Protejam a liberdade de expressão de Carol Solberg

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Foto: Reprodução

A jogadora de vôlei de praia Carol Solberg foi denunciada nesta segunda-feira, 29, pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) do Voleibol por ter gritado “Fora, Bolsonaro” em uma entrevista ao vivo ao canal SporTV, depois de conquistar a medalha de bronze no Circuito Nacional, no dia 20 de setembro, em Saquarema (RJ).

A denúncia se baseou em dois artigos do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD): o 191, que fala em “deixar de cumprir, ou dificultar o cumprimento de regulamento, geral ou especial, de competição”, e o 258, sobre “assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva não tipificada pelas demais regras deste Código à atitude antidesportiva”. Pelo primeiro artigo, Carol Solberg pode ser multada entre 100 e 100 000 reais ou receber advertência; pelo segundo, pode ser suspensa por seis jogos, ou de 15 a 180 dias ou receber uma advertência.

De acordo com o regulamento do Circuito Nacional, os atletas se comprometem “a não divulgar, através dos meios de comunicações, sua opinião pessoal ou informação que reflita críticas ou possa, direta ou indiretamente, prejudicar ou denegrir a imagem da CBV e/ou os patrocinadores e parceiros comerciais das competições”. O Banco do Brasil é um dos principais apoiadores do vôlei brasileiro, o que gerou temor de que a parceria de longa data fosse rompida após as declarações da atleta.

A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) chegou a emitir uma nota de repúdio na qual afirmou que Carol Solberg “denegriu” a modalidade. A Comissão Nacional de Atletas de Vôlei de Praia, presidida pelo campeão olímpico Emanuel Rego, que foi embaixador do Banco do Brasil e secretário no governo Bolsonaro, também condenou a manifestação política. Atletas como a jogadora Fabiana, da seleção feminina de vôlei de praia, no entanto, apoiaram Carol nas redes sociais.

Carol Solberg, de 33 anos, vem relatando ameaças e se diz alvo de fake news nas redes sociais. Perfis ligados a Bolsonaro organizaram uma campanha para que o Banco do Brasil deixasse de patrociná-la. Ela explicou que, na verdade, não recebe apoio financeiro da instituição pública e só usou sua logomarca no uniforme, pois se tratava da patrocinadora do evento.

“Meu grito é pelo Pantanal que arde em chamas em sua maior queimada já registrada e continua a arder sem nenhum plano emergencial do governo. Pela Amazônia que registra recordes de focos de incêndios. Pela política covarde contra os povos indígenas. Por acreditar que tantas mortes poderiam ter sido evitadas durante a atual pandemia se não houvesse descaso de autoridades e falta de respeito à ciência. Por ver um governo com desprezo total pela educação e cultura. Por ver cada dia mais os negros sendo assassinados e sem as mesmas oportunidades. Por termos um presidente que tem coragem de dizer que “o racismo é algo raro no Brasil”. São muito absurdos e mentiras que nos acostumamos a ouvir, dia após dia”, desabafou Carol Solberg nas redes sociais.

“Não posso entrar em quadra como se isso tudo me fosse alheio. Falei porque acredito na voz de cada um de nós. Vivemos em uma democracia e temos o direito de nos manifestar e de gritar nossa indignação com esse governo. Não sou de nenhum partido, não sou ativista, sou uma atleta. É o que gosto de ser. Eu amo meu esporte, represento meu país em campeonatos mundiais desde meus 16 anos e espero que o ambiente esportivo seja sempre um lugar democrático, onde os atletas tenham liberdade de expressão e que saibam da importância da sua voz. Saber que todas as pessoas que eu admiro e que são importantes pra mim estão do meu lado, me faz ter certeza de que estou do lado certo da história”, completou.

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Gostaria de poder responder a cada um de vocês, mas é impossível dar conta de tantas mensagens. Só quero agradecer demais e dizer que me senti abraçada por todo esse amor. O meu grito é pelo Pantanal que arde em chamas em sua maior queimada já registrada e continua a arder sem nenhum plano emergencial do governo. Pela Amazônia que registra recordes de focos de incêndios. Pela política covarde contra os povos indígenas. Por acreditar que tantas mortes poderiam ter sido evitadas durante a atual pandemia se não houvesse descaso de autoridades e falta de respeito à ciência. Por ver um governo com desprezo total pela educação e cultura. Por ver cada dia mais os negros sendo assassinados e sem as mesmas oportunidades. Por termos um presidente que tem coragem de dizer que “o racismo é algo raro no Brasil”. São muito absurdos e mentiras que nos acostumamos a ouvir, dia após dia. Não posso entrar em quadra como se isso tudo me fosse alheio. Falei porque acredito na voz de cada um de nós. Vivemos em uma democracia e temos o direito de nos manifestar e de gritar nossa indignação com esse governo. Não sou de nenhum partido, não sou ativista, sou uma atleta. É o que gosto de ser. Eu amo meu esporte, represento meu país em campeonatos mundiais desde meus 16 anos e espero que o ambiente esportivo seja sempre um lugar democrático, onde os atletas tenham liberdade de expressão e que saibam da importância da sua voz. Saber que todas as pessoas que eu admiro e que são importantes pra mim estão do meu lado, me faz ter certeza de que estou do lado certo da história. Tamo junto!

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Esse episódio que vivi ao longo dessa última semana me fez pensar muito sobre o porquê de tantas pessoas acharem que política e esporte não devem se misturar. A própria Comissão de Atletas do Vôlei de Praia emitiu uma nota dizendo que lutará para silenciar os atletas. Acredito que está mais do que na hora de refletirmos sobre isso e tentarmos entender de onde vem essa máxima. Quem disse que atleta não pode se manifestar politicamente? Quem disse que esporte é só entretenimento? Estamos ali só para correr atrás de uma bola e vivermos alienados do mundo? O atleta não é um cidadão como outro qualquer? Eu acredito que esporte e política podem e devem andar juntos, simplesmente pelo fato de que é impossível dissociar um do outro. Quando você vê uma iraniana lutando para que mulheres possam frequentar estádios de futebol, isso é política. Quando a ONU tem programas esportivos em zonas de guerra e vulnerabilidade social, isso é política. A falta de investimentos em quadras poliesportivas nas escolas, é política. Quando Nelson Mandela usou o rugby para unir negros e brancos na África do Sul, isso é política. Um dos caras responsáveis por esse equivocado legado histórico de que atletas não podem se manifestar politicamente é Avery Brundage, presidente do COI de 1952 a 1972. Homem branco, racista, sexista e antisemita, Avery foi membro do Comitê Olímpico dos Estados Unidos e se posicionou contra um boicote americano aos Jogos de Berlim 1936, organizado pelo regime nazista de Hitler. Ele afirmou que não havia espaço para política nas Olimpíadas, mesmo sabendo que os atletas judeus da delegação alemã tinham sido banidos de participarem do evento. Foi esse mesmo homem que expulsou, das olimpíadas de 1968, Tommie Smith e John Carlos, velocistas americanos que, ao subirem no pódio, ergueram os punhos, fazendo o gesto dos panteras negras, que simbolizava a luta pelos direitos do negros. O tempo provou que Avery Brundage esteve sempre do lado errado da história, e o museu de arte asiática de São Francisco, retirou do seu hall de entrada o busto de seu patrono. Acho que é urgente refletirmos sobre isso e * (continua nos comentários…)

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