Serão necessários 8 mil aviões grandes para distribuir vacinas pelo mundo
Foto: Christian Petersen / AFP
A Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata, na sigla em inglês) alertou governos ao redor do mundo sobre a dimensão dos desafios logísticos da distribuição global de uma vacina contra a Covid-19. A entidade, sediada no Canada, estima que 8 mil aviões do porte de um Boeing 747 seriam necessários para o transporte de apenas uma dose da vacina para as 7,8 bilhões de pessoas ao redor do planeta – e algumas vacinas consideradas promissoras pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS) podem depender de uma segunda dose para assegurar a imunização contra o coronavírus, aumentando ainda mais os percalços.
“A entrega segura de vacinas contra a Covid-19 será a missão do século para a indústria global de transportes aéreos. No entanto, ela não será possível sem um planejamento cauteloso e antecipado. E o tempo para planejar é agora”, afirmou o diretor-geral e CEO da Iata, Alexandre de Juniac, por meio de um comunicado distribuído à imprensa.
“Nós apelamos para que governos tomem a liderança na cooperação facilitadora entre as cadeias logísticas para que o armazenamento, as medidas de segurança e os procedimentos estejam preparados para a tarefa gigantesca e complexa que temos adiante”, completou de Juniac.
Outra dificuldade, apontou a entidade, é a diminuição expressiva de rotas globais aéreas em razão da pandemia da Covid-19. Com a queda brusca no número de passageiros, as companhias restringiram trajetos e deixaram de operar diversas aeronaves que estão estacionadas em localizações remotas, aguardando o retorno à normalidade. Esse fenômeno fatalmente dificultará que a eventual vacina aprovada contra o Sars-CoV-2 chegue ao maior número possível de lugares no planeta.
A própria OMS, pontuou a Iata, tem encontrado empecilhos nos seus programas de vacinas em decorrência da redução no número de rotas aéreas.
“É dever de todos garantir que todos os países tenham acesso seguro, rápido e igualitário às doses iniciais da vacina, quando estas estiverem disponíveis”, afirmou Henrietta Fore, diretora-executiva da Unicef, no mesmo comunicado. “A Unicef liderará o que será possivelmente a maior e mais rápida operação logística de todos os tempos. O papel das companhias aéreas e das companhias de transporte será essencial nessa tarefa”, completou Henrietta.
Depositar as fichas no transporte terrestre não corresponde à relação global, alerta de Juniac:
“Mesmo que assumamos que metade das vacinas necessárias poderão ser transportado por terra, a indústria de transporte aéreo de cargas enfrentará o maior desafio da história. Ao desenvolver seus planejamentos, os governos, em especial de países em desenvolvimento, precisarão levar em conta a limitação na capacidade das companhias no momento. Além disso, se fronteiras permanecerem fechadas, rotas suspensas, aeronaves estacionadas e funcionários na rua, a capacidade de entregar as vacinas será muito comprometida”.
A Iata chama atenção ainda para outros desafios, como atender aos requisitos regulatórios próprios dos imunizantes, como a temperatura – muitas fórmulas precisam ser mantidas abaixo de zero grau Celsius -, o que ainda é cercado de incertezas.
Para isso, seriam necessárias instalações e equipamentos adequados e funcionários qualificados para lidar com o material, bem como instrumentos de monitoramento da temperatura. Outro ponto é a segurança reforçada para impedir que a vacina, que se tornará uma commodity de altíssimo valor agregado logo que comprovada eficaz e segura, seja alvo de roubos.
A Iata também sugere que governos flexibilizem regras e taxas alfandegárias e adotem procedimentos céleres para autorizar o pouso e a decolagem de aeronaves que estejam transportando imunizantes, garantindo inclusive a prioridade. Há outros detalhes minuciosos, como a isenção de membros de tripulação de regras de quarentena contra a Covid-19 nos países onde a política esteja sendo adotada.