Mourão e Salles compartilharam vídeo de escravagista

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Foto: Marcos Correa/PR

O vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, andam se estranhando no governo sobre verbas e políticas de preservação do patrimônio verde nacional, mas se tornaram sócios em um vexame público: ambos compartilharam em seus perfis no Twitter um vídeo que nega a existência de queimadas na Floresta Amazônica. Só que a peça em tom de denúncia tem um problema básico: as imagens em questão são da Mata Atlântica. Outro ponto de enorme constrangimento: a filmagem, narrada em inglês, foi produzida pela Associação dos Criadores do Estado do Pará (Acripará), cujo presidente, Maurício Pompeia Fraga Filho, foi processado por submeter trabalhadores a condições análogas à escravidão em uma de suas fazendas.

Fraga Filho administra as fazendas do pai, Maurício Pompeia Fraga, que também foi citado na ação movida em 2018. Nos dias 28 e 29 de junho daquele ano, fiscais do Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM) constaram que um grupo de 30 trabalhadores, incluindo um adolescente, estavam sujeitos a “inúmeras situações degradantes” ao realizarem o transporte de gado numa jornada que deveria ser concluída em 120 dias e teve início numa propriedade dos fazendeiros.

Os fiscais listaram que os trabalhadores foram expostos a precárias condições de pernoite, alimentos e qualidade da água, para consumo e demais necessidades, à ausência de instalações sanitárias e de equipamentos de proteção individual; à ausência de anotação na CTPS, exame admissional ou orientações e treinamentos sobre os riscos das atividades desempenhadas; a jornadas exaustivas, com revezamento na vigilância noturna, e à ausência de folga semanal.

 

Os trabalhadores eram acompanhados por um homem identificado apenas como Epaminodas e que atuava como preposto dos fazendeiros. Era ele quem dava apoio à comitiva, fiscalizava o ritmo da marcha e as remunerações e capitalizava mortes dos bois, a fim de aplicar multas. Todos os animais eram identificados com as iniciais “MF”.

Ao longo do processo, os réus concordaram em pagar cerca de 1,5 milhão de reais para se livrar das acusações. O acordo previa 234 mil reais para verbas rescisórias, 85.860 reais de seguro-desemprego, 217 mil reais para reparação de danos morais individuais e 1 milhão de reais para reparação de danos morais coletivos. Esta última quantia foi destinada a uma entidade filantrópica da cidade de Altamira, no Pará.

A filmagem compartilhada pelas autoridades do governo federal declara falsamente que “a Amazônia não está queimando novamente”. A afirmação está em linha com o que o presidente Jair Bolsonaro vem alegando diante das ameaças de investidores boicotarem o Brasil caso a crise ambiental não seja controlada. Os dados preliminares divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontam que foi registrado um aumento de 34% na destruição do bioma entre agosto de 2019 e julho de 2020.

O vídeo também produz desinformação, com imagens que não foram filmadas na Amazônia. Uma das cenas mostra um mico-leão-dourado, mamífero que corre risco de extinção e que vive exclusivamente na Mata Atlântica.

O ministro Ricardo Salles ainda utilizou sua rede social para rebater uma declaração feita pelo ator Leonardo DiCaprio, eleito pelo governo Bolsonaro como um de seus principais inimigos na questão ambiental. DiCaprio fez uma postagem incentivando a saída de investidores do Brasil para fragilizar Bolsonaro. Salles, então, questionou se o ator iria aderir a um programa para financiar a preservação dos biomas.

“Caro Leonardo DiCaprio, o Brasil está lançando o ‘Adote Um Parque’, projeto de preservação que permite que você ou qualquer outra companhia ou indivíduo possa escolher um dos 132 parques da Amazônia e financiá-los diretamente ao custo de 10 euros pagos por hectare ao ano. Você irá colocar o seu dinheiro onde está sua boca?”, escreveu Salles. O ator não respondeu.

 

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