Continua alto número de candidatos com títulos religiosos

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Foto: Reprodução

Candidatos que utilizaram algum título religioso no nome de urna nestas eleições não tiveram tanto sucesso quanto na disputa de 2016. Um levantamento feito pelo G1, a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mostra que houve uma redução de 10% no número de políticos eleitos que adotaram essa estratégia. Há quatro anos, 541 candidatos a vereador e prefeito conseguiram ser eleitos. Neste ano, foram 485.

Quando separado por cargo em disputa, a queda é acentuada entre aqueles que competiram por uma vaga nas Câmaras municipais. O total caiu de 527 para 469. Já entre os candidatos a prefeito, houve um ligeiro aumento: de 14 para 16 eleitos.

A eleição de 2020 teve um total de 8,7 mil candidatos a vereador, prefeito e vice-prefeito que adotaram títulos religiosos no nome de urna. O título mais usado foi o de “pastor/pastora” e “irmão/irmã”. Os candidatos a vereador foram os que mais recorreram a títulos religiosos: 8,2 mil.

No grupo dos vereadores eleitos neste ano, o título de “irmão/irmã” continua sendo o mais usado, seguido de “pastor/pastora”. Já entre os que conseguiram chegar ao Executivo municipal, o título “padre” aparece como o mais frequente, repetindo o padrão de 2016.

Prefeitos eleitos que utilizaram títulos religiosos no nome da urna — Foto: Aparecido Gonçalves/G1

 

Vereadores eleitos que utilizaram títulos religiosos no nome de urna — Foto: Aparecido Gonçalves/G1

Na avaliação da professora de sociologia da PUC-RJ Angela Randolpho Paiva, o uso de títulos religiosos por candidatos é parte de um cenário de descrença na política. Para ela, a queda no total de eleitos neste ano pode ser reflexo de um maior acesso a informação por parte dos eleitores.

“A descrença na política representativa é um dos fatores que levam a adesão ao discurso religioso. Com o aumento das igrejas neopentecostais fica mais fácil construir a narrativa desse modo particular de entender os valores cristãos como uma visão de mundo totalizante onde não cabe o pluralismo de ideias e convivência com o diferente. Acho que as pessoas estão se informando mais e fazendo avaliação do desempenho dos políticos. Esse é um efeito pedagógico da prática democrática”, observa Angela.

O recorte por partido político mostra que o PSD, o PP e o Republicanos foram os que mais conseguiram eleger vereadores que utilizaram títulos religiosos. No outro extremo, Rede, PSOL e DC elegeram apenas um candidato. Já entre os prefeitos, a lista é liderada por PL, PP e PSB.

Prefeitos eleitos no primeiro turno por partido e que utilizaram títulos religiosos no nome de urna — Foto: Aparecido Gonçalves/G1

Vereadores eleitos por partido e que utilizaram títulos religiosos nas urnas — Foto: Aparecido Gonçalves/G1

Na avaliação do professor de ciência política da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) Vitor Peixoto, ainda é cedo para falar em algum mudança de cenário. Para o professor, a queda do total de eleitos é, aparentemente, residual. Peixoto lembra que alguns partidos competiram com candidatos vindos de instituições religiosas, mas não adotaram o título no nome da urna.

“Não saberia dizer se uma queda de 10% é muito ou pouco. A minha hipótese é que se trata mais de uma variação residual do que um fenômeno de alteração. É preciso lembrar que muitos eleitores já conheciam os candidatos vinculados a instituições religiosas. Diante disso, muitos candidatos competiram sem utilizar o título religioso como forma, justamente, de não evidenciar essa relação”, explica Peixoto.

De acordo com o professor da UENF, outra explicação para a queda do total de eleitos pode estar relacionada ao fim das coligações para cargos proporcionais, que afetou a competição entre os candidatos por uma vaga nos Legislativos municipais.

“O fim das coligações trouxe imprevisibilidade para esta eleição. Adicione isso à desorganização e descoordenação da base conservadora do presidente Bolsonaro, sobretudo porque ele não está em nenhum partido no momento”, afirma Peixoto.

G1 

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