Bolsonaro volta a causar aglomerações – no Vale do Ribeira

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Foto: Carolina Antunes/PR

O governo federal realizou nesta quinta, 3, um evento presencial para apresentar a cerca de 2 mil pessoas um slideshow com vídeos do projeto de uma ponte em Pariquera-Açu, no Vale do Ribeira, interior de São Paulo. O município de 19 mil habitantes, que já registrou 520 casos do coronavírus e nove mortes, está na fase na 2, laranja, do protocolo de combate à pandemia no Estado. Eventos e convenções só são permitidos após 28 dias consecutivos da região na fase 3, amarela.

Houve aglomeração e dezenas de pessoas estavam sem máscara, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o ministro da Justiça, André Mendonça. Apesar de as falas no evento terem sido breves – o presidente discursou por três minutos na cerimônia de 15 minutos –, apoiadores de Bolsonaro se aglomeraram nas grades de proteção para abraçar e tirar fotos com o presidente antes e depois da cerimônia.

A assessoria do Planalto informou que cerca de mil cadeiras foram disponibilizadas na plateia. A cada dois assentos, estavam colados avisos para que as pessoas não se sentassem, mas foram ignorados. O sistema de som não emitiu nenhum tipo de orientação para o distanciamento social durante o evento.

“Os protocolos setoriais do Plano São Paulo são fundamentados em critérios técnicos e de saúde, com objetivo de controlar as taxas de contaminação pelo novo coronavírus”, informa o governo do Estado de São Paulo. “Sobre eventos, convenções e atividades culturais, o governo de São Paulo informa que é permitido o funcionamento após 28 dias consecutivos da região na fase amarela, o que não é o caso de Pariquera-Açu, que se encontra na fase laranja.”

“Independentemente da importância do projeto, colocar pessoas juntas hoje em dia é temerário. Não é desejável, ainda mais em lugares de transmissão ativa”, diz o infectologista Celso Granato, do grupo Fleury. “Na Europa, mesmo em lugares onde a situação já estava melhor, como na Espanha e Alemanha, foi só descuidar e os casos aumentaram.”

A prefeitura de Pariquera-Açu informou que apenas atendeu aos requisitos do Planalto para a realização do evento. A Secretaria de Comunicação do governo federal foi contatada, mas não retornou até a publicação desta matéria.

A ponte sobre o rio Pariquera-Açu receberá R$ 14,3 milhões de recursos federais e é apontada como uma possível solução para desafogar o tráfego de veículos no município e região e para a contenção de enchentes. Ninguém no evento falou sobre uma previsão de início das obras da ponte.

De acordo com a prefeitura, parte da documentação ainda está sendo enviada para a Caixa Econômica Federal e a previsão é que a obra tenha início em março e a previsão de entrega é o segundo semestre de 2023.

Na outra agenda do dia, Bolsonaro apresentou projeto de outra ponte, dessa vez na cidade de Eldorado, também no Vale do Ribeira, onde passou a infância e a adolescência. Acompanhado de Eduardo, Mendonça e Salles e sem máscara, passou 50 minutos cumprimentando, abraçando e posando para fotos com as centenas de pessoas, entre elas idosos e crianças, que foram recebê-lo.

No momento em que o Brasil registra 123 mil mortos e 4 milhões de infectados pelo novo coronavírus, Bolsonaro se vangloriou de sua atuação diante da pandemia. O presidente disse se considerar um “líder ímpar” em nível mundial por ter apostado na hidroxicloroquina. “Desde o começo eu assumi uma posição ímpar não só dentro do Brasil, mas como chefe de Estado no mundo todo”, disse o presidente. “Não vi um chefe de estado tomar uma decisão como a minha.”

Embora não existam estudos científicos que comprovem a eficácia do medicamento no tratamento da covid-19 e o Brasil seja um dos recordistas em mortes no mundo, Bolsonaro disse que a estratégia “deu certo”. “Estudei a hidroxicloroquina, procurei embaixadas, procurei a Anvisa dos EUA, a FDA, e sobrou apenas isso. Defendo que quem vai ministrar é o médico e mais ninguém. Se não houvesse essa questão off the label, muita doenças não teriam remédio. Hoje em dia se comprova pelo menos de forma observacional que era o que tinha naquele momento e acabou dando certo”, afirmou o presidente.

Bolsonaro instou governadores e prefeitos a permitirem a abertura em definitivo do comércio. “Apelo aos governadores, já que não tenho autoridade para tal, o Supremo Tribunal Federal me tirou essa possibilidade de agir nessa área, espero que os governadores e prefeitos, obviamente dentro da sua devida responsabilidade, abram em definitivo o comércio”, disse o presidente no início da tarde desta quinta-feira.

Estadão