Trump foi obrigado a seguir ciência e largar cloroquina
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O tratamento do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para se recuperar da covid-19, segue evidências científicas, pelo menos em relação à orientação de não usar a hidroxicloroquina para combater a doença. Na avaliação do médico do Sírio-Libanês Luciano Cesar Azevedo, um dos coordenadores da Coalizão Covid Brasil, que realiza as principais pesquisas do país sobre o coronavírus, os médicos de Trump “unem medicamentos com evidência científica”, sem utilização da cloroquina para esse tratamento. Luciano aponta, porém, a inclusão de mais medicamentos “cuja a comprovação da eficácia é inexistente”. Abaixo, a entrevista na íntegra.
Qual sua avaliação sobre tratamento que Donald Trump vem fazendo após o diagnóstico da covid-19?
É difícil falar sobre o que realmente vem acontecendo, porque temos só o informativo dos médicos e às vezes, outras informações que não contribuem para termos um entendimento completo do quadro. Eles informaram que Trump começou com um antiviral, o antiviral remdesivir, que não está disponível para brasileiros, a não ser em uma iniciativa de pesquisa. Mas é um número muito pequeno de pacientes.
Qual medicamento Trump usa e que tem comprovação científica?
Trump também está tomando a dexametasona. Ela pode ser ministrada na fase mais tardia e, preferencialmente, em pacientes com quadros mais graves. Quando Trump começou a usá-la, todos se perguntaram se havia piorado seu quadro clínico. E o uso da dexametadosa foi relacionado pelos médicos do presidente às quedas de oxigenação. A Coalizão Covid Brasil fez um estudo com dexametasona nas fases mais graves da doença, com pacientes que precisaram de oxigênio ou usaram ventilação mecânica, mostramos benefício nesses doentes.
Qual sua avaliação sobre o presidente não ter usado a hidroxicloroquina?
É uma demonstração de que os médicos de Trump, pelo menos nessa frente da hidroxicloroquina, seguem a medicina baseada em evidência. De fato, a evidência científica nos estudos mais bem realizados é toda negativa.
Trump usou medicamentos que não são alvos de pesquisa no Brasil?
Sim. O presidente usou o anticorpo monoclonal. Eu desconheço se há pesquisas nesta frente no Brasil. O que a gente tem feito no Sírio, em parceria com outras instituições, é o uso de plasma convalescente, que é mais ou menos a mesma ideia. São abordagens terapêuticas semelhantes, mas não a mesma coisa, porque o plasma tem inúmeros outros anticorpos que não vão agir contra o coronavírus. Já o anticorpo monoclonal é uma preparação mais purificada e age diretamente na proteína viral para a qual ele é alvo. Então, em teoria ele é mais eficaz, mas ainda é algo muito experimental. Não tem nenhum estudo mostrando que isso funciona. E, quando ficar pronto, se for efetivo, vai ser muito caro.
Para o senhor Trump segue um tratamento com base em evidências cientificas?
É tratamento que une medicamentos com evidência científica e outros cuja a comprovação da eficácia é inexistente, como melatonina, vitamina D. Mesmo sobre o anticorpo monoclonal, ainda não há comprovação, mas estudos em andamento. Mas quando o presidente usa o antiviral remdensivir e dexametasona, está baseado em evidências que consideramos adequadas.