Fantástico detalha crimes bolsonaristas na internet
Foto: Pedro Teixeira / 24-11-2018 / Agência O Globo
Páginas na internet com conteúdo bolsonarista removidas pelo Facebook no último dia 8 tentavam manipular discussões na rede, difundiam fake news e atacavam adversários da família Bolsonaro. O “Fantástico” da TV Globo divulgou neste domingo parte do conteúdo das contas. Entre os administradores dos perfis está o assessor especial do presidente Jair Bolsonaro, Tércio Tomaz, que trabalha no Palácio do Planalto. Além de uma conta pessoal, o assessor mantinha outras duas, anônimas, chamadas de Bolsonaro News.
Tércio é acusado por parlamentares de integrar o gabinete do ódio — grupo suspeito de promover ataques virtuais a desafetos dos Bolsonaro. Na página Bolsonaro News, Tércio se dedicou a atacar adversários políticos, principalmente o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. A conta também publicou notícias falsas sobre a pandemia do coronavírus.
Na página, o assessor postou um vídeo em que tira de contexto uma entrevista do diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o isolamento social. No mesmo dia, Bolsonaro compartilhou o vídeo, dizendo que a OMS defendia a reabertura das cidades. No dia seguinte, foi desmentido pelo diretor da OMS.
Segundo o “Fantástico”, a página postou fake news sobre o governador e o prefeito de São Paulo: “João Doria e Bruno Covas mandam abrir covas para imprensa fotografar”.
A investigação apontou que a rede de contas falsas era operada por dois assessores ligados ao deputado federal Eduardo Bolsonaro deles é Eduardo Guimarães, alvo da CPI das Fake News, por ter usado um computador da Câmara dos Deputados pra criar a conta de ataques virtuais Bolsofeios.
O outro assessor é Paulo Eduardo Lopes, o Paulo Chuchu. Ex-policial militar, ele trabalhou no gabinete de Eduardo Bolsonaro até junho. Paulo teve seis contas derrubadas. Quatro se passavam por redações jornalísticas, como The Brazilian Post, The Brazilian Post ABC e Notícias São Bernardo do Campo.
Outro assessor que mantinha pelo menos oito páginas inautênticas era Leonardo Rodrigues de Barros. Ele trabalhava para deputada estadual Alana Passos (PSL), aliada da família Bolsonato. O presidente chegou a gravar um vídeo para uma dessas páginas:
“Leonardo, parabéns pela página Bolsonéas. Está fazendo um trabalho excepcional, ficou muito feliz. Estamos juntos, tá ok?”, disse Bolsonaro.
Na página Bolsonéas havia mais fake news sobre a pandemia, culpando governadores e dizendo que a cloroquina cura a Covid-19. O medicamento que não teve a eficácia comprovada. E chamava Sergio Moro de “fofoqueiro”, depois que ele pediu demissão.
Publicações da Bolsonéas eram as mesmas do site Jogo Político, também criado por Leonardo. As contas do Jogo Político no Facebook e no Instagram foram tiradas do ar. Hoje Leonardo tem pelo menos duas páginas ativas no Facebook, onde compartilha o mesmo tipo de conteúdo.
Postagens feitas por Leonardo eram compartilhadas pela noiva, Vanessa Navarro, assessora do deputado estadual Anderson Moraes (PSL). Sete páginas ligadas a Vanessa foram derrubadas. Os nomes eram parecidos, apesar de pertencerem à mesma pessoa — uma prova, segundo o Facebook, do comportamento enganoso.
O histórico de postagens mostra uma série de fake news nas eleições de 2018. Na campanha, a página Bolsonaro News disse que a candidata Marina Silva defendia a legalização do aborto, o que não era verdade. Contra Fernando Haddad, são várias postagens que misturam críticas e fake news, como a que vincula o petista a um suposto kit gay.
Bolsonaro e os filhos Eduardo e Flávio e Tércio Tomaz não retornaram ao “Fantástico”. A defesa de Paulo Eduardo Lopes afirmou que ele “jamais administrou qualquer página de conteúdo jornalístico”. O advogado de Leonardo Barros disse que “não há qualquer fundamento” nas investigações. Alana Passos disse que “não responde por aquilo que servidores publicam em suas redes sociais pessoais”. Vanessa Navarro classificou a exclusão da conta como “atentado à liberdade de expressão”. Anderson Moraes afirmou que a derrubada das páginas configura censura prévia.