Bolsonaro usa “valores da família” para ajudar Russomanno e Crivella

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Foto: Reprodução

Faltando apenas duas semanas para o primeiro turno da eleição municipal, o presidente Jair Bolsonaro recorre a valores conservadores para tentar superar fragilidades de seus candidatos a prefeito no Rio e em São Paulo e, assim, conseguir levá-los ao segundo turno.

Neste fim de semana, Celso Russomanno e Marcelo Crivella, ambos do Republicanos, divulgaram vídeos em que Bolsonaro diz que a vitória destes candidatos significaria impedir a volta da esquerda ao poder e reafirmaria o que ele chama de “valores da família”.

As propagandas foram gravadas às pressas em um momento em que os dois candidatos estão ameaçados de não chegar ao segundo turno nas duas principais capitais do país.

Pesquisa Ibope divulgada na sexta-feira mostra que, no Rio, Crivella está empatado numericamente com Martha Rocha (PDT) no segundo lugar, com 14% das intenções de voto. Na liderança está Eduardo Paes (DEM), que tem 32%.

Já Russomanno perdeu a liderança confortável que tinha no início de outubro, com 26% das intenções de voto, e hoje está com 20%, em segundo lugar. Atrás dele vem Guilherme Boulos (PSOL), com 13%. O prefeito e candidato à reeleição Bruno Covas (PSDB) lidera com 26%. A margem de erro das pesquisas é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

O tom da fala de Bolsonaro nos vídeos divulgados no fim de semana reedita a mensagem empregada por ele em 2018, quando venceu a eleição presidencial.

— Estamos há muitos anos juntos no Congresso Nacional, e as nossas bandeiras são as mesmas: a liberdade econômica e a defesa da família — diz Russomanno no vídeo, gravado no Aeroporto de Congonhas na última sexta-feira e divulgado no sábado.

Ele então é interrompido pelo presidente, que segue listando pautas que ele considera comuns com o candidato.

— É o conservadorismo, a questão da criançada em sala de aula. Não podemos admitir o risco de uma doutrinação em sala de aula — diz Bolsonaro.

No caso de Crivella, o prefeito e candidato à reeleição viajou até Brasília para fazer a gravação na sexta-feira. Até então o apoio do presidente a Crivella era velado.

Neste domingo o prefeito postou em suas redes sociais o vídeo com o presidente. A propaganda fala em “convocação oficial do exército do bem”. Bolsonaro pede voto em Crivella contra o que chamou de “ideologia nefasta”, referindo-se à esquerda.

— Quem tem essa tendência de pintar de vermelho, essa ideologia nefasta que não deu certo em nenhum lugar do mundo… é mais um motivo para eu pedir ao eleitor vote no Crivella 10 para prefeito do Rio de Janeiro — diz o presidente, ao lado do prefeito.

O voto conservador varreu as urnas em 2018 e foi responsável pela eleição de Bolsonaro. Essa parcela do eleitorado assegura até hoje ao presidente parte expressiva de sua aprovação e popularidade. Bolsonaro tenta ressuscitar esse movimento nas eleições municipais, apesar de estas serem historicamente mais vinculadas a temas locais.

A entrada do presidente na disputa contrariou o que ele havia dito meses antes de o pleito começar, quando prometeu que não se envolveria na campanha, pelo menos no primeiro turno. Depois, afirmou que teria participação em algumas cidades. Procurada, a Secretaria de Comunicação da Presidência afirmou ontem que o Palácio do Planalto não iria se manifestar sobre vídeos gravados pelo presidente.

A associação ao nome de Bolsonaro divide opiniões. Isso porque a rejeição ao presidente é alta tanto no Rio quanto em São Paulo. De acordo com pesquisa Ibope de outubro, este índice alcançava 38% no Rio e 48% em São Paulo.

No caso de São Paulo, este fator já levou a alguns recuos. Russomanno foi lançado candidato dizendo que só entrou na disputa depois de ter garantido o apoio presidencial. No início da campanha, o candidato explorou com intensidade o vínculo com o Planalto e deixou claro que o objetivo central de Bolsonaro era impor uma derrota ao governador João Doria (PSDB), que virou seu desafeto.

Uma das principais promessas do candidato é o auxílio paulistano, uma reedição do auxílio emergencial criado por Bolsonaro na pandemia. Em entrevista ao GLOBO no início de outubro, Russomanno disse que, a despeito de a rejeição de Bolsonaro ser alta em São Paulo, não agiria como “ um traidor”.

Mas, à medida em que começou a cair nas pesquisas, passou a modular a associação com o presidente na a campanha. Na última semana, Russomanno reduziu a presença de Bolsonaro em seus programas no rádio e na TV e chegou a declarar posições contrárias a ele, como no caso da vacina chinesa Coronavac. Agora, a partir da gravação exibida no sábado, a campanha dá uma nova guinada, retomando a associação com o presidente.

O Globo

 

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