Crivella pressiona Bolsonaro a criticar Paes
Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo 28/10/2020
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), pedirá ao presidente Jair Bolsonaro para ajudá-lo a desconstruir no segundo turno a imagem de “bom gestor” de Eduardo Paes (DEM). Ele deve ser recebido nesta quinta-feira no Palácio do Alvorada para um café da manhã, no qual o presidente dirá como pretende participar da campanha. O prefeito deseja que Bolsonaro entre ativamente, incluindo a participação em eventos de rua.
A ideia da campanha do Republicanos é focar o debate do segundo turno sobre a situação da prefeitura herdada por Crivella em janeiro de 2017, após dois mandatos de Paes. Os articuladores afirmam que não se pretende que o candidato nem Bolsonaro façam ataques pessoais a Paes, mas que sejam feitas críticas aos problemas financeiros que teriam sido deixados por ele e herdados pelo atual prefeito.
Na primeira transmissão ao vivo que fez ao apoiar Crivella, Bolsonaro deixou em aberto a possibilidade dos seguidores optarem por outro nome e ainda elogiou Paes, afirmando se tratar de um “bom administrador”.
— O outro vocês conhecem também, é um bom administrador, mas eu fico aqui com o Crivella — disse, no dia 29 de outubro.
Crivella viajou ontem à noite para se encontrar com o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), que marcou o encontro com o presidente. Segundo Otoni, Bolsonaro lhe disse que terá participação em, pelo menos, uma agenda ao lado do prefeito no Rio.
— O presidente me garantiu que vai ao Rio caminhar com Crivella.
Aliados do prefeito já haviam tentado convencer Bolsonaro a participar de um evento de rua no primeiro turno, mas não houve acerto. O único encontro entre os dois durante o período eleitoral foi numa viagem de Crivella a Brasília, no fim de outubro, para a gravação de um vídeo de apoio do presidente para o horário eleitoral.
Fontes afirmam que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) tem atuado para evitar a participação do pai na campanha de Crivella, aconselhando o presidente a adotar um tom mais neutro no segundo turno. Procurado pelo GLOBO, Flávio afirmou:
— A exemplo do primeiro turno, eu não vou caminhar com ninguém. Mas quem vai decidir é o presidente da República. Se houver algum apoio, a decisão é dele.
Crivella já planejava a viagem a Brasília mesmo antes da confirmação do encontro. O maior entrave era o debate da TV Band, hoje.
Com 30 pontos de desvantagem para Eduardo Paes (DEM), segundo pesquisa Ibope divulgada ontem, e em meio a um calendário apertado, a equipe de Crivella avalia que o prefeito não pode faltar a debates.
Apesar da pressão de aliados, Bolsonaro ainda não afirmou publicamente se vai se engajar na campanha de Crivella no segundo turno. Na primeira etapa, Bolsonaro manifestou-se apenas através da gravação de um vídeo para a campanha e de menções ao prefeito em suas lives nas redes sociais. Bolsonaro promoveu, na semana do primeiro turno, transmissões ao vivo com candidatos a prefeituras de três capitais — Belo Horizonte (MG), Recife (PE) e Manaus (AM) —, mas não houve convite ao prefeito do Rio.
Para envolver mais o presidente em sua campanha, Crivella argumentará que Paes pertence ao mesmo grupo político do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), visto por Bolsonaro como potencial adversário em 2022.
Até agora, o único gesto feito pelo presidente no segundo turno foi em relação ao Delegado Eguchi (Patriota), candidato à prefeitura de Belém, que enfrenta Edmilson Rodrigues (PSOL), candidato da frente de esquerda.
“Caso fosse eleitor em Belém/PA, certamente votaria”, respondeu Bolsonaro no Facebook a um eleitor que defendia o nome de Eguchi.
Após as derrotas de vários nomes apoiados por Bolsonaro, candidatos têm procurado se desvincular de sua imagem.
Em Fortaleza (CE), o presidente já tinha manifestado preferência por Capitão Wagner (PROS), mas o candidato foge do apoio, sobretudo pelo fato de a rejeição do presidente ser alta no estado. Coordenador da campanha de Wagner, o senador Eduardo Girão (PROS) diz que o candidato não pode ser chamado de “bolsonarista”, e enfatiza votações em que o deputado federal não seguiu orientação do governo.
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