Políticos têm visão errada sobre o Meio Ambiente, dizem especialistas
Foto: Daniel Teixeira/Estadão
A classe política ainda não se deu conta de que a sustentabilidade deve ser vista de uma forma integrada a todos os outros temas na cidade, de acordo com integrantes da Rede Nossa São Paulo que participaram de um debate da série “Retomada Verde” do Estadão.
“Antes da pandemia, já havia uma agenda mostrando caminhos, como o Acordo de Paris, uma nova agenda urbana, elementos importantes” afirmou Jorge Abrahão, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis em entrevista aos repórteres Marcelo Godoy e Paula Reverbel. “A pandemia escancara os problemas, mas política ainda não incorporou uma visão integrada, vê o meio-ambiente como uma caixinha isolada. A natureza perpassa todas as políticas de uma cidade. Ela se relaciona com tudo que fazemos.”
Ele também falou sobre o plano de metas lançado no último dia 18 em parceria com a Fundação Tide Setúbal, direcionado aos pré-candidatos a prefeito na cidade de São Paulo. Divididas em três eixos, as propostas buscam atender às necessidades reais da cidade para reduzir o abismo existente entre pobres e ricos na capital de forma sustentável.
“Prefeitos têm a tentação de fazer planos de metas com baixa ambição”, diz Abrahão. “Em São Paulo já foi assim. Digo ‘baixa ambição’ no sentido de que é uma cidade rica, capaz de avançar. Queremos criar uma régua. A ideia é criar uma visão de longo prazo, que possamos ver a cidade em 2030.”
Abrahão disse ver abertura tanto à direita quanto à esquerda em relação à pauta verde, mas vê ainda a falta de compreensão de que os temas devem ser centrais nas agendas. “Essa agenda via de regra acaba sendo relegada a um segundo plano. Não é só você plantar árvores, é também isso. Mas é uma visão que você tem de cidade em vários temas: produção, consumo, mobilidade.”
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— Estadão (@Estadao) August 27, 2020
Um dos coordenadores do Grupo de Trabalho Meio Ambiente da Rede Nossa São Paulo e idealizador da Campanha Sou Resíduo Zero, o engenheiro Fernando Beltrame afirmou que a consciência ambiental é também um exercício de empatia e de compreensão de uma visão integrada. “As açoes da rede Nossa SP partem da empatia. É importante se colocar na posição de outras pessoas e tomar ações”, disse o engenheiro, que integrou a delegação brasileira que foi à Conferência do Clima da ONU – COP 18, no Qatar.
“Quando se fala de mudança climática, parece que é só desmatamento, mas isso pode estar ligado a transporte, mobilidade, emprego”, disse Beltrame. “Se você compara a disponibilidade de emprego no centro ou na periferia, a diferença é enorme. Se não trabalha isso, tem a questão do deslocamento, a queima de combustível, emissão de CO2.”
Os eixos de atuação propostos no plano de metas da Rede Nossa São Paulo são baseados em políticas econômicas, sociais, educacionais, de mobilidade e ambientais. O primeiro deles trata de metas para criar oportunidades e construir uma nova economia. O segundo foi chamado pelos seus criadores de ‘Cuidar e Educar” e, por fim, o terceiro trata da convivência e da aproximação entre os moradores da metrópole. O plano está disponível no site da entidade.
O debate integra a série de lives do Estadão sobre a Retomada Verde, que vai abordar temas como mudanças climáticas, políticas, sustentabilidade, cidades e crescimento econômico e desigualdade e explicar suas interligações.