Gravidez poderia matar menina de dez anos
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O caminho que leva uma menina de 10 anos à sala de parto pode ser o seu corredor da morte. Aqui faço o exercício cirúrgico de catar nos escombros da infância — já soterrada, se uma criança vai dar à luz outra criança depois de ser abusada —, só aquilo que pode acontecer com o organismo. Isto é, quando aqueles que são insensíveis à alma dilacerada, mas que ousam pregar a sua salvação, levam uma menina de 10 anos a enfrentar uma gravidez até o final.
Talvez se pergunte por que insisto no tema. Afinal, a menina de 10 anos já está em casa e acabou. E então vou lhe dizer: ela foi para a sua casa assim como outras tantas meninas de 10 anos, aí é que está. Eu me refiro àquelas que não morreram no parto e àquelas que fizeram um aborto em centros de referência, já que o Código Penal, desde 1940, classifica como estupro o sexo com menor de 14 anos, mesmo que a adolescente tenha aceitado a relação.
Cada país classifica a adolescência de um jeito. Para a Organização Mundial de Saúde, ela vai dos 10 aos 19 anos. Mas os quatro primeiros — entre os 10 e os 14— englobam o que se chama de primeira adolescência. “Especialmente nessa etapa, do ponto de vista biológico, o organismo está longe de sua maturidade para suportar as alterações de uma gravidez”, avisa o médico Robinson Dias de Medeiros, presidente da Comissão Nacional Especializada em Violência Sexual e Interrupção Gestacional Prevista em Lei da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
Quanto mais nova é a menina abaixo dos 16 anos — imagine aos 10! —, maior o risco dessa gravidez. “Ele é, no mínimo, cerca de cinco vezes mais elevado em comparação com jovens que engravidam depois dos 20”, calcula o doutor Medeiros.
Redação com Uol