Wassef pagou médico de Queiroz
Foto: Daniel Marenco/Agência O Globo
Um relatório do Conselho do Controle de Atividades Financeiras (Coaf), obtido pelo GLOBO, identificou que o advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, fez um pagamento de R$ 10,2 mil para o urologista Wladimir Alfer que atende no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Alfer foi o primeiro médico a atender Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na unidade, em dezembro de 2018, quando ele iniciou uma série de exames para o tratamento de câncer no intestino. O relatório do Coaf foi enviado para o Ministério Público Federal no Rio, Ministério Público do Rio e para a Polícia Federal há pouco mais de um mês, em 15 de julho. Em entrevistas recentes, Wassef negou ter oferecido ajuda financeira a Queiroz.
Apontado como o operador do esquema das “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio, Fabrício Queiroz era aguardado para depor no MP do Rio em 21 de dezembro de 2018. No entanto, sua defesa justificou que ele não podia comparecer pois estava realizando exames no hospital Albert Einstein. Entre os documentos apresentados, foi juntado aos autos uma declaração assinada pelo médico Wladimir Alfer dizendo que ele tinha atendido Queiroz desde o dia 19 de dezembro de 2018.
“Fabrício José Carlos de Queiroz. O paciente esteve em avaliação médica sob minha responsabilidade no dia de hoje. Solicitados exames a serem realizados neste hospital”, escreveu Alfer. Ele ainda completou informando aos promotores que estava “à disposição para qualquer esclarecimento necessário”. Pesquisador de Urologia pela Harvard Medical School e doutor pela Universidade de São Paulo, ele atendeu Queiroz na mesma unidade do Morumbi que cuidou da recuperação do presidente Jair Bolsonaro, depois da facada desferida por Adélio Bispo.
Depois da consulta, Queiroz realizou uma bateria de exames na manhã do dia 21 de dezembro de 2018. Nesses documentos, apresentados por Queiroz aos promotores do Rio, é possível ver que as requisições dos exames também foram pedidas por Wladimir Alfer. Diagnosticado com câncer no intestino, ele seguiu na capital paulista onde foi operado no início de janeiro do ano passado. No entanto, antes disso, compareceu a uma entrevista ao SBT onde disse que as movimentações atípicas em sua conta estavam relacionadas a “rolos” e que ele comprava e vendia carros.
No relatório, o Coaf não identifica a data do pagamento. O documento aponta o pagamento entre os débitos da conta corrente com titularidade de Frederick Wassef e à vista. O relatório abrange dados de julho de 2015 até junho de 2020. Desde dezembro de 2018, ele atuava como advogado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no procedimento que apura rachadinha no gabinete de Flávio na Alerj e do qual Queiroz é apontado pelo MP como operador do esquema.
Procurado, Wladimir Alfer visualizou as mensagens e não retornou aos questionamentos. Wassef não retornou aos contatos da reportagem. O advogado Paulo Emílio Catta Preta disse que só iria comentar depois de ter acesso ao relatório, o que ainda não ocorreu.
Depois que Queiroz foi preso em junho, em sua casa em Atibaia, no interior de São Paulo, Wassef declarou à revista Veja que “nunca” pagou despesas de Queiroz. Na ocasião, ao ser questionado, disse: “Nunca. Jamais. Eu não ajudei ninguém financeiramente. Essa ilação que estão tentando fazer para dizer que houve uma ajuda ou patrocínio é mentira”.
Em maio do ano passado, O GLOBO revelou que Queiroz pagou em espécie R$ 133,58 mil em dinheiro pela cirurgia e tratamento de câncer a que foi submetido. Foram R$ 64,58 mil pela cirurgia e outros R$ 60 mil para pagar a equipe médica, além de R$ 9 mil para quitar um débito com um médico oncologista. Essas despesas são relativas ao período de internação para a cirurgia. Segundo os documentos do hospital, Queiroz ficou internado de 30 de dezembro de 2018 a 8 de janeiro de 2019.
Em junho, três testemunhas afirmaram ao Jornal Nacional que na madrugada do dia 25 para o dia 26 de dezembro de 2018, Fabrício Queiroz deu entrada no Hotel Faro, em Atibaia, acompanhado do advogado Frederick Wassef, que não ficou hospedado. Segundo as testemunhas, no dia seguinte, Wassef voltou ao local e eles tiveram uma reunião. Uma das pessoas que trabalhava no hotel afirmou que o advogado pagou as diárias em dinheiro como já tinha feito em outras ocasiões.
— O Wassef foi até a recepção, eu sempre tava no turno da madrugada, eu entrava às 11 e saía às 7 da manhã, ele chegou por volta de… eu não me lembro exatamente o horário, entre meia noite e uma, uma e pouquinho, aí ele foi até a recepção, negociou comigo, perguntou se tinha quarto disponível e tudo mais, aí a gente acabou entrando num acordo. Ele já fez o pagamento e ele foi até o carro. Quando ele voltou, ele voltou com outra pessoa e foi quando ele me falou: ‘Ah, então, hoje, não sou eu que vou ficar, é esse amigo meu, me apresentou o Queiroz, aí eu fiz o cadastro do Queiroz — disse a testemunha, declarando, também, que foi o advogado quem pagou a diária em dinheiro, assim como das outras vezes que ficou hospedado no local. — Ele sempre pagava em dinheiro, todas, todas as diárias, tal, sempre quando ele ficava lá era sempre tudo em dinheiro, então era mais fácil, mais fácil recordar.