Material de construção tem alta e some
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O setor de material de construção atravessa quase que uma tempestade perfeita. A combinação de dólar alto, dificuldade da indústria em se organizar em tempos de pandemia e o salto na demanda por causa do auxílio emergencial e do isolamento imposto pela pandemia vem provocando escassez de produtos nas prateleiras.
Os consumidores têm dificuldade para encontrar tijolos e telhas, cimento e material elétrico, entre outros.
“Há mais dificuldade de se encontrar diversos produtos. E se o consumidor descobre que está mais difícil de comprar, compra um pouco mais para garantir, o que também ajuda a piorar a situação”, afirma Claudio Conz, presidente do Sincomaco (Sindicato do Comércio Atacadista, Importador, Exportador e Distribuidor de Material de Construção).
Além da escassez em si, esses materiais vêm aumentando de preço nas prateleiras, justamente no momento em que muita gente decidiu fazer reformas ou ampliações em casa.
Um levantamento feito pela empresa UAU Globaltec, que mede quanto as construtoras pagam para as indústrias, dá uma ideia da proporção dessas altas em setembro em relação ao pré-pandemia. O tijolo, por exemplo, está custando em média 140% a mais para as construtoras; o cabo de cobre, 75% de alta, o aço, 61,5%.
A situação de escassez e preços altos foi causada por uma série de fatores, de acordo com especialistas no setor. Em primeiro lugar, logo que a crise começou, e o isolamento social se tornou mais intenso, as vendas despencaram.
Parte da indústria simplesmente parou de funcionar por razões sanitárias ou econômicas. “Nesse momento, as indústrias demitem pessoas e reduzem produção”, explica Conz.
Quando veio a recuperação, puxada pelo auxílio emergencial de R$ 600 e pelo fato de que pessoas em isolamento social se dedicam mais a reformas em casa, não houve tempo hábil para uma reação rápida.
“A partir de maio, começa a reação no consumo de material de construção, mas a indústria estava desestruturada na produção e o comércio com estoques baixos. De repente, um produto que era entregue pela indústria no mesmo dia, começou a levar uma semana, 10 dias para chegar”, explica o executivo.
Para evitar o problema, os lojistas passaram a comprar um estoque maior, como garantia, o que levou a uma espécie de bolha no setor, segundo ele. “Começou um movimento especulativo, e os preços começaram a aumentar”, afirmou.
Ele lembra que tudo isso aconteceu em um cenário de dólar muito mais alto: a moeda americana, que já estava mais cara no início do ano, quase bateu R$ 6 durante a crise.
“O setor industrial estava lidando com um dólar de R$ 3,40, e neste ano está encarando R$ 5,30. A importação de PVC, por exemplo, que custava US$ 700 a tonelada, caiu para US$ 500 no auge da crise mas agora já está a US$ 750”, exemplifica.
As dificuldades da indústria em atender a uma demanda que cresceu de repente pode ser ilustrada principalmente pelos fabricantes de cerâmica, como tijolos e telhas.
Jorge Lopes, diretor de relações institucionais da Anicer (Associação Nacional da Indústria Cerâmica) afirma que o segmento vem em crise desde 2015.
“Quando houve o ápice do Minha Casa, Minha Vida, faltou material cerâmico de tanta demanda. Nesse momento, a maioria das construtoras foi atrás de outros processos de construção. Houve uma retração do mercado a partir de 2015”, explica ele.
O setor estima que cerca de 2 mil cerâmicas fecharam as portas na crise. “Na pandemia, teve parada total. Quando a demanda começou a crescer, não deu tempo para colocar a produção de pé rapidamente de novo”.
Tanto Lopes, da Anicer, como Conz, do Sincomaco, estimam normalização de fornecimento até o final do ano. Os preços, entretanto, não devem voltar à normalidade tão cedo. Não enquanto o dólar se mantiver em patamares elevados.
“Acreditamos que até outubro, novembro as coisas estarão equacionadas. Mas um dólar em R$ 5,30 não tem como não impactar nos preços”, avalia Conz.
De acordo com ele, o comércio de material de construção fechará o ano com alta de entre 5% a 6% nas vendas.