Candidatos a prefeito de SP apostam em auxílio emergencial

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Foto: MAURO PIMENTEL/AFP

A mais popular das medidas do governo federal para conter a crise econômica causada pela pandemia de covid-19, o auxílio emergencial virou tema central em campanhas municipais e esquenta a disputa pela prefeitura da maior cidade do país. Em São Paulo, enquanto alguns candidatos, como Arthur do Val (Patriota), o Mamãe Falei, defendem o fim do pagamento, outros pregam sua continuidade e prometem versões locais do programa, caso de Guilherme Boulos (Psol) e Celso Russomano (Republicanos). Já Bruno Covas (PSDB), que tenta a reeleição, articulou um auxílio de R$ 100 na cidade ainda este ano, o que foi chamado de “compra de votos” por Joice Hasselmann (PSL).

Candidato da esquerda mais bem posicionado nas pesquisas, Boulos tem a proposta mais ambiciosa: promete criar um programa de distribuição de renda chamado Renda Solidária, que alcançaria cerca de um quarto da capital paulista. “Vamos atender um milhão de famílias. Isso representa 3 milhões de pessoas. Vamos acabar com a extrema pobreza”, disse Boulos em transmissão ao vivo pela internet. A ideia inicial é o pagamento de um benefício entre R$ 300 e R$ 400 por mês.

Russomano apresenta proposta semelhante, afirmando que criará um auxílio emergencial paulistano para a população que já é atendida pelo atual benefício do governo federal. O candidato ainda não entrou em detalhes de valores ou como a Prefeitura de São Paulo vai custear a proposta. “Estamos estudando um auxílio paulistano, que seria um complemento ao que o governo federal está fazendo. Agora, com muito critério para saber de onde a gente vai tirar dinheiro para que o município continue investindo e continue com suas atribuições, que são importantíssimas: transporte, coleta de lixo, iluminação e todas as outras coisas”, disse o candidato durante um debate eleitoral. Celso Russomano, acrescentando que é importante manter a geração de empregos, pois “ninguém gosta de viver de auxílio emergencial”.

Boulos, por sua vez, acusa o adversário de hipocrisia e incoerência e lembra que Russomano, que é deputado federal, votou contra a manutenção do benefício e a favor da redução no valor de R$ 600 para R$ 300. O auxílio emergencial foi criado em março deste ano com a proposta inicial de três parcelas de R$ 200, mas o projeto final aprovado garantiu parcelas no de R$ 600. Depois, foi reduzido para R$ 300, com pagamento previsto até dezembro.

Em meio ao debate, o atual prefeito, Bruno Covas, que tenta a reeleição, articulou com o presidente da Câmara Municipal, Eduardo Tuma (PSDB), a votação de um projeto do vereador Eduardo Suplicy (PT), para dar um auxílio de R$ 100 para até 1,7 milhão de pessoas até o fim do ano. O projeto foi aprovado pela Casa no dia 22, o que gerou críticas de Joice Hasselmann. “É compra de votos”, disse a candidata.

A decisão do governo de garantir o pagamento apenas até dezembro faz com que candidatos mais alinhados a Bolsonaro defendem, durante a campanha, o fim do auxílio, algo do qual a maioria da população discorda, segundo pesquisas. Arthur do Val faz parte desse time e chama a manutenção do programa de “populismo”.

“São Paulo não tem dinheiro para construir absolutamente nada, não tem dinheiro para dar auxílio para ninguém”, argumentou recentemente durante sabatina do jornal Estado de S. Paulo. “Eu duvido que o Bolsonaro seja amigo de fato do Celso Russomanno e, mesmo que fosse, (duvido que) ele teria dinheiro para entregar para a cidade fazer auxílio populista”, acrescentou.

Para o economista Marcel Pereira, a permanência do auxílio não é uma proposta factível enquanto não houver uma forte reforma fiscal. “O primeiro passo foi dado com a reforma da Previdência, mas é preciso a reforma tributária e reforma administrativa para que o ambiente seja sustentável. Um programa de tal porte só poderia ser introduzido adequadamente após esses passos. Do contrário, os males serão maiores que os benefícios no médio e longo prazo”, acredita.

Já para o professor da Faculdade Processus Jonas Rodrigo Gonçalves, doutorando em psicologia política e mestre em ciência política e direitos humanos, em uma situação de pandemia, com o desemprego potencializado e diminuição da renda dos trabalhadores informais, é papel do Estado auxiliar financeiramente a população vulnerável. “Nesse sentido, independentemente de viés econômico deste ou daquele governo, justifica-se, enquanto política de transferência de renda, o auxílio emergencial às pessoas que se encontram em situação de pobreza ou de extrema pobreza”, argumenta.

Correio Braziliense