Pazuello critica vacina russa e elogia a britânica
Foto: José Dias/PR
Ministro interino da Saúde, o general Eduardo Pazuello afirmou que ainda são “muito incipientes” os resultados relativos à vacina desenvolvida pela Rússia para a covid-19. Ele relatou que participou ontem de uma videoconferência com o governo do Paraná e representantes dos desenvolvedores da vacina russa. O acordo entre o Estado e os russos foi fechado ontem.
“Está muito incipiente, não temos profundidade nas respostas, acompanhamento nos números. Pode até haver tudo isso, mas ainda vai ter muita negociação para que possamos discutir a compra”, pontuou Pazuello. “Sim, estamos atentos à vacina russa, caso a prospecção seja positiva, devemos participar”, acrescentou.
O ministro interino ressaltou que a vacina desenvolvida pela Astrazeneca em parceira com a Universidade de Oxford é a opção mais factível no curto prazo. “Todas as vacinas devemos estar acompanhando, parceiros e com opção de compra. Ontem recebi a Covax, vai ficar pronta no terceiro ou quarto mês de 2021. Posso afiançar que a da Astrazeneca com Oxford é ainda nossa melhor opção. Vamos fazer a contratação até sexta-feira que vem, com empenho de recursos junto à Fiocruz. Essa é a mais promissora, mas não deixamos de estar atentos a todas as outras”, disse.
“Acompanhamos em São Paulo [que receberá 15 milhões de doses da chinesa Corovac], acho que tudo fará um resultado campeão no final”, concluiu.
Sobre a distribuição de uma futura vacina, o ministro interino previu que ela deve começar pelo “centro-norte” – possivelmente se referindo às regiões do Centro-Oeste, Norte e Nordeste. “A campanha de vacinação vai começar pelo centro-norte, pela simples razão de que ali vai estar iniciando novamente as contaminações virais”.
Ao participar de reunião com a comissão mista voltada a ações de combate à pandemia no Congresso nesta quinta-feira, Pazuello omitiu a deputados e senadores o número de mortos e infectados no Brasil pela pandemia de covid-19.
O ministro interino repetiu exatamente o discurso feito no encontro semanal promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ocorrido hoje mais cedo, preferindo ressaltar o número de pessoas recuperadas do coronavírus. “Até o final do dia de ontem, o Brasil contabilizava 2.309.477 casos recuperados de covid-19. Estamos entre os líderes mundiais em pacientes recuperados, o que evidencia o acerto das ações do governo brasileiro em resposta à pandemia”, afirmou Pazuello, lendo exatamente o mesmo discurso feito à OMS.
O total de óbitos provocados pelo coronavírus no Brasil é de 104.263. Os casos confirmados somam 3.170.474. Os dados foram divulgados pelo consórcio de imprensa ontem à noite.
Falando aos parlamentares remotamente, Pazuello está acompanhado de seis auxiliares. Ele, sem máscara, e os demais usando o acessório. O ministro interino afirmou que sua Pasta tem procurado dar transparência às ações, em especial através do portal do ministério. “Apresentamos os dados, todas as curvas [de contágio]. Essa transparência tem sido exemplo para o mundo”, opinou.
Segundo Pazuello, foram enviados até o momento cerca de 5 milhões de doses de cloroquina e derivados, sempre por requisição dos entes federados. “Nós atendemos demandas, não enviamos sem demanda”.
Ele afirmou que o estoque da medicação do governo federal voltado ao combate à covid-19 está zerado. “Estoque é zero. Hoje existem 4 milhões de comprimidos produzidos pela Fiocruz aguardando negociação de preço. Temos uma demanda reprimida de mais de 1,6 milhão para Estados e municípios. A demanda é real, mas o estoque é zero”, disse.
O ministro disse que o que existem são 2 milhões de unidades doadas pelos EUA, que ainda precisam ser colocadas em cartelas e separadas com a dosagem adequada, e outras 300 mil para atender casos de malária – no qual a eficiência do medicamento é comprovada, ao contrário do que ocorre com o coronavírus.
Questionado sobre a situação em que o país estará no final do ano, Pazuello tergiversou, evitando projeções numérica e focando na “mudança de hábitos” que será necessária daqui para frente. “Essa é a pergunta do milhão. Não existe fim para o coronavírus, vai viver conosco. A última pandemia foi a do HIV. Isso trouxe o que para nós? Uma mudança de hábitos. Assim nossos hábitos vão mudar”, disse.
“Antes, quando uma pessoa da nossa equipe espirrava, a gente dizia ‘saúde’. Hoje ele quase apanha. É um hábito, não espirre, guarde o seu espirro para você mesmo ou saia lá fora. Vamos ter que ter o hábito de evitar aglomeração, indústrias vão ter que pensar num afastamento maior na produção. Vamos chegar no final de ano com essas mudanças de hábito”.
A mudança na estratégia de diagnóstico também foi apontada pelo ministro. “O diagnóstico agora é do médico, e esse diagnóstico vai ser complementado, em alguns casos, com testes. Sem diagnóstico o teste é feito no momento errado. Por isso vemos tanta discussão sobre diagnóstico e teste”, disse.