Bolsonarismo adota negacionismo ante derrotas
Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Diante das derrotas impostas aos candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro no primeiro turno das eleições, aliados do presidente de dentro e fora do governo se dividiram entre negar um fracasso nas urnas (ou ao menos tirá-lo do colo presidencial) e reconhecer que é preciso mudar para recuperar o bom desempenho de 2018. No grupo da negação está o próprio presidente, que passou a defender a tese de que eleições municipais não têm nenhuma correspondência com a política nacional. Aliados chegaram a aconselhar o presidente a analisar com cautela uma eventual participação no segundo turno a fim de evitar novos reveses. Outros debateram publicamente o que fazer diante de derrotas nas urnas.
Além de um resultado ruim na disputa para a prefeitura nas principais cidades — apenas Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio, e Capitão Wagner (PROS), em Fortaleza (CE), continuam na briga —, o presidente viu a maioria dos seus indicados a vereador naufragarem. Dos 44 apoiados, apenas nove se elegeram. E a votação do filho Carlos Bolsonaro (Republicanos), em um patamar inferior ao de 2016, também conta como revés.
Os assessores que defenderam a participação de Bolsonaro na campanha avaliam que o cenário serviu como um importante termômetro para moldar a corrida presidencial de 2022, caso o chefe do Executivo leve adiante o plano de tentar a reeleição. Para essa ala, sem mergulhar de cabeça no pleito, Bolsonaro teria dificuldade de conhecer o real tamanho de sua força e suas fraquezas para uma próxima disputa.
Esse grupo também admite que a participação do presidente no pleito sem qualquer filiação partidária impôs uma urgência: a necessidade de ele encontrar rapidamente uma legenda para organizar seu grupo político. Bolsonaro se desfiliou do PSL em novembro do ano passado e tenta criar o Aliança pelo Brasil, ainda sem sucesso. Há alguns meses, admitiu entrar em outra sigla.
O discurso da negação da derrota se fez presente. O próprio Bolsonaro foi às redes na noite de domingo lembrar que, em 2016, o então governador Geraldo Alckmin foi visto como vitorioso, e acabou derrotado dois anos depois.
Responsável pela articulação política do Planalto, o ministro-chefe de Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, afirmou no seu Twitter que “a esquerda saiu derrotada”, destacando o fato que o PT reduziu ainda mais o número de prefeitos eleitos.
Já a ala que defendia um distanciamento do presidente das eleições municipais voltou a pedir que ele não se envolva no segundo turno. Na visão de assessores do Planalto, o fiasco de Delegada Patrícia (Podemos), no Recife (PE), Coronel Menezes (Patriota), em Manaus (AM), e de Coronel Fernanda (Patriota), na disputa ao Senado no Mato Grosso, não deveriam ser atrelados ao presidente uma vez que estes nomes foram trazidos por seus aliados.
O apoio ao deputado federal Celso Russomanno (Republicanos), que não conseguiu passar para o segundo turno na eleição para prefeitura de São Paulo, foi decisão do presidente. Há, porém, críticas à campanha do candidato. Para um aliado próximo de Bolsonaro, “faltou conteúdo e firmeza nas ideias” do marketing de Russomanno.
Vários aliados, porém, externaram o reconhecimento de que o campo político de Bolsonaro foi mal-sucedido no domingo. O assessor especial para assuntos internacionais do presidente, Filipe Martins, um dos expoentes da “ala ideológica” do governo, afirmou no Twitter que o movimento conservador brasileiro “bateu cabeça para fazer o básico” enquanto a esquerda “se renovou, assimilou as lições de 2018 e soube usar a internet e a nova realidade política a seu favor”.
“Ou fazemos a devida autocrítica, ou nossos erros cobrarão um preço ainda maior no futuro”, declarou Martins.
Ele prosseguiu afirmando que a derrota de candidatos “apoiados por cabos eleitorais de peso” ocorreu porque a eleição não pode ser disputada no improviso.
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) fez questionamentos: “O que houve com os conservadores? Erramos, nos pulverizamos ou sofremos uma fraude monumental?”.
O diretor do Departamento de Conteúdo e Gestão de Canais Digitais da Secom, Mateus Colombo Mendes, descreveu o resultado como “terrível”, mas também um “mal necessário”. “Sem organização, sem partido, sem BASE não se sai do lugar”, escreveu.
Irmão do deputado bolsonarista Carlos Jordy (PSL-RJ), Renan Leal, que não se elegeu vereador em Niterói, pôs a culpa da derrota no presidente. Para ele, Bolsonaro “perdeu as eleições municipais, e provavelmente a de 2022 quando achou que era maior que o próprio projeto” e que “esqueceu que é na sola de sapato que fazemos política”. O post recebeu resposta de Carlos Bolsonaro, em defesa do pai: “Aí, amigão (irmão do Jordy), acho que não é bem assim não! Na hora de tirar foto você foi lá e agora isso! Lamentável!”.
Em tom mais moderado, Jordy falou que havia a necessidade de uma “autocrítica” após a derrota de bolsonaristas, disse que houve “falta de organização da direita”.
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