PT terá “chapa pura” em 14 capitais

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Foto: Denio Simões/Valor – 22/1/2020

O PT vai disputar as eleições municipais de novembro deste ano com chapas puro-sangue (com vices também do próprio partido) em 14 capitais do país, segundo levantamento feito pelo Valor após as convenções partidárias, encerradas no dia 16. Ainda que o cenário seja menos hostil ao partido do que em 2016, quando perdeu de forma abrupta 60% das prefeituras que comandava, o PT encara o pleito deste ano com um novo óbice: o afastamento de aliados históricos.

A legenda compôs chapa com o PCdoB em apenas três capitais do país: no Rio de Janeiro, com o PT na cabeça de chapa; em Porto Alegre e São Luís como vice. Com o Psol, o PT fez composição em outras cinco capitais: Manaus, Recife e Rio Branco com a candidatura petista e o aliado na vice; em Belém e Florianópolis apoiando o Psol e indicando a vice.

O PT não formou nenhuma chapa nas capitais apoiando um candidato do PDT ou tendo o aliado como vice. Com o PSB, há apenas uma aliança, em Salvador, com o apoio do aliado à candidatura petista.

O PT lançou candidaturas como cabeça de chapa ou vice em quase todas as capitais – a exceção é Boa Vista, onde disputará apenas a Câmara Municipal. O partido terá candidaturas próprias em ao menos 82 cidades com mais de 200 mil habitantes, onde pode haver segundo turno. Esse quadro poderá ter alteração, já que os partidos têm até o dia 26 para registrar as candidaturas.

A direção do PT nega que a legenda tenha sido vítima de isolamento orquestrado por partidos de centro-esquerda, e aponta o quadro de fragmentação como consequência da conjuntura: o fim das coligações proporcionais e os desafios impostos pela cláusula de desempenho para 2022, que aumentam a tendência de candidaturas a prefeito para fortalecer a chapa de vereadores. “Não é uma dificuldade do PT em fazer alianças. É a realidade do momento eleitoral em que estamos vivendo. Essa eleição é muito diferente”, observa a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann [leia Candidatura própria é tática e não falta de opção, diz Gleisi].

Mas setores antes aliados ou próximos ao PT pintam um quadro bem menos otimista para o partido, sendo São Paulo o exemplo mais escancarado das dificuldades enfrentadas nestas eleições. No Sudeste, o PT terá chapa pura em três das quatro capitais, sendo que a aliança no Rio de Janeiro, com o PCdoB, foi formalizada na última hora.

Na capital paulista, berço petista, nem mesmo o PCdoB foi demovido de lançar a candidatura própria do deputado federal Orlando Silva. O PT não atraiu aliados para a chapa de Jilmar Tatto e não conseguiu indicar uma mulher para a vice, como eram os planos da sigla. O escolhido foi o deputado federal Carlos Zarattini, que não apoiou Tatto na prévia petista e foi um dos mais críticos ao processo de escolha do candidato pelo partido. Zarattini pleiteou o direito de concorrer à prefeitura, mas deixou a disputa sob críticas ao modelo de prévia, com quórum limitado. À época, disse que era para beneficiar Tatto. Desde que a candidatura foi definida, Tatto tem perdido simpatizantes para a chapa de Guilherme Boulos e Luiza Erundina, do Psol.

Além de enfrentar candidatos do seu mesmo campo, Psol e PCdoB, os petistas ficaram emparedados em São Paulo com a aliança do PSB e PDT em torno do ex-governador Márcio França.

 

No Rio, o isolamento da candidatura da deputada e ex-governadora Benedita da Silva foi rompido com a decisão do PCdoB de retirar a candidatura da deputada Enfermeira Rejane de Almeida e indicá-la para a vice. Aos 78 anos, Benedita da Silva havia admitido a possibilidade de ser vice de Marcelo Freixo (Psol), mas divergências internas na legenda fizeram o deputado federal abandonar a candidatura. Freixo alegou que não disputaria sem uma frente ampla da centro-esquerda, mas encontrou obstáculos à unidade dentro do seu próprio partido.

Ex-ministro do governo Lula e ex-deputado federal, Nilmário Miranda diz ao Valor que fez de tudo para que a frente de esquerda prosperasse em Belo Horizonte já no primeiro turno. Segundo ele, o clima desandou depois que Freixo abandonou a candidatura no Rio. “Os dois símbolos da frente da esquerda seriam Rio e Porto Alegre”, diz o mineiro. A saída de Freixo da disputa, afirma Nilmário, surpreendeu o PT. O natural, na opinião de Nilmário, seria a esquerda se unir em torno de Benedita, pois não havia nome natural de expressão no Psol, além de Freixo. Na capital mineira, segundo o ex-ministro, o Psol exigiu que a aliança fosse construída com a deputada Áurea Carolina na cabeça de chapa. “Tenho uma relação fraterna com ela. Eu a convidei para ser secretária de Mulheres da Secretaria de Direitos Humanos. Mas o PT governou Belo Horizonte por quatro vezes consecutivas [governos Patrus Ananias, Célio de Castro e Fernando Pimentel, de 1993 a 2005]. O partido deixou uma excelente estrutura de governança”, diz Nilmário, sinalizando que houve intransigência do Psol no quadro mineiro. “Não fomos inflexíveis, não teve nada disso. Até o último instante fomos negociando. Era natural que o PT pleiteasse [uma candidatura]. Não houve intransigência. E não descarto a possibilidade de eu ir para o segundo turno.”

A dificuldade do PT para atrair aliados nestas eleições é registrada também nas capitais de Estados comandados pelo partido. Em Natal, a legenda lançou uma chapa puro-sangue com o senador Jean-Paul Prates e a assistente social Elizabeth Lima como vice. Prates é suplente da governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, no Senado.

Em Fortaleza, o governador Camilo Santana (PT) tentou construir uma ampla aliança com o PDT dos irmãos Ferreira Gomes e com o PSB, mas a articulação não vingou. O presidente do diretório do PT do Ceará, Antônio Filho, diz que a ideia inicial era compor uma frente de esquerda liderada pelo petista Nelson Martins, ex-secretário da gestão Camilo Santana e ex-líder do governo Cid Gomes na Assembleia Legislativa, mas Martins desistiu. O PT insistiu em ter candidatura própria e lançou a deputada Luizianne Lins, com o petista Vladyson Viana como vice.

O dirigente petista minimiza a falta de acordo com o PDT e PSB. “Não teve aliança, mas não foi nossa culpa nem de ninguém”, diz Filho. “Mas restabelecemos com o PDT a relação que estava estremecida desde a eleição presidencial de 2018.” Segundo o presidente do PT-CE, o partido compôs chapa com o PDT em cerca de 30 cidades cearenses e em 85% dos casos apoiará o PDT.

Na capital baiana, o governador Rui Costa (PT) conseguiu driblar as divergências do partido com o PSB nacional e construiu a única chapa nas capitais composta pelas duas legendas. Em Salvador, o PSB indicou a deputada estadual Fabíola Mansur como vice da petista Major Denice. O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, pondera que o acordo é localizado. [Leia mais em “Lula quer manter exclusivismo petista”]

Na eleição de 2016, o PT passou de terceiro maior partido em número de prefeitos do país para décimo, e venceu apenas em uma capital, Rio Branco. Quatro anos antes, havia conquistado quatro capitais.

Mesmo em Rio Branco, o partido enfrenta percalços e não conseguiu manter a aliança vitoriosa, com o PSB na vice. Reeleito em 2016, o petista Marcus Alexandre deixou o comando da prefeitura dois anos depois para disputar o governo estadual, mas foi derrotado. A vice Socorro Neri (PSB) assumiu e nesta eleição tentará um novo mandato, em uma chapa com o PDT como vice. O PT compôs com o Psol.

Em meio às dificuldades, o PT destaca a frente de esquerda organizada em Florianópolis. O candidato do Psol, Elson Pereira, terá o petista Lino Peres como vice, e apoio do PSB, PDT e PCdoB. Outra capital citada pela direção petista é Belém, onde o PT indicou a vice de Edmilson Rodrigues (Psol). O candidato terá também apoio do PDT, PCdoB e Rede.

Valor Econômico