Candidato de Maia quer apoio da esquerda
Foto: Jorge William / Agência O Globo
Após mais de 20 dias de articulação, com nomes de candidatos oscilando na preferência do bloco formado por Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a sucessão da Câmara, Baleia Rossi (MDB-SP) foi anunciado nesta quarta-feira. Agora, com Maia, ele busca aparar as arestas com partidos de oposição para garantir votos nas bancadas e firmar o apoio ao escolhido.
Na noite de ontem, Baleia Rossi viajou com Maia para Pernambuco, onde tiveram um encontro com Paulo Câmara (PSB), governador do estado. Parte do intuito da viagem é resolver uma dissidência no PSB. O partido integra o bloco de Rodrigo Maia na disputa pela presidência da Câmara, mas tem por volta de 15 deputados favoráveis a Arthur Lira (PP-AL), candidato rival.
O líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon, tem apoiado a frente ampla contra Lira, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, assim como a maioria da bancada de 31 deputados do partido.
Logo após o anúncio do nome de Baleia, PT, PSB, PDT e PCdoB divulgaram comunicado dizendo que vão se reunir com o emedebista na segunda-feira “para que ele possa nos apresentar as propostas e compromissos de procedimentos que nortearão sua candidatura à presidência da Casa.”
Líderes de esquerda ouvidos pelo GLOBO querem que Baleia aceite que a oposição possa exercer seu papel dentro da Casa. Se houver assinaturas para instalar uma CPI contra o governo, por exemplo, ela não pode ser engavetada; se o governo baixar um decreto ilegal, o presidente da Câmara deve se comprometer em pautar um projeto para derrubá-lo.
No pronunciamento ontem, ao ter seu nome anunciado, Baleia falou da defesa da democracia e citou uma frase de Ulysses Guimarães, emedebista presidente da Assembleia Constituinte: “Tenho ódio e nojo das ditaduras”.
— O que nos une, neste momento, é a defesa intransigente da nossa democracia. Do nosso estado democrático de direito, das liberdades, do respeito às minorias. Em um bloco partidário, que tem posições diferentes sobre diversos temas, essa diferença nos fortalece e demonstra que, na democracia, uma das suas belezas é respeitar quem pensa diferente — disse Baleia.
Como Arthur Lira conta com o apoio de Bolsonaro, o bloco oposto a ele se uniu como uma frente ampla em prol da democracia e da independência da Câmara dos Deputados. Lira, porém, também diz que vai atuar de forma independente do governo. O Palácio do Planalto tem interferido na negociação, oferecendo cargos e emendas em troca de apoio ao candidato do PP.
Lira tem dito que a divisão entre governismo e independência não procede. Ele reitera que quer manter a Casa funcionando com autonomia em relação ao governo. Segundo ele, a narrativa de que irá “entregar” a Câmara a Bolsonaro é parte de um “projeto pessoal” de poder de Rodrigo Maia.
“Difícil entender a obsessão pela oposição e independência de ocasião. Atual presidente da Câmara Rodrigo Maia legitimamente teve apoio de Michel Temer e até do Jair Bolsonaro ali no início de 2019”, lembrou Lira em publicação em rede social nesta semana.
Ontem, Baleia Rossi reforçou o recado à oposição, com uma publicação em rede social se referindo aos partidos progressistas. “Vou conversar com todos os partidos do campo progressista. Respeito e reconheço nossos pontos divergentes. O importante é focar na defesa da independência da Câmara”, escreveu, antes de citar novamente a frase de Ulysses Guimarães.
No PT, o nome de Baleia Rossi tem resistência devido ao papel do MDB no impeachment de Dilma Rousseff. Em reunião ontem, deputados petistas ficaram divididos. Alguns querem lançar uma candidatura própria. O partido, no entanto, não cogita deixar de integrar o bloco de Maia.
— Nesse momento, 99% da bancada querem continuar no bloco. Nosso principal objetivo é derrotar o candidato do Bolsonaro — diz Carlos Zarattini (PT-SP). — O que nós queremos é uma reunião para fazer uma análise das propostas, porque ninguém também é a favor de apoiar sem compromissos.
Os demais partidos de esquerda — PCdoB, PDT e PSB — devem esperar para anunciar o apoio a Baleia como um gesto para acompanhar o PT. Nessas siglas, porém, já há consenso sobre permanecer no bloco e o endosso ao nome. O PSOL, com dez deputados, está dividido.
Baleia Rossi é presidente do MDB. Nos últimos dias, a ex-presidente Dilma se manifestou contra o nome, assim como Fernando Haddad. A preferência da cúpula do partido era por Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), opção que acabou sendo deixada de lado para conciliar os interesses da maioria dos partidos.
Aguinaldo não tem o apoio do presidente de seu partido, o senador Ciro Nogueira (PP-PI). A sigla está apoiando a candidatura de Arthur Lira, que conta com nove partidos em seu bloco: Republicanos, PL, PP, PSD, Solidariedade, Avante, PROS, Patriota e PSC.
O bloco de Maia, por outro lado, tem 11 siglas: DEM, MDB, PSDB, PSL, Cidadania, PV, PT, PSB, PDT, Rede e PCdoB. São 268 deputados, contra 194 de Lira. O voto é secreto, e Lira conta com “traições” no PDT, PSL, PSB e outros partidos. Com o nome de Baleia anunciado, aliados dizem que esse é o momento de coletar votos no “varejo”, como tem feito Lira.
Baleia está no segundo mandato de deputado federal. Antes, passou três mandatos como deputado estadual em São Paulo. Ele é filho do ex-deputado e ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Wagner Rossi.
Nos últimos dois anos, atuou como autor de uma das propostas de reforma tributária que tramitam na Câmara. Era líder do MDB durante o governo de Michel Temer, de quem ele e o pai são próximos.
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