Evangélica, Benedita da Silva defende estado laico
Foto: LULA MARQUES/AGÊNCIA PT
“Mulher, negra e favelada”. Esse já foi o slogan da campanha, nos anos 1980, quando Benedita da Silva (PT-RJ) chegou ao cargo de vereadora no Rio de Janeiro. Hoje, depois de ter sido governadora do estado, senadora e atualmente, ocupar o cargo de deputada federal, ela é pré-candidata a prefeita da capital fluminense como um dos maiores nomes do partido.
Evangélica, Bené, como é conhecida, entra na disputa com chances de polarizar com o atual prefeito, Marcelo Crivella (PRB), também evangélico. Em entrevista ao Metrópoles, ela aponta uma de suas principais diferenças com o bispo da Igreja Universal.
“Ele tem confundido a tribuna com o púlpito. Ele não tem a laicidade necessária na gestão pública”, destacou.
“Não governamos para prédio, governamos para as pessoas que moram no prédio. Nós não governamos para a igreja, governamos para quem vai à igreja, ou que vai para o terreiro, ou para quem vai para o carnaval, ou para quem não tem religião nenhuma. Há sim uma diferença de gestão da qual eu já tenho comprovado que em nenhum momento abri mão da minha fé ou da política que eu acredito. Nem mudei de partido, evidentemente, por conta da minha fé. Nem minha fé nem minha política existem em mim em contradição para governar a cidade”, disse Benedita, antecipando o que deverá ser a tônica de seu discurso na campanha.
Benedita foi autora do questionamento que levou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a decidir que a divisão de recursos para financiamento de campanhas e o tempo de propaganda no rádio e TV terão que ser divididos proporcionalmente entre candidatos negros e brancos nas eleições de 2022. Após a decisão, ela acabou sofrendo ataques racistas nas redes sociais, contra os quais, tomou providências jurídicas.
“Essas manifestações são racistas. Elas existem, são reais”, destacou a deputada, que acredita que a pandemia teve o efeito e exacerbar o racismo e a desigualdade social no pais.
“Essas pessoas não leem, não sabem, e se incomodam, neste momento, por saber que mulheres negras podem estar ocupando lugares que tradicionalmente eram considerados apenas para o mundo masculino e branco”. destacou. “É como a política de cotas: parece que nós estamos tomando o lugar indevidamente de alguém que há séculos está lá, e, no momento em que a gente reivindica, tem essa manifestação horrível, racista. Ao mesmo tempo, didaticamente, como eu digo, devemos denunciar”, enfatizou.
A petista não se furtou a falar sobre pontos importantes que perpassam a vivência em muitas igrejas. Uma delas é a questão do aborto. Ao comentar o caso da menina de 10 anos estuprada pelo tio, e que passou por diversos constrangimentos e exposições para ter acesso ao aborto previsto na lei, ela foi enfática: “Crianças cuidam de bonecas, não de crianças”, ressaltou, dizendo-se “sem nenhuma dor de consciência”.
Ela também não poupou de críticas a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, que teve uma atuação desastrosa na condução do caso. “Péssima atuação, digo com responsabilidade cristã e como mulher. Mas digo mais, a Damares não sabe o que é ser estuprada, ela não sabe as marcas que ficam”, destacou.
A Damares não disse que menina veste rosa?”, questionou. “Então, menina brinca com boneca. E, nessa hora, essa menina tem que brincar com um menino e não tem nada de rosa para ela, porque ela estava estuprada, ensanguentada, em uma situação bárbara.”