Pazuello entrega comando Militar e pode ficar no cargo
Foto: Jorge William/Agência O Globo
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, viajou ontem a Manaus para entregar o comando da 12ª Região Militar, cargo que ainda acumula juntamente com a pasta. A passagem de bastão cristaliza sua permanência à frente do ministério, após um período de pressões da cúpula do Exército para que deixasse o posto, por ser um general da ativa.
Pazuello, entretanto, não pretende passar à reserva. Segundo pessoas próximas a ele, o ministro entende que ainda tem uma carreira pela frente, apesar de não poder atingir o status de general de quatro estrelas, o mais alto da corporação.
Pazuello, afirmam aliados, tem ciência de que sua situação no governo, hoje considerada estável, pode mudar rapidamente, ao sabor da política.
A permanência do general à frente da pasta esteve seriamente ameaçada na primeira quinzena de julho, quando o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse que o Exército estava se “associando a um genocídio”, em referência à condução da crise do coronavírus pelo governo de Jair Bolsonaro.
A fala aumentou as pressões para que Pazuello e o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo (Segov), passassem à reserva. Segundo fontes do Palácio do Planalto, Bolsonaro chegou a avisar Pazuello de que estava em busca de um substituto para ele, e uma terceira troca no comando da Saúde acabou não acontecendo por pouco.
De acordo com relatos, no entanto, as pressões vêm diminuindo nas últimas semanas. Um telefonema de Gilmar para Pazuello, explicando que o alvo de suas críticas era o presidente, não o ministro, ajudou a aliviar o desconforto do general.
Além disso, o incômodo maior do generalato era com a situação de Ramos, responsável pela articulação política e pela negociação no varejo com parlamentares sobre emendas e cargos no governo. Ramos passou à reserva na semana passada, quando tirou férias com esse fim.
A última pesquisa Datafolha, que mostrou uma popularidade recorde de Bolsonaro, contribuiu também para dar firmeza à situação de Pazuello. Com o prestígio em alta, apesar da polêmica condução que tem dado à pandemia, o presidente acredita que uma nova troca no Ministério da Saúde só lhe traria desgaste, com poucos benefícios.
Pazuello foi precedido por Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Os ministros deixaram o cargo em meio à crise provocada pela covid-19 por não baixarem a cabeça para as ordens de Bolsonaro, sobretudo em relação ao uso da cloroquina.
Com sua cabeça militar, Pazuello não contesta as ordens do chefe, embora em privado lamente a politização em torno do medicamento. Trabalha como um gestor da infraestrutura do combate à doença. Sua articulação com Estados e municípios tem sido elogiada por governadores, mesmo de oposição, além de secretários de Saúde e parlamentares – apesar de ser alvo de críticas por não possuir nenhum vínculo com a área da Saúde.
Outro fator de estabilidade para o ministro é o fato de o Centrão, que recentemente aderiu ao governo e virou seu principal esteio no Congresso, não reivindicar o posto, apesar do Orçamento bilionário. Dentro do Planalto e no Ministério da Saúde, avalia-se que seria um fardo assumir a pasta neste momento, em que o coronavírus ainda mata cerca de mil pessoas por dia no país. Mas ninguém duvida que, quando o pior da crise passar, a política passe a cobrar também o cargo de Pazuello.
Esse raciocínio casa bem com os planos do general. Ele pretende permanecer ministro até o fim da pandemia, algo que encara como uma “missão” que lhe foi dada pelo presidente. Segundo fontes, somente depois da crise ele reavaliará sua situação, mas a tendência é mesmo que deixe o posto para retomar sua carreira militar.
Pazuello atuou como coordenador das tropas do Exército na Olimpíada do Rio, em 2016, e foi coordenador da Operação Acolhida, montada parar receber as crescentes levas de imigrantes venezuelanos que chegavam pela fronteira em Pacaraima (RR).
O general chegou ao ministério da Saúde no final de abril, para ser secretário-executivo do então ministro Nelson Teich.
Nas palavras de um auxiliar, “ele não veio para ser ministro; veio para reestruturar o ministério”, por isso não tem apego ao cargo.
Oriundo do Serviço de Intendência da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Pazuello jamais poderá ser um general de Exército, ou de quatro estrelas. Assim, não está habilitado a assumir um comando militar ou participar das reuniões de alto comando. Porém ainda há postos que pode ocupar, como o comando de regiões militares e diretorias dentro da corporação.
O general Pazuello se despedirá da 12ª Região Militar Mendonça Furtado na próxima quinta-feira, às 16 horas, em uma cerimônia em Manaus. Em seu lugar, assume o também general de divisão Edson Skora Rosty.