Ninguém queria ficar perto de Bolsonaro, diz cineasta
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Quando o diretor alemão Marcus Vetter viu Jair Bolsonaro isolado em meio aos mais importantes líderes internacionais do mundo no Fórum Econômico Mundial de 2019, em Davos, teve a certeza que ele seria um personagem central em seu documentário “O fórum”. Ao saber que a cena em que presidente brasileiro trava um diálogo constrangedor com Al Gore sobre a Amazônia viralizou nos últimos dias no Brasil, Vetter afirma: “é uma das partes que melhor expressam a ideia do filme de como as elites têm dificuldades de dialogar com esses novos líderes extremistas”.
Para o mesmo documentário, disponível no Brasil em plataformas de streaming desde a semana passada, ele já havia mirado as lentes de sua câmera em outros políticos que se dizem antissistema na edição do Fórum de 2018, como o presidente americano Donald Trump ou a primeira-ministra britânica Theresa May. E viu no brasileiro, debutante em Davos no ano seguinte, mais um “símbolo desses nossos tempos de crise da democracia”, como enfatizou diversas vezes em entrevista por telefone ao GLOBO. Leia a entrevista completa aqui.
Um trecho do seu filme em que Bolsonaro conversa com Al Gore viralizou no Brasil. O que acha dessa cena e que papel ela tem no documentário?
Bom, em primeiro lugar fico contente que a produção esteja fazendo sucesso no Brasil (risos). Essa é uma cena central para a ideia do filme. Esse é um filme sobre as elites e como homens com Bolsonaro são um sinal dos nossos tempos. As pessoas estão furiosas com essas elites, com o establishment, e por isso votam em políticos como ele, como forma de protesto.
E de cara eu vi que Bolsonaro seria uma espécie de guia para essa leitura que propomos de Davos. Chegamos com a câmera e um captador de som de 3 metros perto dele e perguntamos se poderíamos filmar. Com ajuda de um tradutor, Bolsonaro respondeu: “Claro, sem problemas”. Ele estava isolado. Ninguém queria ficar perto do Bolsonaro.
Assim que ligamos o som e o vídeo apareceu o Al Gore e perguntou sobre uma pessoa que Bolsonaro disse ser seu inimigo (Alfredo Sirkis). Eu não sei se o Al Gore fez aquilo de forma proposital, como uma plataforma pessoal, já que ele viu a camêra e é um conhecido ativista do clima, ou se foi só uma gafe.
Na tela é visível o clima de constrangimento na conversa entre os dois. Como foi ver isso ao vivo?
Bom, essa tensão expressa muitas camadas do que se passou ali em Davos. Em outro momento a Jennifer Morgan, diretora do Greenpeace, grande porta-voz internacional, tenta falar com Bolsonaro. Quando ela se aproxima, ele a ignora e a repele imediatamente. E isso mostra como é difícil a diplomacia com este tipo de pessoa.