Filhos 01 e 03 articulam campanha no Rio
Foto: Reprodução/ O Globo
Ao mesmo tempo em que o presidente Jair Bolsonaro ainda hesita em abraçar a campanha municipal já no primeiro turno, para evitar ser associado a possíveis derrotas e não melindrar partidos da base aliada, dois de seus filhos — o senador Flávio (Republicanos-RJ) e o deputado federal Eduardo (PSL-SP) — aceleram as atividades políticas de pré-campanha no estado que é reduto eleitoral da família e tentam conquistar o espaço aberto na política fluminense desde o fim da hegemonia do MDB.
Na capital, o aliado Marcelo Crivella (Republicanos) busca a reeleição mas está no centro de uma série de denúncias de corrupção na sua gestão. Sem a definição de um outro nome na disputa totalmente identificado com o campo bolsonarista, ainda não há movimentação explícita da dupla. Em outras cidades do estado, porém, as articulações estão em andamento.
Deputado por São Paulo, Eduardo deixou Brasília na última quinta-feira para dois dias de agendas no Rio. Logo na chegada, o destino foi Cabo Frio, na Região dos Lagos, onde participou da convenção do Republicanos — o partido recebeu uma leva de bolsonaristas pelo país após o racha da família com o PSL — que oficializou a candidatura do deputado estadual Doutor Serginho, ex-PSL. Na sexta, Eduardo seguiu para Niterói e participou do “1º Encontro de Bolsonaristas de Niterói”, organizado pelo deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ). Outros deputados federais da base do governo estiveram presentes, assim como Rogéria Bolsonaro, mãe de Flávio e Eduardo e candidata a vereadora no Rio pelo Republicanos.
Jordy tenta voltar ao páreo depois de um período de relação turbulenta com a direção local do PSL. O parlamentar, antes visto como nome natural do partido em Niterói, ficou ao lado de Bolsonaro no racha com o presidente da sigla, o deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE), e perdeu o controle da legenda na cidade. O diretório é presidido pelo delegado da Polícia Federal Deuler da Rocha, que deve ser confirmado na convenção de hoje o candidato em Niterói. Jordy, por sua vez, tenta uma interferência do comando nacional do partido e conta com Eduardo como principal aliado. Um dos planos é atrair outro nome do campo bolsonarista para compor a chapa: o também delegado da PF Antônio Rayol, filiado ao Podemos.
Já com relação a Flávio, os movimentos começaram antes e são mais ambiciosos. O senador decidiu apoiar as reeleições de Washington Reis, em Duque de Caxias, e Waguinho, em Belford Roxo. Os dois prefeitos são do MDB e tinham ligação umbilical com Jorge Picciani, até o o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e antigo manda-chuva da política do Rio ser atingido pela Lava-Jato e perder força. Sem um líder com o alcance de Picciani, Flávio vem se posicionando para expandir a teia de relações no estado, inclusive com prefeitos e líderes de outros partidos. Filho do presidente, ele tem a oferecer a proximidade com o governo federal e a popularidade da família Bolsonaro.
A aproximação já provocou o fim de uma aliança histórica entre o MDB e o DEM na Baixada Fluminense — e uma reação em cadeia, que já atingiu São João de Meriti, Belford Roxo e Duque de Caxias. Com a possibilidade de expansão da influência de Flávio para outros municípios, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) pediu a intervenção do presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, e do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), para estancar a crise.
O afastamento de Wilson Witzel, adversário de Bolsonaro, e a ascensão de Cláudio Castro ao posto de governador do Rio também abriram o caminho para que o senador se tornasse o canal de interlocução do estado com Brasília — o primeiro encontro oficial de Castro com o governo federal, a reunião com o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi resultado direto da intervenção de Flávio.