Crivella tenta impedir TVs de mostrarem fatos negativos
Foto: Renan Olaz/CMRJ/Divulgação
A prefeitura do Rio de Janeiro mantém um grupo de funcionários que passam dão expediente ao redor das unidades municipais de saúde para tentar interromper e impedir o trabalho de jornalistas em reportagens que denunciem o mau funcionamento dos hospitais e postos de saúde da rede municipal. Foi o que mostrou a TV Globo, em reportagem veiculada no “RJTV2” e no “Jornal Nacional” na noite desta segunda-feira, 31. Em nota, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) condenou a intimidação de jornalistas pela prefeitura do Rio.
Segundo a reportagem, esses funcionários públicos, contratados em cargos de confiança com salários de até R$ 10 mil, chegam às unidades de saúde no início da manhã, em duplas, a tempo de tentar evitar reportagens ao vivo dentro de telejornais matutinos como o “Bom Dia Rio”, que começa às 6h e é exibido de segunda a sexta-feira. Para comprovar que já estão “trabalhando”, em vez de bater ponto, eles enviam selfies para grupos de Whatsapp, onde também recebem orientações e prestam informações, monitorando durante todo o dia a presença de jornalistas e eventuais protestos de pacientes ou familiares contra o mau atendimento nas unidades.
Quando um jornalista começa a gravar uma reportagem, eles interrompem aos gritos – nos exemplos exibidos, os gritos eram de “Globo lixo” e “Bolsonaro”. Em outro caso, os funcionários tentaram convencer um ex-paciente a não conceder entrevista fazendo críticas ao atendimento que havia recebido no hospital.
A reportagem teve acesso ao grupo chamado “Guardiões do Crivella” – em referência ao prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) e constatou que na quinta-feira passada a dupla responsável por evitar reportagens negativas no Hospital Municipal Rocha Faria, em Campo Grande (zona oeste), chegou atrasada e não conseguiu impedir que um repórter entrasse ao vivo no “Bom Dia Rio”. Houve cobranças e, quando a dupla chegou e conseguiu interromper uma parte da reportagem, comemoração.
Questionada sobre essa denúncia, a prefeitura do Rio emitiu nota em que classifica esses funcionários como “reforços” para atender a população e informar melhor. “A prefeitura reforçou o atendimento em unidades de saúde municipais no sentido de melhor informar à população e evitar riscos à saúde pública, como, por exemplo, quando uma parte da imprensa veiculou que um hospital (no caso, o Albert Schweitzer, em Realengo) estava fechado, mas a unidade estava aberta para atendimento a quem precisava. A Prefeitura destaca que uma falsa informação pode levar pessoas necessitadas a não buscarem o tratamento onde ele é oferecido, causando riscos à saúde.”
Em nota, a Associação Brasileira de Imprensa criticou o que chamou de “uma política do prefeito para constranger repórteres e cidadãos. “Em ações orquestradas, funcionários da prefeitura tentam intimidar, com agressões verbais e ameaças de agressões físicas, jornalistas que trabalham em reportagens sobre a situação de calamidade dos hospitais públicos no Rio.”, diz a ABI, no texto assinado por seu presidente, Paulo Jeronimo. “As ameaças se estendem aos usuários que prestam depoimentos sobre o mau atendimento. Episódios ocorridos nas portas de vários hospitais municipais nos últimos dias mostram que não estamos diante de fatos isolados, mas de uma política do prefeito para constranger repórteres e cidadãos.”