Bolsonaro e mulher organizam culto à personalidade no Planalto

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 Foto: Reprodução/TV Brasil

No meio da tarde desta segunda-feira, a agenda oficial do presidente Jair Bolsonaro ganhou uma adição de última hora. Às 17h, ele participaria da exposição dos trajes usados na posse presidencial de 2019, ocorrida quase dois anos antes. O terno preto do presidente e o vestido rosa da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, foram colocados à mostra em vitrines no térreo do Palácio do Planalto, onde permanecerão abertos a visitação por tempo indeterminado.

O casal apareceu com alguns minutos de atraso, acompanhado da filha, Laura, de 10 anos, para descerrar uma faixa verde-amarela. O clima era de celebração, com dezenas de convidados, entre eles ministros de Estado, aglomerados diante das peças. O presidente e a primeira-dama então passaram a falar sobre o “dia memorável” e a história dos trajes. Bolsonaro fez questão de fazer propaganda para o alfaiate que confeccionou sua roupa gratuitamente, divulgando até o endereço do seu novo ateliê em Brasília.

O evento durou cerca de dez minutos e foi transmitido ao vivo pela TV Brasil, emissora pública do governo federal. Os participantes logo seguiram para uma recepção no mezanino do palácio.

Michelle foi a primeira a falar, logo depois de os trajes serem iluminados por lâmpadas de LED. Sorridente, disse que o lançamento das vitrines era “um momento de muita alegria”.

— Um dia memorável para a nação, aonde foi confeccionado um vestido, talvez um simples vestido, mas que hoje tem um simbolismo muito grande, que acabou trazendo visibilidade para a nossa comunidade surda, que por décadas foi esquecida — declarou a primeira-dama, em referência ao discurso que fez em Libras, a Língua Brasileira de Sinais.

Ela então agradeceu a sua estilista, Marie Lafayette, e a costureira que confeccionou o traje, Larissa Silva, ambas presentes na cerimônia. E lembrou do momento em que Marie chegou na sua casa, “tão descontraída”, para depois tomarem um café e fazerem um croqui do vestido.

Depois de chamar as duas para ficarem ao seu lado enquanto discursava, Michelle contou que a estilista, “com muita generosidade”, disse na ocasião que queria lhe doar a peça para que, depois de usada, fosse leiloada. Os valores arrecadados por este e por outro vestido, usado no coquetel realizado no Itamaraty, seriam destinados para uma instituição de caridade.

Mas o vestido da posse acabou sendo tirado do leilão — “por ter muito simbolismo”, segundo justificou a primeira-dama — e acabou sendo exposto para os visitantes do Planalto.

O presidente, que já havia chamado o alfaiate Santino Gonçalves para se posicionar ao seu lado, então foi ao microfone para contar a história do seu terno. Disse que estava na transição, ainda no Rio de Janeiro, e um antigo barbeiro paraquedista foi lhe visitar acompanhado de Santino.

— E eu não sabia que ele era alfaiate, lá do município de [Duque de] Caixas [na Baixada Fluminense]. Daí ele queria fazer um terno pra mim e eu dispensei, porque falei: “o meu número é 500, 500 reais, acima disso não é meu número” [Risos]. Ele falou: “vou fazer de graça”. “Ué, quer fazer de graça, então, de graça até injeção marciana, então vamos aceitar esse terno”. E ele fez, e desde aquele momento eu uso o terno dele — relatou Bolsonaro, apontando para a própria roupa.

Ele continuou dizendo que o alfaiate é uma pessoa humilde e sua profissão “parece que está em extinção”. O presidente contou em seguida que Santino só lhe pediu em troca que autorizasse o uso da sua fotografia no alfaiate. E acrescentou que nem fez uma contraproposta ao profissional.

— De vez em quando ele faz um novo terno pra mim, é um preço bastante razoável, e foi feita uma amizade entre nós. Hoje ele tem um ateliê aqui em Brasília. Qual o endereço? — perguntou Bolsonaro, repetindo a resposta do alfaiate ao microfone, diante das câmeras.

O presidente então fez uma propaganda mais explícita para o amigo:

— Quanto mais terno fizer lá, mais eu ganho aqui — disse, dando uma gargalhada e arrancando risadas do público. — Então ele acabou de marcar história, né? Aqui a vitrine aqui. O terno é de qualidade e é uma nova marca que aparece no mercado. Muito obrigado a ele. E, obviamente, tudo começou com uma doação.

Antes do fim do evento, depois que a primeira-dama deu flores a sua estilista e costureira, Bolsonaro interrompeu o cerimonial para que o seu alfaiate tivesse a oportunidade de dar seu testemunho. Santino então falou sobre uma “profecia”:

— Eu quero aqui deixar registrado que, em 2001, ali nos Estados Unidos, eu recebi uma profecia que eu estaria entre as autoridades. E eu, como nunca fui político, falei: “eu vou ser o alfaiate do presidente”. E se passaram 17 anos quando eu cheguei lá na casa do presidente e falei: “é hoje”. E a profecia se cumpriu — declarou.

O Globo

 

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