Secretário de Doria preso é próximo a Carlinhos Cachoeira

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Foto: Olga Vlahou / Agência O Globo

Preso na manhã desta quinta-feira, acusado de ligação com o pagamento de propinas no setor da saúde, o secretário de Transportes de São Paulo, Alexandre Baldy, é citado em escândalos de corrupção em Goiás desde 2012. Baldy e seus familiares já foram investigados por ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira durante sua atuação como Secretário da Indústria e Comércio do estado, entre 2010 e 2012.

Baldy e seu sogro, Marcelo Limírio Gonçalves, foram citados no relatório final da CPI que investigou Cachoeira. O bicheiro também é tio da mulher de Gonçalves.

Marcelo Limírio Gonçalves é empresário do ramo farmacêutico, ex-sócio da Hypermarcas, e da Neoquímica, empresas de medicamentos. Em 2014, ele apareceu na lista da Forbes como um dos bilionários brasileiros. A Hypermarcas já foi citada em investigações da Operação Lava-Jato.

A ascensão política de Baldy foi, em grande parte, financiada pelo seu sogro, que fez doações milionários para suas campanhas em Goiás.

O relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou os crimes cometidos por Cachoeira apontou supostas condutas criminosas praticadas por Baldy enquanto era secretário da Indústria e Comércio em Goiás, mas o texto foi reprovado pelos deputados na CPI. O documento destacava a proximidade e influência de Carlinhos Cachoeira sobre Baldy, mas não encontrou evidências ou indícios de pagamentos a Baldy.

“Muito embora haja suspeitas de que o Secretário Alexandre Baldy recebesse recursos periódicos do chefe da Organização Criminosa, nossa investigação não logrou identificar evidências ou indícios que pudessem asseverar a existência dessa realidade, de modo que caberá ao Ministério Público do Estado de Goiás continuar essa linha de investigação”, afirma o texto.

De acordo com o documento, embora não tenha agido com “a mesma desenvoltura” que outros secretários em prol da quadrilha de Cachoeira, Baldy teria prestado “relevantes serviços à organização criminosa”.

“É genro do empresário Marcelo Limírio e amigo pessoal de Carlos Cachoeira. Com efeito, as interceptações telefônicas colhidas no bojo da Operação Monte Carlo apresenta Alexandre Baldy colaborando em diversos pontos com a Organização Criminosa, seja facilitando ou executando, diretamente, nomeações em sua secretaria que atendem aos desideratos do líder da quadrilha, seja encaminhando pleitos econômicos do grupo criminoso em outras searas, tudo de modo a facilitar tanto a prática das ações ilícitas, quanto o êxito e a continuidade das condutas criminosas”, afirma o relatório, produzido pelo deputado Odari Cunha (PT-MG) em 2012.

No relatório, Baldy é apontado como o responsável por orientar dois procuradores do estado de Goiás a prejudicar uma transportadora a pedido de Carlinhos Cachoeira. As interceptações telefônicas revelam a proximidade entre Baldy e o bicheiro.

CARLINHOS: Tá em GOIÂNIA?

BALDY: Tô em GOIÂNIA.

CARLINHOS: Amanhã cê vai tar por aí?

BALDY: Vô tá aqui.

CARLINHOS: Ah tá. Encontrar com você.

BALDY: Então me liga.

CARLINHOS: Quero falar sobre o PV, tá bom?

BALDY: Fechado, me liga. E eu preciso falar um negócio com você pra você dar uma aliviada.

Em sua conclusão, o relatório afirma que não é exagerado afirmar que as circunstâncias ligam diretamente o secretário à condutas ilegais que beneficiaram interesses do grupo de Cachoeira e, embora não tenha conseguido confirmar o recebimento de propina por parte de Alexandre Baldy, o acusa de formação de quadrilha e advocacia administrativa.

O relatório foi rejeitado na CPI do Cachoeira em 2012 e nenhuma das investigações avançaram. Baldy foi eleito deputado federal e, em 2017, indicado para o Ministério das Cidades do governo Michel Temer. Em 2019, foi nomeado para a Secretaria de Transportes do governo João Doria.

Em 2017, Baldy também foi citado pelo operador Lucio Funaro em sua delação premiada, que apontou um suposto favorecimento de Baldy à Hypermarcas, ex-empresa de seus sogro.

A operação do MPF, deflagrada nesta terça-feira, investiga pagamentos de propina a agentes que intercederam em favor de uma organização social responsável pela gestão de hospitais em Goiás entre 2010 e 2017.

Em nota, a assessoria do secretário afirmou que Alexandre Baldy tem sua vida pautada pelo trabalho, correção e retidão. “Foi desnecessário e exagerado determinar uma prisão por supostos fatos de 2013, ocorridos em Goiás, dos quais Alexandre sequer participou. Alexandre sempre esteve à disposição para esclarecer qualquer questão, jamais havendo sido questionado ou interrogado, com todos os seus bens declarados, inclusive os que são mencionados nesta situação. A medida é descabida e as providências para a sua revogação serão tomadas”.

O Globo