Candidatos evangélicos apostam no “bandido bom é bandido morto”

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Foto: Reprodução

O ativismo político evangélico pretende dar um passo a mais na corrida eleitoral deste ano. Colados na imagem do presidente Jair Bolsonaro, líderes evangélicos querem ampliar sua participação nas cidades. E uma estratégia é a combinação de candidaturas de religiosos com as de nomes ligados às forças de segurança pública, sobretudo os que apoiam o presidente Jair Bolsonaro.

É o que acontece em pelo menos sete capitais: Belém, Porto Velho, Manaus, Teresina, Fortaleza, Vitória e Natal. Em Manaus, o candidato dos evangélicos é o deputado federal e ex-capitão da PM Alberto Neto (Republicanos-AM), apadrinhado por Silas Câmara, presidente da bancada evangélica na Câmara federal. Ao GLOBO, o candidato disse ser “100% Bolsonaro”.

— Essas candidaturas são naturais porque evangélicos e militares têm pautas que convergem, como a defesa dos valores da família e o conservadorismo. O mesmo acontece com o segmento agropecuário. O Bolsonaro fez essa leitura em meio ao descrédito da esquerda e se tornou o maior representante desse nicho — diz o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), frequentador da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC), liderada por Silas Malafaia.

Em Vitória, o candidato dos evangélicos é o delegado Leandro Pazolini (Republicanos), cuja vice é a capitã Estéfane. Em Fortaleza, estão com capitão Wagner (PROS). Em Porto Velho, é o líder da Assembleia de Deus Lindomar Garçom (Republicanos), tendo como vice a cabo Milene Barreto (Republicanos); e em Belém, o deputado federal e pastor Vavá Martins (Republicanos) e sua vice, sargento Gonçalves. Em Natal, devem apoiar o deputado estadual e coronel da PM André Azevedo (PSC).

Após tentativa de criar um partido próprio, o Aliança pelo Brasil, parte do espólio bolsonarista acabou atraída para o Republicanos, partido sob forte influência da Igreja Universal do Reino de Deus. Os filhos do presidente Carlos e Flávio, além de sua ex-mulher Rogéria Bolsononaro, se filiaram à legenda.

— O Republicanos reproduz uma estratégia que deu certo. O Bolsonaro multiplicou seus votos entre 2010 e 2014: uniu a defesa de reivindicações corporativistas de militares à pauta dos costumes e se aliou aos expoentes da bancada evangélica — diz o sociólogo Ricardo Mariano, professor da USP.

Candidatos do partido nas maiores cidades do país, Marcelo Crivella, no Rio, e Celso Russomanno, em São Paulo, já receberam sinais de apoio do presidente. Russomanno não é evangélico, mas abraça as pautas do setor e da segurança pública. Ainda assim, uma parte do segmento na capital, incluindo o presidente da Câmara, Eduardo Tuma (PSDB), apoia o prefeito tucano Bruno Covas, que disputa a reeleição.

Em 2018, a Igreja Universal criou o grupo Universal das Forças Policiais, com palestras e orientação psicológica.

— Religião e polícia se misturam em torno de uma agenda norteada por questões morais. O policial é valorizado e desejado como ativo eleitoral — analisa Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum de Segurança Pública.

O Republicanos deve lançar mais de três mil candidatos ao Legislativo e ter cabeças de chapa em nove capitais. O objetivo é triplicar sua bancada, hoje com cerca de 1.200 vereadores no país. O partido passou de um para 34 deputados desde 2005. Tornou-se um partido com mais deputados que legendas tradicionais como PSDB, PDT e DEM. Outros partidos têm presença de evangélicos, sobretudo PSL e PSC, mas em menor número.

A presença nas Câmaras municipais é tida como crucial para os evangélicos. É lá que esperam promover pautas como a da escola sem partido e sem ideologia de gênero. A Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil estima que eles poderão eleger cerca de 60% de seus candidatos.

O Globo