Bolsonarista diz que levou dinheiro na cueca para combater covid
Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado
Após ser flagrado na última quarta-feira em uma operação da PF com cerca de R$ 30 mil e parte das notas de dinheiro entre as nádegas, o senador de Roraima Chico Rodrigues (DEM-RR), vice-líder do governo Bolsonaro no Senado, afirmou estar tranquilo após a operação que investiga desvios em aplicação de recursos de combate ao coronavírus. “Apenas fiz meu trabalho de trazer recursos para combater a Covid-19 “, disse o senador.
— Tenho um passado limpo e uma vida decente. Nunca me envolvi em escândalos de nenhum porte. Se houve processos contra minha pessoa no passado, foram provados na justiça que sou inocente. Na vida pública é assim, e, ao logo dos meus 30 anos dentro da política, conheci muita gente mal intencionada com o intuito de macular minha imagem, ainda mais em um período eleitoral conturbado, como está sendo o pleito em nossa capital – declarou em nota.
O senador ainda afirmou confiar na justiça e prometeu provar que não tem envolvimentos com os atos ilícitos. Sobre a operação da PF, Rodrigues disse ter tido seu lar “invadido por apenas ter feito meu trabalho como parlamentar, trazendo recursos para o combate à COVID-19 na saúde do estado”.
— Não sou executivo, portanto não sou ordenador de despesas e, como legislativo, sigo fazendo minha parte, trazendo recursos para que Roraima se desenvolva. Que a justiça seja feita e que, se houver algum culpado, que seja punido nos rigores da lei – finalizou.
A operação que teve Chico Rodrigues como alvo foi deflagrada com autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso para investigar desvios milionários em recursos de combate à pandemia destinados por meio de emendas parlamentares à Secretaria de Saúde de Roraima.
A informação sobre a apreensão foi antecipada pela revista “Crusoé” e confirmada pelo GLOBO. O senador é membro da Comissão Mista do Congresso Nacional que acompanha a execução de recursos relacionados ao combate ao coronavírus.
O flagrante com dinheiro na cueca não é a primeira irregularidade protagonizada por Chico Rodrigues. Em 2006, quando estava em seu quarto mandato como deputado federal, foi investigado pela corregedoria da Câmara por seus altos gastos com gasolina e, na época, admitiu que apresentava outros gastos como se fossem de combustível para receber ressarcimento, mas acabou absolvido.
O caso foi revelado pelo GLOBO com um levantamento que mostrou que, no ano anterior, Chico Rodrigues havia gastado R$ 174,1 mil (em valores da época) com gasolina, o quarto maior gasto entre deputados. Já nos três primeiros meses de 2006 ele foi o que mais gastou: R$ 60 mil.
— Certo não é, mas é maneira que tenho para justificar o gasto. Essa verba deveria ser incorporada ao salário, liberada para qualquer gasto ou suspensa. Do contrário, fica o deputado obrigado a andar com um contador do lado. O deputado é obrigado a fazer uma verdadeira alquimia, ginástica para conseguir ressarcimento. É culpa da Câmara… — admitiu ele na ocasião, em entrevista.
Na mesma entrevista, admitiu que não precisava do ressarcimento da Câmara, mas acrescentou que utilizaria mais, se tivesse direito:
— Sou empresário e não preciso desse dinheiro, mas o que é de direito, não enjeito um centavo. E se tivesse mais, eu utilizaria.
Após a publicação da reportagem, o então presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), enviou o caso para ser investigado pela Corregedoria da Câmara. Chico Rodrigues, entretanto, recuou e disse que só gastava o dinheiro com gasolina.