Bolsonarista investigado quer criar rádio fascista

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Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Investigado em dois inquéritos do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre propagação de notícias falsas e financiamento de atos antidemocráticos, o empresário Otávio Fakhoury, apoiador de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro, quer montar uma rede de comunicação conservadora de direita no Brasil. O projeto inclui o controle sobre emissoras de rádio e uma rede de TV.

“Tenho em papel ainda o projeto de estação de rádio e de rede de televisão que é algo que eu não tinha estudado mas me foi oferecida uma participação. Não foi adiante, mas sei que existem interessados. Está no meu radar”, disse ele ao Estadão na tarde de quinta-feira, 24.

O projeto, segundo Fakhoury, alia suas posições políticas pessoais e interesses empresariais. Para ele, o Brasil não tem hoje um veículo de comunicação de direita fora da mídia alternativa. “O mercado hoje não tem isso. É vantajoso porque não vejo no mercado hoje uma rede de rádio ou televisão com viés de direita. Se algum anunciante quiser, não tem”, afirmou.

Para viabilizar o projeto, Fakhoury conta com parcerias de empresários amigos e diz que, se necessário, vai buscar financiamento no sistema bancário, inclusive o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), controlado por Bolsonaro.

“Conversei pelo menos com dois ou três (possíveis sócios). Nenhum deles está alinhado ainda. Precisa aparecer a oportunidade para chamar todo mundo. Eu também poderia entrar sozinho. Se precisar a gente vai ao mercado buscar (empréstimo). A gente tem como oferecer garantias se faltar dinheiro. Tem as linhas do BNDES”, disse ele.

Fakhoury foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal no dia 16 de junho a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). Em seu celular a PF encontrou uma conversa, revelada pelo jornal O Globo, na qual o empresário fala com Fabio Wajngarten, responsável pela comunicação social do governo, sobre a necessidade de comprar uma rádio FM e diz que já teria outros empresários interessados em financiar o negócio. Um deles seria Junior Durski, dono da rede de restaurantes Madero, que negou à PF estar disposto a financiar a transação.

Em outro depoimento do mesmo inquérito, o pastor RR Soares disse ter sido procurado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que pediu ajuda para encontrar uma rádio FM em São Paulo. Eduardo nunca escondeu o projeto. Na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC Brasil), em outubro do ano passado, o filho do presidente defendeu publicamente a criação de uma rede de meios de comunicação conservadores no País.

Ao Estadão, quinta-feira, Fakhoury confirmou ter falado com Wajngarten sobre o assunto, mas negou ter pedido ajuda do governo para o negócio. Segundo ele, Wajngarten foi procurado porque antes de ir para o governo trabalhava na área de mídia em São Paulo e, portanto, conhece bem o setor e poderia fazer indicações.

“Não vejo problema nenhum em ir atrás (do BNDES). Não quero ser favorecido em nada. Jamais pedi e jamais pediria favorecimento em nada. Vou pedir o que todo mundo tem direito como cidadão”, disse Fakhoury.

O empresário afirmou estar surpreso pelo fato de a tentativa de montar uma rede de comunicação ter ido parar em um inquérito policial. Segundo ele, não existe ilegalidade no projeto. “É um projeto empresarial, porque não pode dar prejuízo, e neste caso coincide com minha visão política. Tenho uma visão liberal conservadora”, disse.

Indagado sobre a viabilidade comercial do negócio, tendo em vista que veículos de comunicação do mundo inteiro atravessam crises financeiras, Fakhoury insistiu que a ideia pode ser lucrativa. “O que falta aqui é uma FOX News (canal de TV alinhado ao governo Donald Trump nos EUA). Se a FOX decide vir para cá já teremos tudo pronto.”

Fakhoury já admitiu em entrevistas que ajudou a financiar o site Crítica Nacional, que apoia Bolsonaro, além de manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2015, e a favor da reforma da Previdência, em 2019, mas nega envolvimento com fake news ou protestos antidemocráticos.

Além disso, é um dos idealizadores do Aliança pelo Brasil, partido que o presidente pretende criar, mas ainda não saiu do papel.

Enquanto espera a oportunidade para comprar sua própria rede de comunicação, Fakhoury já investe no setor. Ele pretende inaugurar até março do ano que vem um espaço de coworking (trabalho compartilhado) para jornalistas na Avenida Faria Lima, centro do capital financeiro em São Paulo.

O espaço de 450 m2 terá estúdio de TV, ilhas de edição, auditório, estações de trabalho compartilhado, salas de reuniões, cafeteria, terraço e espaços privativos. Além do espaço, serão oferecidos serviços como edição de vídeos e conexão com internet. Os interessados vão pagar aluguel por mês, dia ou horas. Segundo Fakhoury, serão aceitos profissionais de qualquer matiz político ou ideológico.

Estadão