Crivella assume hoje apoio de Bolsonaro
Foto: BRENNO CARVALHO / Agência O Globo
No Rio e São Paulo, os dois candidatos mais próximos do presidente Jair Bolsonaro caminham, a pouco mais de duas semanas da eleição, em direções opostas. Após vários acenos ao presidente, Marcelo Crivella (Republicanos) deve receber nesta quinta-feira o apoio oficial de Bolsonaro, em sua transmissão ao vivo semanal. Já Celso Russomanno (Republicanos), que só entrou na disputa eleitoral depois de garantir o apoio presidencial, reduziu a presença de Bolsonaro em seus programas no rádio e na TV e até recuou em alguns temas, como a obrigatoriedade da vacina.
As campanhas dos dois candidatos enfrentam dificuldades. No Rio, Crivella viu sua vaga no segundo turno ser ameaçada por Martha Rocha (PDT), que cresceu e empatou numericamente com o atual prefeito, de acordo com a última pesquisa Datafolha. O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) mantém a dianteira isolado. Já em São Paulo, Russomanno tenta estancar a sangria após despencar sete pontos na última sondagem do Datafolha e perder a liderança para Bruno Covas (PSDB). A rejeição a um candidato apoiado por Bolsonaro na cidade chegou a 63%, segundo o instituto.
O anúncio do apoio público do presidente a Crivella foi feito pelo deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), que participou de uma reunião com Bolsonaro no Palácio da Alvorada e depois divulgou um vídeo em suas redes sociais. O parlamentar também disse que o presidente vai gravar um vídeo para o horário eleitoral do atual prefeito.
— O presidente entendeu que os dois lados já estão definidos, Eduardo com Doria e Maia (Rodrigo), e a Martha com o Ciro, e que ele precisa entrar nesse primeiro turno, já. Ele vai, nesta quinta-feira, falar na live dele sobre o acordo e vai fazer um vídeo para a televisão e para ser viralizado nas redes sociais — garantiu.
Em conversa com deputados federais da base, nesta semana, no Planalto, Bolsonaro já tinha recusado um pedido para declarar apoio a um candidato a prefeito e sinalizou que só gravaria para Crivella.
— Tem pedido em um montão de municípios. Em alguns eu vou entrar na reta final (da campanha). Não me leve a mal, mas nem conheço esse cidadão aí. Não vou apoiar nenhum candidato no Rio a não ser o Crivella — disse, em áudio a um parlamentar aliado.
À tarde, Otoni participou de uma live com Crivella. O prefeito comemorou o apoio do presidente e afirmou que sua vitória é o primeiro passo para a reeleição de Bolsonaro em 2022. A campanha de Crivella já trabalhava nos bastidores por uma sinalização do presidente no início de novembro.
— Minha eleição não é só o Crivella, é uma cabeça de ponte. Estamos aqui lutando contra a ideologia de gênero nas escolas e por nossas crianças — disse o prefeito.
Já em São Paulo, Russomanno reavaliou a presença de Bolsonaro na sua campanha e decidiu atacar prioritariamente a relação do atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), com o governador João Doria (PSDB), que também acumula alta rejeição na capital. A maior parte dos jingles utilizados pela campanha de Russomanno também deixaram de citar o presidente. Os versos que foram ao ar nas semanas anteriores diziam que com “Russomanno e Bolsonaro, quem ganha é a nossa cidade”. O marqueteiro da campanha, Elsinho Mouco, nega que o candidato tente se descolar de Bolsonaro, mas reconhece que agora o foco é associar Covas a Doria.
A mudança de rumo de Russomanno começou na semana passada, após o Datafolha apontar uma queda expressiva sua e um crescimento da sua rejeição, de 29% para 38%. O candidato do Republicanos contrariou falas do presidente, disse que faria convênio com o Instituto Butantan para a compra da vacina Corovac, desenvolvida em parceria com a China, e que tomaria ele próprio uma dose.
A imagem do presidente também está ausente das campanhas no Nordeste. Apesar de Bolsonaro ter declarado apoio a Capitão Wagner (PROS), que disputa a prefeitura de Fortaleza, o próprio candidato, líder nas pesquisas, não o citou na campanha. Em São Luís, Eduardo Braide (Podemos), que está à frente nas pesquisas, nega o apadrinhamento do presidente. Bolsonaro declarou, na quarta-feira passada, que era necessário derrotar o governador maranhense Flávio Dino (PCdoB) na cidade — Braide faz oposição a Dino. Em Maceió e Teresina, onde há candidatos de líderes do centrão próximos a Bolsonaro, como Arthur Lira (PP-AL) e Ciro Nogueira (PP-PI), o presidente não deve entrar na disputa por decisão dos próprios candidatos.