Farmacêutica brasileira quer vender vacina por US$ 5
Foto: IGO ESTRELA/METRÓPOLES
A União Química tem nove fábricas no Brasil e uma nos Estados Unidos. A unidade Btheck Biotecnologia, localizada no Polo JK, em Santa Maria, é a única fábrica brasileira capaz de produzir biofármacos – remédios de última geração obtidos a partir de micro-organismos ou células modificadas geneticamente. “Outras plantas cuidarão do fracionamento e envase da vacina, mas a fórmula dos imunizantes será fabricada aqui no Distrito Federal”, informou Marques.
Inaugurado em 2017 com investimento de US$ 30 milhões, o laboratório brasiliense possui os equipamentos adequados para a produção da vacina desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, de Moscou. O centro de distribuição será a fábrica de Guarulhos, em São Paulo.
A relação da União Química com a Rússia é anterior à Covid-19, pois a farmacêutica brasileira mantinha negociações na área de biotecnologia com o país antes da pandemia. Quando a Sputnik V foi apresentada ao mundo, os laços estavam suficientemente fortes para que o empresário fosse o escolhido pelo Fundo de Riqueza Soberana da Federação Russa (RDFI) para tocar o projeto da vacina na América Latina.
O imunizante da Rússia virou notícia mundial em 11 de agosto, quando o presidente do país, Vladimir Putin, anunciou que havia registrado a primeira vacina contra a Covid-19 do mundo. Recebida com desconfiança — o registro não foi acompanhado de detalhes sobre as pesquisas realizadas para o desenvolvimento do fármaco –, a fórmula vem ganhando espaço e credibilidade conforme a Rússia aumenta a transparência dos dados e o RDIF encontra parceiros para a iniciativa.
Nessa terça-feira (27/10), quando recebeu o Metrópoles, Fernando Marques se preparava para uma série de compromissos, ao lado do ex-governador do DF, Rogério Rosso, que hoje trabalha como diretor de negócios internacionais da União Química. Entre as tarefas planejadas para o resto da semana, está o pedido de registro da vacina russa na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Como é o acordo fechado com o RDIF (Fundo de Riqueza Soberana da Federação Russa)? Qual é o investimento?
O acordo com os russos é de transferência tecnológica. Eles vão permitir que a gente produza a vacina aqui e que sejamos representante deles para a América Latina. Além de produzir a vacina, também seremos responsáveis pelo envasamento do medicamento. Por enquanto, não dimensionamos a capacidade produtiva, tudo isso dependerá dos acordos que serão fechados com os outros países. Posso dizer, entretanto, que já estamos sendo procurados por embaixadas para fornecer a vacina.
Por que o DF foi escolhido como planta para a produção da vacina? Qual a capacidade produtiva?
A nossa companhia é a principal do país em biotecnologia. A fábrica do DF é muito moderna e tem os equipamentos adequados para a produção da vacina. Foi construída pela General Eletrics (G&E), com investimento de US$ 30 milhões. Uma vez a vacina sendo liberada (pela Anvisa e por governos de outros países), vamos poder dimensionar isso melhor, bem como falar sobre novos investimentos.
Quanto vai custar a vacina? Quando o senhor imagina que ela estará disponível para a população?
O preço será bastante acessível. Estamos imaginando que vai custar abaixo de US$ 5, por volta de US$ 3. Queremos ter uma margem de lucro normal, não explorar a situação trágica causada pela Covid-19. Vamos fechar o cronograma certo agora na segunda quinzena de novembro, quando os técnicos russos virão a Brasília ver a fábrica e organizar como será a produção. Acredito que no primeiro trimestre de 2021, a Sputnik V produzida no Brasil estará disponível para a comercialização.
E se a vacina não funcionar?
A vacina já está funcionando. É uma vacina que está na fase 3 e foi aplicada na Rússia em 40 mil pessoas. Nesta semana, entraremos com o pedido de registro, com documentação robusta. Se a Anvisa exigir que se faça novamente a fase 3 da vacina aqui, faremos. Já temos isso alinhado (os testes), inclusive, com os estados.