Disputa em Recife tem clima de barraco familiar
Foto: Infoglobo
Antes do período eleitoral, o senador Humberto Costa (PT-PE) desembarcou em São Paulo com a missão de estancar uma crise. No Instituto Lula, tentou convencer o ex-presidente de que a candidatura de Marília Arraes (PT) à prefeitura do Recife seria um desastre para a esquerda e, consequentemente, para a relação do PT com o PSB. Costa deixou claro que não havia chance de a petista fazer campanha sem atirar.
A intervenção não teve sucesso. Com o aval de Lula, Marília tornou-se o nome dos petistas para enfrentar o primo, João Campos, representante de uma hegemonia de oito anos do PSB na prefeitura. Sacramentada a decisão, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ainda tentou minimizar o estrago: foi ao encontro de Carlos Siqueira, dirigente do PSB, para prometer que a campanha seria limpa, sem ataques, com o foco na “oposição a Jair Bolsonaro”.
Oito meses depois, Marília e João disputam o segundo turno em clima de vale-tudo. A petista já qualificou o primo como “frouxo”, “duas caras” e até sugeriu que ele, caso saia vitorioso, seria tutelado pela mãe, Renata Campos, viúva do ex-governador Eduardo Campos. De outro lado, o candidato do PSB partiu para o ataque ao tratar o PT como um partido corrupto. Nas ruas da cidade, cartazes apócrifos transformam Marília e Lula em caricaturas sombrias, com a mensagem em letras garrafais: “PT nunca mais”. Em comum, os candidatos reivindicam para si a legitimidade para carregar a herança de Miguel Arraes, o patriarca da família.
O cenário político do Recife coloca o PT em circunstâncias muito diferentes de outras capitais. Na última semana, Marília ganhou apoio de setores de direita e centro-direita, insatisfeitos com o domínio dos socialistas. A candidata aposta no esgotamento do eleitorado em função do longo período do partido no poder: são quase 14 anos do PSB no comando do governo estadual.
João e Marília, aos 26 e 36 anos, respectivamente, são hoje deputados federais, mas a rivalidade começou antes. Marília estava no segundo mandato na Câmara de Vereadores do Recife, em 2014, quando a relação começou a ficar desgastada. Neta de Miguel e prima do então governador Eduardo, era também correligionária no PSB. Sua intenção declarada de disputar uma vaga em Brasília já naquele ano não encontrou guarida nos planos do líder da legenda, que já pensava em emplacar seu filho, João, na política.
A articulação de Eduardo para colocar o jovem de 20 anos no comando da Juventude Socialista em Pernambuco, contra o grupo defendido por Marília, foi a gota d’água para ela, que se insurgiu publicamente contra o primo e deixou a sigla, migrando para o PT. Ganhou fama de “desagregadora”. Foram os primeiros sinais de fissura no clã. Renata nunca a perdoou pelo desafio ao marido. As duas mal se cumprimentam.
João ainda cursava engenharia civil na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) quando o pai morreu. No primeiro aniversário da tragédia, o jovem de 21 anos roubou a cena ao discursar e citar o bisavô na inauguração da placa em homenagem a Eduardo no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual. Em fevereiro de 2016, assumiu a chefia de gabinete de Paulo Câmara (PSB). Era o primeiro passo para se viabilizar como o herdeiro do clã.
Em 2018, Marília tentou concorrer ao governo de Pernambuco. Mas, naquela ocasião, sua candidatura foi retirada após acordo do PT com os socialistas em âmbito nacional. O PSB se comprometeu a não apoiar Ciro Gomes, do PDT, na eleição à Presidência da República. Simbolicamente, depois de ser desprezado em Pernambuco, Ciro retorna ao Recife de olho em 2022. Ele estará hoje na cidade para pedir votos a João Campos.
No primeiro turno, Marília esteve em desvantagem nas simulações de pesquisas em segundo turno. Agora, abriu dez pontos de diferença, segundo a última pesquisa Datafolha. Nos últimos dias, segmentos religiosos se dividiram no apoio aos candidatos. Os debates na TV esquentaram.
— O PT já chamou Arraes de caduco e Pinochet. Você tornou Eduardo Campos um inimigo — atacou João Campos.
Marília respondeu no mesmo tom:
— Quem é inimigo do povo do Recife é o PSB. O PSB de hoje desonra a luta de Arraes.
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