Candidato paulistano se diz “direita raiz”
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Os nomes dos candidatos a prefeito da capital paulista serão confirmados pelos partidos nas próximas semanas, mas sete entre os possíveis postulantes se identificam como representantes da direita. Aos 37 anos, Filipe Sabará, do Partido Novo, afirma, porém, ser o único verdadeiro liberal nestas eleições na cidade. “Eu sou o único direta raiz. Os outros que se colocam como direita e liberal aí é tudo nutella”, afirma, em entrevista ao Valor. O nome de Sabará como representante do Novo nas urnas será formalizado em convenção partidária neste sábado.
As gírias surgiram em memes da internet para designar algo que é original e verdadeiro, ou seja, raiz, em contraponto ao que é um engodo ou imitação – no caso, nutella. Sabará explica que considera como nutella os oponentes que nunca trabalharam para que a população tivesse oportunidade de se desenvolver “com as próprias pernas”.
Empresário, ex-secretário municipal de Assistência Social e ex-presidente do Fundo Social de São Paulo, Sabará aposta no enxugamento da máquina pública, em programas de microcrédito em parceria com bancos e em uma extensa revisão do Plano Diretor e dos critérios de tombamento de imóveis para, nas palavras dele, “desburocratizar” São Paulo.
“Temos 40 mil imóveis largados e abandonados só por causa de burocracia. Não pode retrofitar um prédio porque não existe mais o mesmo elevador da década de 1950 para substituir”, afirma Sabará.
A ideia do pré-candidato é que uma nova regulamentação mantenha a fachada dos imóveis hoje tombados pelo patrimônio histórico, mas permita reformar áreas internas, para que os prédios sejam usados para instalação de escritórios e de moradia – não exclusivamente para baixa renda, como tentaram gestões anteriores.
“Não dá para ficar na década de 1970, quando já naquela época o nosso Plano Diretor estava atrasado. Temos um centro lindo, com construções incríveis, e abandonado”, justifica. “Limite de construção para altura de prédio, recuo, potencial construtivo… um monte de burocracia do Plano Diretor vem atrapalhando muito a questão imobiliária da cidade.”
Filipe Sabará diz ter no prefeito Bruno Covas (PSDB) seu maior oponente. Para o pré-candidato do Novo, o tucano administra a cidade de “mau humor”. “Bruno Covas não tem a menor noção do que fazer. Herdou uma prefeitura sem ter capacitação nem vontade para ser prefeito.” Covas foi eleito como vice de João Doria (PSDB), que deixou a prefeitura para concorrer a governador em 2018.
Doria foi quem levou Sabará do meio empresarial para o setor público, mas o representante do Novo já não mantém os mesmos laços de antes com o padrinho. O governador buscou demonstrar cortesia quando Sabará deixou o Fundo Social de São Paulo em outubro do ano passado.
Agora em julho, no entanto, ao ler entrevista em que o ex-auxiliar criticara a atuação do governo paulista diante da pandemia, o tucano se irritou. Doria telefonou para Sabará cobrando gratidão. O político do Novo apenas escutou em silêncio e agradeceu a ligação, relatam interlocutores de Sabará.
Como parte dessa mesma realocação diante do eleitorado, o pré-candidato do Novo vem manifestando simpatia em relação ao presidente Jair Bolsonaro, rival de Doria.
Questionado se considera Bolsonaro também um representante da direita nutella, já que iniciativas liberais do Ministério da Economia têm sido barradas pelo presidente, Sabará responde: “Eu não queria opinar sobre o presidente… O auxílio emergencial é uma proposta bem liberal. Não é o Estado proporcionando nada. Dá o dinheiro, e as pessoas se viram. Não vejo o presidente como nutella.” Em seguida, exemplifica quem vê como direita raiz, o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Na agenda liberal de Sabará para São Paulo está a redução no número de secretarias municipais, de 28 para no máximo 10 e o enxugamento do quadro de funcionários da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Se eleito, o pré-candidato quer estabelecer um processo seletivo feito por uma empresa de Recursos Humanos para escolher secretários e subprefeitos. As subprefeituras, explica Sabará, passariam a funcionar em um modelo semelhante a franquias de uma companhia privada.
A área de segurança, no entanto, mereceria na visão de Sabará investimento, contratação de pessoal e até a criação de uma secretaria própria. “Guardas civis são pessoas que eu admiro muito. Gosto da ideia de ter um comandante da Guarda Civil no secretariado”, diz.