Wassef diz que é “coincidência” pagamento de conta do hospital de Queiroz
Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Advogado que defendeu a família Bolsonaro entre o fim de 2018 e junho deste ano, Frederick Wassef falou sobre os principais pontos do relatório do Coaf, enviado ao Ministério Público, que O GLOBO revelou na quarta-feira: o pagamento ao médico que atendeu Fabrício Queiroz no Hospital Albert Eintein, em São Paulo, e os depósitos milionários em sua conta vindos da empresa comandada por sua ex-mulher, Maria Cristina Boner, e da filha dela, Bruna. A Globalweb tem contratos com o governo federal. Sobre os R$ 2,3 milhões recebidos de Bruna Boner, o advogado diz que se tratava da devolução de um empréstimo e da ajuda na compra de um imóvel. Wassef se diz vítima de “maldade” por parte do Coaf e do Ministério Público.
O pagamento de R$ 10,2 mil para o médico Wladimir Alfer, que atendeu Fabrício Queiroz, ocorreu em que data e por qual razão?
Fui operado, internado no Hospital Albert Einstein Morumbi. Fui submetido a uma anestesia geral e fiquei lá por mais de quatro dias. O médico que cuidou deste procedimento foi o doutor Wladimir Alfer. Fui submetido a uma biópsia da minha bexiga. Sou um paciente que teve câncer, passei os últimos dez anos da minha vida entrando e saindo de hospital com quatro doenças gravíssimas e raríssimas. Então, em acompanhamento médico, apareceu na minha tomografia computadorizada de abdômen algo que parecia ser um tumor na minha bexiga. Em função deste exame de tomografia, o doutor Wladimir solicitou que eu fosse internado e submetido a essa cirurgia. Foi no finzinho de agosto ou na primeira semana de setembro o meu procedimento médico. E eu só vim a pagar a doutor Wladimir 30 ou 40 dias depois do procedimento, que é esse pagamento aí. A data precisa eu não tenho de cabeça agora.
No dia 30 de agosto de 2019, a revista Veja divulgou na capa imagens de Queiroz no Einstein.
Não tem nada a ver. Uma coisa não tem absolutamente nada que ver com a outra. Não tenho ideia. Eu nunca vi ou encontrei Queiroz no Einstein ou lugar algum em São Paulo.
Mas as imagens são do mesmo período.
Eu já tinha saído do hospital. Tinha tido alta, tinha passado muito tempo e eu vi essa revista Veja nas bancas e eu estava longe do hospital muito tempo. Então, deve ter sido (a biópsia) no começo de agosto ou fim de julho, não lembro. Vou procurar.
O senhor indicou o médico Wladimir Alfer para Queiroz?
Vamos lá. Separe Fabrício Queiroz de Frederick Wassef. São pautas distintas. Sobre Queiroz, eu permiti o uso de minhas propriedades pelos motivos que eu já falei e gostaria de dizer mais o seguinte: o Einstein tem dois, três renomados urologistas. Eles atendem dezenas de mil pacientes. Uma coisa não tem nada que ver com a outra. Nós estamos falando agora de um pagamento e eu não quero derivar para a pauta de Queiroz porque a pauta é a matéria que vocês fizeram e quero focar nisso.
A pergunta é simplesmente se o senhor indicou o médico para o Queiroz.
Não tenho nada que ver com Fabrício Queiroz em dezembro de 2018. Separe as pautas que eu não tenho nada que ver com essa história. Está claro isso? Nós estamos falando do pagamento. Jamais paguei qualquer coisa a Fabrício Queiroz ou qualquer membro de sua família.
O Jornal Nacional ouviu três testemunhas que disseram que o senhor pagou diárias para Fabrício Queiroz em dezembro de 2018 no Hotel Faro em Atibaia. Isso não ocorreu?
Não procedem essas informações, não paguei hotel nenhum para ninguém. E vou dizer mais: me causou muita estranheza um atendente de hotel um ano e sete meses depois da suposta entrada de Fabrício Queiroz comigo lá, segundo ele alegou, ele lembrar o dia que eu entrei, a hora e que eu paguei em dinheiro. Essa pessoa mentiu. Nessa data, eu estava em outro lugar e não entrei nesse hotel e muito menos paguei qualquer coisa, nem para Queiroz nem para ninguém.
Podemos falar agora dos repasses que o senhor recebeu da Globalweb Outsourcing, uma empresa que possui contratos com o governo federal?
Antes eu quero falar do grave crime que o meu escritório de advocacia sofreu e a ameaça que estão fazendo a classe dos advogados e ao advogado no pleno e regular exercício de advocacia. Tive o meu sigilo bancário quebrado de forma ilegal e criminosa. Eles começaram pela pessoa jurídica. A devassa foi no meu escritório e aí foram avançando e fizeram uma série de outros desdobramentos e uma verdadeira investigação e devassa detalhada de cinco anos da minha vida. E eles têm tudo em riqueza de detalhes e vazaram para a imprensa a minha vida, a de terceiros e de meus clientes.
Por qual razão fariam uma devassa na sua vida?
A informação firme e forte que me chegou é que o objetivo dessa quebra é que deram um jeitinho carioca, brasileiro, camarada de investigar o Frederick Wassef. O alvo disso, o objetivo disso, era descobrir se o Fred estava pagando ou patrocinando o Queiroz. Então, eles não podiam me investigar dentro da lei porque eu sempre fui advogado e atuava no regular exercício da advocacia. E o que eles fizeram? Em “off”, membro do MP ligou para os seus colegas camaradas do Coaf e deram o nome do meu escritório, CNPJ, e ali começou uma devassa criminosa. Mas estou tranquilo porque nada existe e nunca existiu. Eles tiveram uma grande decepção, eles descobriram que o Frederick Wassef não pagou ou patrocinou quem quer que seja. Então, agora eles estão pegando informações fora de contexto e omitindo datas e vazando para a imprensa e criando teses para me prejudicar. É um ataque a minha pessoa e o objetivo disso é me incriminar para ato contínuo atingir o presidente da República Jair Messias Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro. Eu estarei acionando e pedindo socorro à PF, à Corregedoria do Coaf em Brasília, ao Conselho Nacional do Ministério Público, à Corregedoria do Ministério Público e até a autoridades internacionais.
O Coaf relata operações suspeitas no relatório. Não existiram movimentações atípicas nas suas contas?
É impossível eu ter caído na malha fina do Coaf porque jamais existiu uma única transação financeira atípica. Então, eu vou provar a maldade que estão fazendo comigo e usando o Coaf de forma irregular. Tentaram fazer prova que eu tinha algo com Queiroz. Não felizes, outros criminosos que fazem parte desse grupo, agora para atingir o presidente (Bolsonaro) de outra forma, querem dizer que eu beneficiei uma empresa e que agora eu estaria recebendo dinheiro dessa empresa em contratos do governo federal.
Por que o senhor recebeu R$ 2,3 milhões da Bruna Boner, sua ex-enteada e sócia da Globalweb Outsourcing, desde dezembro de 2018?
Jamais eu recebi qualquer dinheiro ou vantagem de Bruna Boner ou da referida empresa. O que existe é exatamente o contrário. Fui eu que botei dinheiro na conta da Bruna Boner. Então, existiram algumas operações. Não vou lembrar a data e os detalhes. Mas, resumindo, eu que dei o dinheiro para a Bruna Boner. Houve uma situação de empréstimo, uma outra situação de compra de imóvel e o dinheiro saiu originalmente da minha conta pessoa física para a conta de Bruna Boner e ela foi devolvendo esse dinheiro para mim em 12 ou 13 em parcelas iguais. Desde que Jair Messias Bolsonaro assumiu a presidência, eu jamais recebi qualquer valor das empresas de Bruna Boner e qualquer coisa de Cristina.
Os pagamentos registrados das empresas nas contas do seu escritório de advocacia entre 2015 e 2020 se referem ao quê?
Primeira coisa que eu preciso deixar claro é que eu não tenho de cabeça agora. Eu não sei nem o que vocês estão falando. Não tive acesso ao RIF (relatório de inteligência do Coaf). Mas nada jamais foi recebido, um único real, de nenhuma empresa durante o governo Bolsonaro. Está claro isso? Se existem entradas no passado, certamente foram empréstimos e prestação de serviços advocatícios.
Então, para o senhor existe alguma conspiração entre o Coaf e MP-RJ?
Não é uma conspiração. Assim como vocês tem várias fontes e falam com várias pessoas por um simples celular. Autoridades públicas do Rio de Janeiro também têm relacionamento e celular pessoal de vários agentes públicos. Oras, colegas, membros, autoridades públicas, ligam para agentes públicos do Coaf e pedem um favorzinho para entrar e fazer uma devassa nas minhas contas. Isso foi um trabalho coordenado, orquestrado, para atingir e destruir a vida do Frederick Wassef, para ato contínuo atingir a vida do presidente da República. Mas a minha vida financeira é impecável. Meu escritório é em São Paulo, meu banco é de São Paulo, toda a minha vida é de São Paulo. Tudo é São Paulo e por que mandaram os dados do Frederick para o Rio de Janeiro? O RJ não tem competência alguma. Eles mandaram e eu vou explicar. O Rio vai ser o palco para fazer as maldades comigo, já está tudo combinado entre várias autoridades de várias instituições. Olha que curioso, ninguém em São Paulo recebeu nada e aí para não ficar muito na cara o que eu estou denunciando mandaram também para Brasília.
Quem seriam os responsáveis pela trama contra o senhor?
É óbvio que eu sei quem são, mas neste primeiro momento não vou poder dar nome aos bois. Vou pedir socorro ao poder público e vamos exigir investigação. Mas são os inimigos do governo, do presidente. Querem tentar me envolver e me incriminar com o Queiroz.
Por que o senhor disse tantas vezes que não sabia onde o Queiroz estava e ele estava na sua casa?
Eu disse naquela época e repito hoje: eu não sabia onde o Queiroz estava. Vocês estão confundindo. O ato de eu permitir o uso de uma propriedade é uma coisa, eu saber onde o Queiroz está é outra coisa. O Queiroz era uma pessoa que vivia em trânsito.
E as imagens que mostram que Queiroz e o filho estiveram no apartamento de Maria Cristina Boner, sua ex-companheira? O senhor não estava lá?
Desvincule para todo sempre essa história. Queiroz jamais esteve em qualquer outra propriedade. Ele esteve em Atibaia, no meu escritório. Quando ele veio para São Paulo, ficou num hotel Ibis hospedado, jamais ficou em qualquer outro apartamento. Essas fotos não têm nada que ver, nao sei que fotos são essas, não tive acesso ao material.