Bolsonaro tenta apartar briga entre general e ministro

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Foto: Jorge William / Agência O Globo

Após o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, atacar pelas redes sociais o colega da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, chamando-o de #mariafofoca, o presidente Jair Bolsonaro entrou em campo para colocar panos quentes na situação. O ataque de Salles, no fim da noite de quinta-feira, foi em reação a uma nota da colunista do GLOBO, Bela Megale, que expôs a nova briga entre as alas ideológica e militar do governo. Na manhã de sexta, Bolsonaro esteve com Ramos e Salles na cerimônia em que a Força Aérea Brasileira (FAB) apresentou a aeronave F-39E Gripen, na Base Aérea de Brasília, e levou ambos para um almoço, com outros convidados, em uma galeteria.

Durante a refeição, os ânimos, que amanheceram exaltados, já pareciam serenados. Segundo aliados, Ramos convidou Salles para uma conversa em seu gabinete, no quarto andar do Palácio do Planalto, a fim de colocar um ponto final na crise. Salles sinalizou aceitar participar da reunião, mas a conversa ainda não ocorreu.

Auxiliares de Bolsonaro avaliam que o presidente não tomará partido de nenhum dos lados, assim como não entrou na disputa entre os ministros da Economia, Paulo Guedes, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. A tendência, acreditam, é que ele vá aguardar o desenrolar da crise entre militares e ideológicos e só avalie se fará alterações no time caso a poeira não abaixe.

A confusão entre Salles e Ramos começou às 21h de quinta-feira, quando o primeiro ligou para o segundo acusando de supostos vazamentos para imprensa.O ministro do Meio Ambiente estava inconformado com a nota da colunista Bela Megale que mencionou que Salles estava esticando a corda com a ala militar ao reclamar publicamente da falta de verbas. Oito horas antes daquela ligação, os dois ministros haviam se cumprimentado cordialmente ao serem condecorados em cerimônia no Palácio do Itamaraty.

Ao desligar o telefonema com Ramos, Salles recorreu às redes sociais. A primeira mensagem dizia: “Tenho enorme respeito pela instituição militar. Como em qualquer lugar, infelizmente, há sempre uma maçã podre a contaminar os demais. Fonte de fofoca, intriga, de conspiração e da discórdia, o problema é a banana de pijama”, escreveu, no Twitter.

Salles apagou a mensagem minutos depois e decidiu ser mais direto, mencionando o colega de ministério: “@MinLuizRamos não estiquei a corda com ninguém. Tenho enorme respeito e apreço pela instituição militar. Atuo da forma que entendo correto. Chega dessa postura de #mariafofoca”, publicou, às 22h21.

A postagem logo ganhou apoio de militantes da ala ideológica do governo. O ataque público de Salles a Ramos contou com a solidariedade do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente. No Twitter, o deputado escreveu para Salles: “Força, Ministro. O Brasil está contigo e apoiando seu trabalho”.

Nos bastidores, houve respaldo de ministros civis que se dizem incomodados com a “bolha militar” que a cúpula do Planalto, formada pelos generais Augusto Heleno (GSI), Walter Braga Neto (Casa Civil) e Ramos, estaria colocando o presidente. As críticas são de que os três privam o presidente de acesso a informações estratégicas.

Integrantes do governo veem no movimento de Salles uma tentativa orquestrada com outros ministros para trocar o comando da Secretaria de Governo. A intenção seria tirar o militar da articulação política e colocar um outro nome, talvez de um parlamentar. Bolsonaro ainda não se manifestou sobre o assunto.

A guerra interna entre Salles, que tem apoio da ala ideológica, e militares é antiga. Em agosto, o vice-presidente Hamilton Mourão, chefe do Conselho Nacional da Amazônia, acusou Salles de ter “se precipitado” ao anunciar que todas as operações de combate ao desmatamento ilegal e queimadas na Amazônia Legal e no Pantanal seriam suspensas por causa do bloqueio determinado pela Secretaria de Orçamento Federal de cerca de R$ 60,6 milhões para Ibama e ICMBio. Ao anunciar o fim das operações, Salles atribuiu publicamente o corte às pastas de Ramos e Braga Netto.

Segundo o colunista Lauro Jardim, o apelido que Salles deu a Ramos de #mariafofoca também já foi usado no Planalto pelo chefe da Secom, Fábio Wajngarten, para referir-se ao general. A relação entre os dois é ruim. Wajngarten era subordinado de Ramos e agora está no Ministério das Comunicações, conduzido pelo ministro Fabio Faria.

Na sexta-feira, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o ataque de Salles a Ramos foi “péssimo” e defendeu que Salles deveria ter conversado pessoalmente com Ramos.

O titular da Secretaria de Governo recebeu respaldo também do Congresso. O líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), publicou em suas redes que o ministro está “entrosado com líderes de governo” e “assegurando a governabilidade”. Ramos não respondeu aos ataques e, procurado, não quis comentar o episódio.

O Globo