Campos se aproxima de alas do PT
Foto: Reprodução Facebook
A última pesquisa do Datafolha sobre as eleições no Recife acendeu um alerta na campanha do deputado federal João Campos (PSB), filho do ex-governador Eduardo Campos, que lidera disputa com 31% das intenções de voto. O crescimento da Delegada Patrícia (Podemos), de 10% para 16%, abriu a possibilidade de a candidata, estreante na política, ir para o segundo turno. O embate entre os dois é visto como o que mais ameaça a hegemonia da esquerda no Recife, comandada há 20 anos pelo PSB e PT.
Nos bastidores, aliados do PSB dizem que a partir de agora o foco da campanha é tentar direcionar todos os esforços para liquidar a fatura já no primeiro turno. Na prática, isso significa não apenas concentrar a maior parte dos recursos na reta final do primeiro round, mas também tentar uma união com algumas alas do PT mais ligadas ao PSB.
Não há possibilidade de João Campos conseguir acordo com a prima Marília Arraes (PT) e, até o momento, a ala do partido ligada ao senador Humberto Costa (PT) – que já defendeu que PT se aliasse ao PSB no Recife esse ano – também não considera essa hipótese. No entanto, diz um petista, há segmentos dentro do PT que poderão passar a pedir votos para Campos, caso a delegada Patrícia continue crescendo e Marília dê sinais de estagnação ou desidratação.
Tecnicamente empatada com Patrícia na margem de erro de três pontos, Marília é a segunda colocada nas pesquisas de intenções de voto, segundo o Datafolha, com 18%, um ponto percentual acima do registrado na pesquisa anterior. Nas últimas semanas, a candidatura de Marília vinha perdendo aderência da esquerda e a petista mudou a estratégia, colando na imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Marília e Patrícia também estão empatadas, dentro da margem de erro da pesquisa, com o ex-ministro Mendonça Filho (DEM), que variou de 16% para 15%. Ninguém arrisca um palpite sobre o resultado da disputa entre os três pela vaga no segundo turno, mas, para Campos, o adversário “mais fácil de bater” seria Mendonça, diz um aliado.
O Datafolha mostrou que o candidato do PSB venceria Mendonça por 48% a 36%. Contra qualquer uma das mulheres, a briga é mais dura. A pesquisa mostrou Campos e Marília em empate técnico, com 40% contra 37%. Contra Patrícia, o empate é numérico, com cada um recebendo 43% das intenções de votos.
Campos, 27 anos, lidera em rejeição, com 34% dos eleitores dizendo que não votariam no candidato. Em segundo lugar vem Mendonça, com 28%, seguido por Marília, com 22%. A delegada tem o menor índice entre todos os candidatos, com 15%.
Aos 37 anos, nascida no Rio, e moradora do Recife há 12 anos, a delegada tem sido obrigada a se defender depois que publicações controversas em seu perfil de Facebook foram expostas. Em uma delas, em 2011, a delegada referiu-se ao Recife como Recífilis. “Brincadeira que aprendi com meus amigos recifenses”, disse em sabatina, sem pedir desculpas. Ela também afirmou que Recife ganhou esse apelido pela má gestão de saúde. As entrevistas do Datafolha foram feitas nos dias 20 e 21, depois do surgimento do episódio Recífilis.
Embora atraia parte do voto conservador, a candidata não é bolsonarista. Com campanha coordenada pelo deputado Daniel Coelho (Cidadania), ela tem um discurso pautado pelo combate à corrupção e o desejo de “libertar o Recife da dinastia das famílias Campos e Arraes”. Nas poucas vezes que ela se referiu ao presidente, em vídeo, foi para destacar que Bolsonaro ajudou a população com o auxílio emergencial, enquanto a Prefeitura do Recife não teria feito nada na pandemia.
A aposta de Coelho é que, se ficar claro que Patrícia é a mais forte para derrubar o PSB, ela atrairia o voto útil da direita que não quer um segundo turno entre os primos, roubando votos de Mendonça e dos candidatos nanicos do Novo, PSL, PSC e PRTB, que somaram 5% do Datafolha. A pesquisa, encomendada pela “Globo” e “Folha de S.Paulo”, ouviu 868 eleitores, e está registrada na Justiça Eleitoral sob protocolo PE-05988/2020. O nível de confiança é de 95%.