Além de tudo, inflação
Foto: Ivan Sampaio/Futura Press
A projeção da inflação continua a subir, refletindo o impacto da alta dos preços no país – preocupação latente do consumidor na hora de fazer as compras. Pela 17ª semana consecutiva, analistas do mercado financeiro revisaram para cima a estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e, pela primeira vez no ano, os economistas veem a inflação oficial do país acima do centro da meta para o ano, que é de 4%.
Segundo dados do Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira, 7, pelo Banco Central, a inflação deve encerrar o ano em 4,21%, acima do previsto na semana passada, em 3,54%. Para se ter uma ideia da aceleração, há um mês, a projeção era de 3,2% e, há dois meses, em 2,12% para o indicador. O valor, apesar de estar acima do centro da meta definida pelo governo, segue dentro da margem de tolerância, que varia entre 2,50% e 5,50%. No entanto, as revisões consecutivas ligam o sinal amarelo da pressão inflacionária na retomada da economia.
As revisões consecutivas são reflexo, principalmente, da alta sentida em itens de cesta básica e da inflação ao produtor. Em outubro, o IPCA acelerou 0,86%, maior resultado para o período em dezoito anos. Com a retomada do setor de serviços, que até o momento tinha baixa demanda e segurava o bom comportamento da inflação, o indicador tem tendência de alta. Também houve recorde no Índice de Preços ao Produtor, que acelerou 3,40% em outubro, mostrando que a pressão chega desde a porta da fábrica. Nesta terça-feira, o IBGE divulga o resultado do IPCA para novembro.
Em abril e maio, período mais agudo da crise provocada com a pandemia, com o fechamento de atividades não essenciais, houve deflação. Com a reabertura das atividades, injeção de recursos transferidos pelo auxílio emergencial, aumento da demanda interna e também a pressão do dólar, houve aceleração em alguns custos. Para 2021, entretanto, o mercado reduziu a projeção para o IPCA de 3,47% para 3,34%. A revisão indica uma pressão pontual do indicador, assim como tantas variáveis no país, diretamente ligada à pandemia. O IPCA é um dos termômetros para o consumo. Com os programas de distribuição de renda, como o auxílio emergencial, o consumo foi retomado. Além disso, houve aceleração na demanda por alimentos e a alta do dólar, que também influenciam nesta equação.
Apesar do mercado enxergar alta na inflação oficial do país, há índices que enxergam desaceleração no indicador. O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) da Fundação Getulio Vargas variou 2,64% em novembro, percentual inferior ao apurado no mês anterior, quando havia registrado taxa de 3,68%. A queda foi puxada numa desaceleração de preços ao produtor. “Os três grupos componentes da inflação ao produtor apresentaram decréscimos em suas taxas de variação. Matérias-primas brutas (soja de 15,82% para 6,49%), bens intermediários (farelo de soja de 20,12% para 13,22%) e bens finais (combustíveis para o consumo de 3,39% para -2,43%) contribuíram para a desaceleração do IPA e, por consequência, do IGP”, afirma André Braz, Coordenador dos Índices de Preços.
Mesmo com a aceleração da inflação, economistas projetam a manutenção da taxa básica de juros, a Selic. Analistas acreditam que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha em 2% a taxa de juros ao final deste ano, continuando com a mínima histórica. A última reunião do Copom no ano ocorre nesta semana, com a decisão da manutenção ou não da taxa de juros estimada para quarta-feira. Na última reunião, em que houve a manutenção, o colegiado justificou que o movimento da inflação atual é passageiro e, por isso, pode fazer apenas algum ajuste adicional na Selic. Para o ano que vem, o mercado manteve a previsão dos juros em 3% ao ano.
Além da alta projetada para a inflação, analistas do mercado estimam melhora no desenvolvimento da economia. Segundo os analistas consultados pelo Banco Central, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve fechar o ano em -4,40%, previsão de queda menor que semana anterior, de -4,50%. Com a retomada gradual das atividades, o desafio da economia é o aquecimento e recuperação sustentável pós-pandemia. Na semana passada, o IBGE divulgou o crescimento do PIB no terceiro trimestre: a retomada foi de 7,7% no período entre julho e setembro. A expectativa é que a retomada do setor de serviços no fim de ano ajude na recuperação, mas o aumento dos casos pelo país pode minimizar a recuperação no período.
Após meses de revisões para baixo, acompanhando a escalada do novo coronavírus no Brasil, as projeções do PIB que chegaram a -6,54%, passaram por estabilização em junho e as previsões do PIB passaram a melhorar em julho e agosto com a reabertura gradual das atividades. Os dados do Focus não indicam uma recuperação em “V”, jargão econômico para mostrar uma volta rápida, Alguns setores, entretanto, mostram retomada mais rápida, como o comércio, beneficiado diretamente pelo auxílio emergencial.
Vale salientar, porém, que a recessão é significativa e atinge o país no ano em que se esperava uma reação da economia, que dava sinais de recuperação da crise vivida entre 2015 e 2016. No início do ano, a expectativa do mercado financeiro era de que a economia brasileira crescesse 2,3%, acima dos desempenhos de 2017 e 2018 (+1,3%) e 2019 (1,1%). A expectativa do mercado para projetar o crescimento da economia para os próximos anos, é a retomada da agenda reformista. Incertezas sobre o andamento das pautas, podem gerar incerteza. A previsão do PIB para 2021 é de 3,50% e para 2022 de 2,5%.
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