não candidata a vice na chapa do Crivella é o meu líder Flávio Bolsonaro. Eu vinha num processo de expulsão do PSL, mas tenho muitos amigos no partido, como o Sargento Gurgel (presidente do partido no estado) e o Antônio Rueda (vice-presidente nacional da sigla). Se o Flávio achar que, para impedir que o Eduardo Paes (DEM) vença a eleição e faça no Rio palanque para o João Doria (PSDB) para a Presidência em 2022, é importante que eu seja candidata a vice, serei. Mas isso ainda precisaria ser construído dentro do PSL — disse Major Fabiana.
Com a última pesquisa Datafolha, em dezembro, revelando uma imagem desgastada de sua gestão, Crivella tem procurado reforçar sua associação com Bolsonaro como parte de sua plataforma de campanha. E atraiu para seu partido o vereador Carlos Bolsonaro, candidato a novo mandato, e o senador Flávio Bolsonaro. Na sexta, Bolsonaro e Carlos acompanharam o prefeito na inauguração de uma escola cívico-militar no Rio, no último dia permitido pela Justiça Eleitoral para esse tipo de evento. Major Fabiana também compareceu ao evento e sentou-se na primeira fila.
Embora tenha se colocado no lado oposto à chamada “ala bivarista” do PSL, Fabiana tem boa interlocução com o presidente do diretório estadual do partido, deputado Gurgel Soares, aliado de Bivar. Até agora, no entanto, Gurgel apoiou a pré-candidatura do deputado estadual Rodrigo Amorim, que apresentou como vice na chapa o também deputado Alexandre Knoploch, presidente do diretório municipal do PSL.
Amorim se adiantou ao período das convenções partidárias, marcadas para setembro, e lançou sua candidatura no início deste mês, em evento que contou com Gurgel e com o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), da ala bolsonarista do partido. Procurado, Gurgel falou que qualquer mudança de rumo teria que passar pelo crivo da executiva nacional. No sábado, ele esteve com Crivella em evento na Brigada Paraquedista, no Rio, que também contou com a presença de Bolsonaro.
— A reabertura do diálogo do PSL com o Bolsonaro é extremamente saudável. Admiro a Major Fabiana, mas uma decisão como essa, de compor a chapa do Crivella, precisaria passar pelo crivo da executiva nacional, que dá a palavra final em todas as capitais. Apesar de o Crivella ter se aproximado do Jair e do Flávio, imagino que o prefeito está com uma imagem muito desgastada. Isso precisa ser avaliado — disse Gurgel.
Aliados de Amorim admitem uma reaproximação entre PSL e bolsonaristas, mas acreditam que o diretório estadual do partido não vai abdicar de uma pré-candidatura própria. Na semana passada, a Justiça notificou Amorim sobre uma ação movida por Flávio Bolsonaro para impedir o ex-aliado de usar nas redes sociais fotos ao lado do senador e do presidente. Flávio rompeu com Amorim após o deputado optar pela canoa de Witzel na briga entre o governador e Bolsonaro.
Por se tratar de um órgão provisório, o diretório do PSL pode ser destituído por determinação de Bivar, presidente do partido, segundo as regras do estatuto. Foi assim, por exemplo, que Bivar retirou Flávio Bolsonaro da direção no fim de 2019 e entregou o comando a Gurgel.
Na sexta, Bivar disse ao GLOBO que não tomará sozinho decisões que envolvam a reaproximação do PSL com Bolsonaro, como o retorno do presidente à legenda.
— Nenhum deputado pode falar em nome do partido, inclusive eu, que sou presidente. Eu teria que ouvir a bancada como um todo.