Assessor de Carluxo sacou R$ 90 mil em dinheiro
Foto: Sergio Lima/AFP/13-11-2018
Extratos bancários revelados no curso da investigação da “rachadinha” mostram que o cabeleireiro Márcio Gerbatim sacou, mensalmente, todo o salário que recebeu como assessor do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Câmara do Rio entre abril de 2008 e abril de 2010. Ele é ex-companheiro de Márcia Aguiar, atual mulher de Fabrício Queiroz.
O inquérito conduzido pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ) apura um esquema de desvio de recursos no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Por determinação da Justiça, foram quebrados os sigilos bancários de Flávio e ex-assessores, caso de Gerbatim, que foi funcionário do então deputado estadual entre 2010 e 2011, após trabalhar no gabinete do irmão.
A conta no Banco do Brasil que aparece na investigação foi usada pelo cabeleireiro para receber o salário como funcionário da Alerj, mas, como o período da quebra do sigilo vai de 2007 a 2018, os extratos também mostram sua movimentação bancária quando foi assessor de Carlos na Câmara de Vereadores do Rio. O vereador é investigado em outro procedimento do MP-RJ, sob suspeita de “rachadinha” e de ter nomeado funcionários fantasmas.
Entre maio de 2008 e maio de 2010, quando recebeu o último pagamento, Gerbatim obteve R$ 89.143,64 da Câmara de Vereadores. No mesmo período, o total de créditos na sua conta foi de R$ 93.422,91. Já as retiradas em dinheiro vivo totalizaram R$ 90.028,96. No ano passado, o jornal “O Estado de S. Paulo” mostrou que ele nunca teve crachá de identificação na Câmara de Vereadores.
Gerbatim recebia o salário sempre antes do dia 5 de cada mês e, em seguida, efetuava saques. No dia 1º de maio de 2008, recebeu remuneração líquida de R$ 3.014,59. No dia seguinte, fez dois saques: um de R$ 400 e outro de R$ 500. No dia 3, outra retirada, esta de R$ 2.070 — o que dá um total de R$ 2.970. Em 1º de julho de 2008, ele recebeu R$ 4.210 e, no mesmo dia, sacou exatamente o mesmo valor. Em agosto, a situação se repetiu: ganhou R$ 3.077 e retirou R$ 3.099 no mesmo dia. Meses depois, em fevereiro de 2009, Gerbatim recebeu R$ 3.318 e sacou R$ 3.169.
O Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc) do MP-RJ investiga, desde julho do ano passado, a existência de funcionários fantasmas e a eventual prática de “rachadinha” no gabinete de Carlos Bolsonaro. O GLOBO e a revista Época mostraram que ele nomeou assessores que viviam em Minas Gerais e em Resende, no Sul do Estado do Rio. O Gaecc é o mesmo grupo responsável pela investigação de Flávio.
Nas investigações sobre o senador, o MP-RJ descobriu situação semelhante à de Gerbatim em relação a parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro. Segundo as investigações, os familiares da ex-madrasta lotados no gabinete de Flávio “sacavam quase a integralidade dos salários recebidos na Alerj para repassar os valores em espécie a outros integrantes da organização criminosa”. Ao analisar os dados bancários da família Siqueira, o Ministério Público verificou que, dos R$ 4,8 milhões pagos em salário, R$ 4 milhões foram retirados em espécie.
Depois que Gerbatim deixou o gabinete de Carlos e foi trabalhar para Flávio, entre abril e maio de 2010, ele deixou de receber salário da Câmara de Vereadores nessa conta, em que também não há registro dos pagamentos da Alerj. Os extratos depois desse período mostram compras de pequeno valor, com uma exceção. No dia 9 de junho de 2010, o presidente Jair Bolsonaro fez um depósito de R$ 10 mil para Gerbatim. Dois dias depois, o então assessor compareceu à Real Veículos Comércio e Serviços e efetuou um pagamento de R$ 10 mil. Procurada, a empresa informou que não identificou registros da transação. Em 30 de outubro de 2008, Bolsonaro também fez uma transferência de R$ 100 para Gerbatim.
Essas duas transações de Bolsonaro são as únicas movimentações financeiras entre o presidente e pessoas ligadas a Queiroz localizadas na quebra de sigilo bancário do caso da “rachadinha”. Há, no entanto, registros de 27 cheques direcionados por Queiroz e sua mulher, Márcia Aguiar, para a primeira-dama Michelle Bolsonaro, em um total de R$ 89 mil.
Procurado, Gerbatim disse que não iria se manifestar.
— Eu desconheço esse assunto — afirmou, por telefone.
Em dezembro de 2018, ele disse ao GLOBO que trabalhou como motorista de Flávio e negou que devolvesse salários. O advogado de Carlos, Antonio Fonseca, afirmou que não se manifestaria sobre procedimentos sigilosos. Em outras ocasiões, o vereador negou irregularidades na contratação de funcionários.