Centrão tenta blindar Kássio contra Lava Jato
Foto: Wilton Junior/Estadão
O Centrão já se mobiliza para blindar o desembargador Kassio Marques, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Após o Estadão revelar ontem que o currículo do desembargador apresenta um curso de pós-graduação não confirmado pela Universidade de La Coruña, na Espanha, integrantes do Centrão e outros aliados do governo saíram em sua defesa. Nesta quarta, 7, veio a público que a dissertação de mestrado de Marques tem trechos idênticos a de artigos de um outro advogado.
Até mesmo o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que não é do grupo, mas se aproximou de Jair Bolsonaro, disse que o presidente está deixando um “legado” com o desmonte da Lava Jato. “Ele já encadeou várias medidas, desde o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), a questão da Receita, a nomeação do Aras (Augusto Aras, procurador-geral da República) para a chefia do Ministério Público, a demissão do Moro (Sérgio Moro, da Justiça) e, agora, a nomeação do Kassio. É o grande legado que ele pode deixar para o Brasil: o desmonte desse sistema”, afirmou Renan, em entrevista à CNN Brasil. O senador é réu da Lava Jato e sempre criticou o que chama de “abusos” da operação.
Renan e outros parlamentares, além do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e dos ministros Bruno Dantas e Vital do Rêgo Filho, do Tribunal de Contas da União (TCU), participaram de um jantar com Kassio Marques, oferecido pela senadora Kátia Abreu (PP-TO) nessa terça-feira, 6.
Na reunião, o desembargador atribuiu informações erradas em seu currículo a falhas na tradução. Presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PI) – que já chegou a chamar o desembargador do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1) de “nosso Kassio” – afirmou que as críticas feitas ao magistrado não serão capazes de prejudicar a confirmação do nome dele para o Supremo. O ministro Celso de Mello, decano da Corte, vai se aposentar no próximo dia 13 e a sabatina de Marques na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado está marcada para o dia 21.
“Isso daí (inconsistências no currículo) é uma tentativa que não vai funcionar”, disse Ciro Nogueira, ao deixar a casa de Kátia. Na mesma linha, o deputado Arthur Lira (AL), líder da bancada do PP na Câmara, defendeu Marques. “É um nome respeitado, com uma atuação firme. Foi uma excelente escolha do presidente”, comentou Lira.
O clima do jantar com o desembargador foi de descontração, com muitas gargalhadas. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que já participou de outros encontros com Marques, também estava presente. No cardápio, um tipo de caranguejo comum na culinária do Tocantins.
“Ele (Kassio Marques) contou toda a luta e trajetória dele. Com certeza surpreendeu muito positivamente”, declarou o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP). Marques deixou o apartamento de Kátia Abreu pela garagem, sem falar com os jornalistas.