Mais verba eleitoral não ajuda PSL
Foto: Reprodução/ O Globo
Com a segunda maior fatia do fundo eleitoral, uma distribuição desigual desses recursos e sem o apoio do presidente Jair Bolsonaro, o PSL patina até agora nas eleições municipais. Das 13 capitais com candidatura própria, em apenas uma — a de Vanda Monteiro, em Palmas — o partido aparece na briga por vaga no segundo turno, segundo o Ibope. O rateio da verba de campanha já causa disputas, por suposta prioridade para aliados de caciques locais e do presidente nacional da legenda, Luciano Bivar.
Até a noite de ontem, o PSL já havia direcionado R$ 61,1 milhões para candidaturas a prefeito e vereador, o equivalente a 30% dos R$ 199,4 milhões que o partido tem à disposição através do fundo eleitoral. A campanha que mais havia recebido recursos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), era a de Carlos Andrade Lima, candidato à prefeitura de Recife, reduto eleitoral de Bivar. O candidato, que figura com 1% das intenções de voto, recebeu R$ 4,2 milhões da legenda.
A desigualdade nos repasses levou a uma manifestação de repúdio, nas redes sociais, de candidatos em Minas Gerais. Candidata a vereadora em Belo Horizonte e presidente do PSL Mulher na cidade, Marcela Valente classificou como “imoral” e “quebra de uma concorrência saudável” o repasse de R$ 690 mil feito pelo partido à candidatura de Janaína Cardoso, ex-mulher do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. Além do repasse a Janaína, que concorre na capital mineira, o PSL direcionou R$ 1,1 milhão para a candidatura de Delegada Sheila à prefeitura de Juiz de Fora. Sheila é aliada do deputado Charlles Evangelista (PSL-MG), atual presidente do PSL em Minas.
Em 2019, o ministro do Turismo foi denunciado pelo Ministério Público (MP) de Minas por conta de suposto esquema de candidaturas-laranja do PSL mineiro nas eleições de 2018. Álvaro Antônio, que era presidente do diretório estadual à época, nega irregularidades. Para o cientista político Josué Medeiros, do Núcleo de Estudos Sobre a Democracia Brasileira (NUDEB) da UFRJ, o desempenho tímido do PSL nas principais capitais e as intrigas envolvendo repasses indicam que o partido não se reestruturou após o boom eleitoral em 2018.
— O PSL não tem uma grande estrutura partidária, segue um modelo com “cacicão” nacional e caciques menores em alguns estados. A saída do Bolsonaro envolveu justamente uma disputa por recursos. Há uma expectativa, talvez, por melhor desempenho nas eleições municipais, mas o PSL nunca foi preparado para isso e continua não sendo — avaliou.
Para Medeiros, o racha com o bolsonarismo se soma à desorganização interna como motivos para candidaturas pouco competitivas em capitais até aqui. Em Boa Vista (RR), onde Antônio Carlos Nicoletti — que ficou conhecido pela retórica anti-imigrantes — soma 10% das intenções de voto, sua campanha sinalizou que teria o apoio de Bolsonaro, o que foi desmentido pela família do presidente.
Nicoletti diz que sua candidatura não deve receber no primeiro turno nada além dos R$ 2 milhões já enviados pelo partido. Ele argumenta que a campanha tem que ir além de recursos partidários.
— Não é só o tempo disponível no horário eleitoral que define uma campanha. É preciso passar uma mensagem clara, verdadeira. Estamos, de sol a sol, caminhando nos bairros e apresentando nossas propostas — afirmou.
Em entrevista ao GLOBO na última semana, o candidato à prefeitura do Rio, Luiz Lima, disse que o racha do partido vem atrapalhando a campanha. Ele foi alvo de “fogo amigo” do deputado estadual Anderson Moraes (PSL), que o chamou de “traidor” do presidente.
— Os recursos partidários com certeza são importantes, assim como o horário eleitoral, para que eu me apresente, e para que o eleitor de direita naturalmente se aproxime — avaliou.