Governador do RS diz que Bolsonaro quis “constranger” colegas
Foto: Gustavo Mansur / Agência O Globo
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), acusou o Palácio do Planalto de fazer um “estranho recorte” em ranking que associa números absolutos da Covid-19 a governadores com o objetivo de, na avaliação dele, “gerar constrangimento”. Se considerado o tamanho da população, de acordo com Leite, o Rio Grande do Sul estaria em segundo lugar entre os estados com menor incidência de casos por 100 mil habitantes (738,6 registros).
Já no levantamento
do governo federal, o estado aparece numa lista de “top 5” de “novos casos” e de “novos óbitos” registrados no último sábado. O documento feito pela Secretaria de Governo da Presidência da República, comandada pelo ministro Luiz Ramos, coloca ao lado de cada estatística o nome dos governadores. A maior parte deles adversários políticos do presidente Jair Bolsonaro.
O Palácio do Planalto emitiu “nota” com relação de óbitos e casos nos estados com estranho recorte de dados, colocando nomes de governadores para tentar gerar constrangimento. Eis o dado real de taxa de incidência de acordo com a população nos estados no periodo da pandemia. pic.twitter.com/x2ZwciB68B
— Eduardo Leite (@EduardoLeite_) August 11, 2020
“O Palácio do Planalto emitiu ‘nota’ com relação de óbitos e casos nos estados com estranho recorte de dados, colocando nomes de governadores para tentar gerar constrangimento. Eis o dado real de taxa de incidência de acordo com a população nos estados no periodo da pandemia”, escreveu nas redes sociais, apontando cinco estados com as menores taxas, entre os quais o Rio Grande do Sul, na segunda posição. “A fonte é o próprio Ministério da Saúde. Mas os dados neste formato o governo federal prefere não destacar”, completou o governador.
A Presidência enviou o documento a congressistas na última segunda-feira. O “top 5” com os nomes de governadores causou mal-estar entre os parlamentares, que viram no documento uma tentativa do governo federal de se eximir das responsabilidades pelos mais de 100 mil mortos pela Covid-19, além de uma forma de atacar inimigos políticos usando a pandemia.
O único nome de chefe de Executivo local que foi omitido no documento foi o de Ibaneis Rocha (MDB), que governa o Distrito Federal e vem se alinhando a Bolsonaro nos últimos meses. No ranking do “top 5” de municípios com mais casos da Covid-19, aparece apenas “Brasília”, sem o nome de Ibaneis. Ele comanda o Distrito Federal, que não conta com municípios.
Desde o início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro vem travando disputas com governadores. O principal antagonista é João Doria, governador de São Paulo, que teve o nome destacado no topo dos rankings elaborados pelo Planalto, tanto de “novos casos” quanto de “novos óbitos” registrados no último sábado. Foi o dia em que o país ultrapassou a marca das 100 mil mortes, reforçando as cobranças sobre o governo federal.