Eleições municipais ignoram polarização
Foto: Amira Hissa/Divulgação
Os resultados das pesquisas Ibope para 11 capitais indicam o desafio do PT e dos bolsonaristas do PSL, PRTB e Patriota em viabilizar uma campanha rumo ao segundo turno. Em parte das capitais, como São Paulo, sequer há polarização entre esquerda e direita. E, em alguns casos, políticos de outros partidos progressistas largaram melhor que os petistas no início da corrida, enquanto conservadores que colaram a candidatura à imagem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) começam na frente dos “novos”.
Os números mostram que os partidos do Centrão se saem melhor na primeira rodada de intenção de voto, principalmente por serem aqueles que contam com um efeito recall. Em alguns casos, são mais conhecidos por serem os que buscam a reeleição ou por já terem assumido algum cargo público de relevância anteriormente.
Dos líderes na pesquisa, considerando a margem de erro de três pontos para mais ou para menos, quatro estão em legendas que compõem a base de apoio do presidente Jair Bolsonaro, como Republicanos, PSD e PP.
Alexandre Kalil (PSD), que lidera na capital mineira com 58% das intenções de voto, é o que apresenta maior vantagem. Outros quatro são do DEM, como Gean Loureiro, que lidera com folga em Florianópolis (SC), com 44% dos eleitores, segundo pesquisa divulgada na segunda-feira.
Se as legendas mais de Centro figuram no topo, no campo progressista, o PT vê em capitais como Recife (PE), Belém (PA) e Porto Alegre (RS) o sucesso de candidaturas de partidos do mesmo campo ideológico, como PSB, PSOL e PCdoB, enquanto seus nomes isolados em algumas cidades patinam ou nem pontuam.
Em Recife, João Campos (PSB) não apenas lidera, com 23% das intenções de voto, mas aparece com vantagem na frente de Marília Arraes (PT), com 14%. Em São Paulo, Márcio França (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL) têm quase quatro vezes mais intenções de votos, se comparado a Jilmar Tatto (PT).
Em compensação, candidatos que conseguiram certa unidade no campo da esquerda têm melhor desempenho, como Edmilson Rodrigues (PSOL), que lidera com 39% em Belém (PA), e Manoela D’Ávila (PCdoB), com 24% das intenções de voto, segundo pesquisa divulgada ontem.
No campo conservador, os chamados “novos bolsonaristas”, aqueles que surgiram na onda da eleição de 2018, têm o desafio de concorrer com candidatos mais conhecidos que tentam associar a imagem ao presidente Jair Bolsonaro, como Marcelo Crivella, no Rio de Janeiro, e Celso Russomanno, em São Paulo, ambos do Republicanos.
Na capital paulista, por exemplo, Russomanno, cujo percentual de voto declarado é de 26%, tem parcela do eleitorado visado por Joice Hasselman (PSL) e Arthur do Val (Patriota), ambos com 1%.
Em Belo Horizonte, o percentual de 58% registrado por Alexandre Kalil (PSD) é um desafio para o bolsonarista Bruno Engler (PRTB), com apenas 3%.
Especialistas afirmam que a campanha de rádio e televisão, com início na sexta-feira, pode alterar parte do cenário da primeira rodada da pesquisas.
Na avaliação de Ricardo Ismael, professor do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio, os candidatos que lideram e contam com o apoio de Bolsonaro saem na frente também por conta da imagem conhecida. Como nesta eleição ele acredita que o efeito Bolsonaro não terá a mesma magnitude que 2018, quando desconhecidos forem eleitos, será fundamental ter o que mostrar, como propostas e conhecimento da cidade que vai governar.
— São políticos que vão ter que mostrar algo além do apoio — ressalta Ismael. — Eles vão precisar de vida própria.
Outro fator que pesa é a questão da competitividade da candidatura. Na avaliação do pesquisador Eduardo José Grin, da FGV, hoje o campo da direita tem uma fragmentação de candidatos, prejudicando a unidade em torno de um nome. Ele explica que, se há candidaturas competitivas, outras no mesmo campo ideológico apresentam dificuldades em ganhar tração.
— Ainda tem a própria insignificância desses deputados que surfaram na onda bolsonarista, que, do ponto de vista de densidade eleitoral, ainda são frágeis, não se apresentam de modo crível. A inexpressividade (apresentada na pesquisa) não é nada espantoso — destaca Grin.
Candidatos mais ligados ao centro tendem a ter bom desempenho em eleições municipais uma vez que, na disputa local, a decisão do voto costuma ser pragmática e voltada para temas da cidade.
— Candidaturas que fogem dos extremos políticos tendem a ganhar fôlego porque abordam temas concretos e locais. É o caso do centrão em várias capitais — ressalta Fernanda Cavassana, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
No campo da esquerda, Ismael afirma que os primeiros resultados não são animadores para o PT que, além de tentar recuperar a imagem do desgaste causado pela Operação Lava-Jato, tem partidos do mesmo campo com candidatos mais competitivos:
— O partido ainda administra um prejuízo. Vai ter que brigar mais para se destacar.
Na avaliação dos cientista políticos, o fator “Lula” pode fazer diferença. Por isso, o potencial de crescimento do PT hoje é maior do que o de algumas legendas de direita, como PSL e PRTB.
— A foto do momento aponta que o PT perdeu espaço, mas pode crescer, um cabo eleitoral como Lula não é desprezível. Hoje o PSL não tem nenhum cabo para puxar voto — ressalta Grin.