Tipo sanguíneo não interfere em contágio por covid19
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Um levantamento com brasileiros que fizeram exame para Covid-19 sugere que não há diferenças de suscetibilidade à doença de acordo com o grupo sanguíneo, ao contrário do que indicaram pesquisas em outros países. Realizada pela rede privada de exames clínicos Dasa, a análise buscava entender se existia no Brasil a mesma tendência apontada em um estudo europeu recente, que sugeriu maior propensão à infecção em pessoas do sangue A, e menor em pessoas do sangue O, e que foi publicado em junho na revista científica New England Journal of Medicine.
A associação entre vulnerabilidade ou proteção por grupo sanguíneo, dizem os pesquisadores brasileiros, não se repetiu entre a população estudada aqui.
Os responsáveis pelo estudo selecionaram 6.457 pessoas que tinham feito teste na Dasa tanto de tipagem sanguínea quanto para coronavírus, seja por swab nasal, o chamado PCR, ou sorológico, de sangue. O grupo incluía pessoas dos tipos sanguíneos A, B, AB e O.
Dessa amostra, 4.420 tiveram resultado negativo, e 2.037 foram positivos para Covid. Mas os pesquisadores não encontraram dados que sustentassem um papel relevante do grupo sanguíneo na distribuição entre resultados positivos ou negativos.
“Independentemente do grupo sanguíneo, 30% em média de pessoas de cada tipo davam positivo. Isso indica que não houve influência estatisticamente significativa dos grupos sanguíneos sobre a chance de infecção”, conta José Eduardo Levi, responsável pelo estudo e pela área de Pesquisa e Desenvolvimento da Dasa.
O estudo se baseou apenas em resultados positivos ou negativos, sem avaliação da gravidade entre os infectados.
A expectativa no início, admite Levi, era que o levantamento reforçasse a tendência verificada tanto no estudo publicado na New England Journal of Medicine quanto em estudo anterior feito em Wuhan, na China, berço da epidemia do novo coronavírus.
Historicamente, afirma, pesquisadores estudam a relação entre imunidade e grupo sanguíneo para várias infecções. Como cada tipo sanguíneo possui antígenos diferentes nas células, acredita-se que as pessoas de diferentes grupos também tenham respostas diversas na recepção de agentes infecciosos.
“Para muitas doenças, existe realmente menor suscetibilidade à infecção em pessoas do grupo O. Mas isso não se demonstrou verdadeiro para Covid com base nos casos que estudamos aqui”, diz Levi.
Levi acredita que pode ter havido algum viés de seleção nos grupos de controle dos estudos estrangeiros. Na Europa, por exemplo, o grupo que mais doa sangue é justamente o O, que foi usado como grupo de controle em relação aos infectados na pesquisa mais recente.
“Pesquisadores de todo o mundo têm buscado respostas em ferramentas genômicas. Sabemos que existem diferenças de suscetibilidade ao vermos casos de pessoas que se expõem e não se infectam, ou de pessoas da mesma idade em que uma evolui com gravidade e a outra tem apenas sintomas leves. São muitas questões envolvidas com o agravamento de uma doença, e não é simples conseguir controlar e associar isso a apenas um aspecto genético”, afirma.
Nos primeiros estudos sobre HIV, lembra, pesquisadores descobriram que determinada mutação poderia explicar por que algumas pessoas expostas ao HIV não se infectavam. No caso da Covid, ainda não há essa resposta.
“De maneira geral, sabemos que existem fatores de risco importantes para a doença, como idade, e comorbidades como diabetes e doenças cardiovasculares. Excluindo isso, o que resta são fatores genéticos, mas ainda não conseguimos provar de que maneira eles são determinantes para Covid”, afirma o pesquisador.
Até agora, a Dasa afirma que já realizou mais de 500 mil exames para coronavírus no Brasil.