Com testes vencendo, Brasil é dos que menos testaram covid
Foto: RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES
Nove meses após o Brasil detectar o primeiro caso de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, em 28 de fevereiro, o país ainda enfrenta dificuldades com uma discussão do início da pandemia: a capacidade de testar a população e saber a real dimensão dos adoecimentos.
Os brasileiros primeiro enfrentaram a dificuldade do Ministério da Saúde para comprar testes. Depois, se frustraram com um estoque de sete milhões de unidades do produto se perdendo em São Paulo.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que até outubro, 25,7 milhões de pessoas fizeram teste para saber se estavam infectadas pelo coronavírus. À época, 5,7 milhões, ou 22%, testaram positivo.
O total de testes realizados pelo Brasil representa 12,2% da população de 210 milhões de habitantes, segundo dados do IBGE. O índice é considerado baixo pela comunidade acadêmica.
Os números apresentados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio com foco na Covid-19 (Pnad Covid-19), confirmam que o Brasil ainda está entre as nações que menos realiza testes no mundo.
A plataforma Worldometer, ferramenta que compila e compara resultados de enfrentamento da pandemia no mundo, indica que o Brasil é o 96º no ranking de realização de exames para detectar a doença em 220 nações. A cada grupo de um milhão de habitantes, somente 120 mil pessoas foram testadas.
Em números absolutos, o país é o sétimo, atrás de Estados Unidos, China, Índia, Rússia, Reino Unido e Alemanha. Uma ressalva: o Brasil tem uma população maior que a russa, a alemã e a inglesa, além de ter mais casos da doença.
O Ministério da Saúde realizou 16,7 milhões de testes — 64% do total —, segundo a plataforma LocalizaSUS, canal de prestação de contas da pasta para gastos da pandemia. Neste cálculo não estão incluídos os exames realizados pelos governos estaduais, municipais e da rede privada.
Foram, no período, 8,68 milhões de testes PRC (considerado o mais seguro e de padrão de referência) e outros 8 milhões de testes rápidos (que apresentam diagnósticos mais rápidos, mas menos eficazes).
Para a médica infectologista Lívia Ribeiro, consultora da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, a testagem no Brasil ainda é insuficiente, mesmo nos pacientes sintomáticos que procuram serviços de saúde. “Nem todos fazem o PCR, que seria indicado entre o terceiro e sétimo dia de sintomas”, explica.
Ela detalha que o resultado desse exame serviria para isolar mais precocemente o indivíduo doente e diminuir a cadeia de transmissão. “Muitas vezes se utiliza apenas o teste rápido sorológico, que só vai ser reagente após o oitavo dia de sintomas e tem sensibilidade muito ruim. Perde -se oportunidade de detecção é isolamento precoces”, lamenta.
Além disso, a baixa testagem impede o país de saber a real dimensão da pandemia. Casos que passam despercebidos engordam o limbo da subnotificação.
O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, afirmou em audiência no Congresso nessa quarta (2/12) que “está encaminhando” a análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre a prorrogação da validade dos 7 milhões de testes PCR que estão estocados em armazém do governo federal. “Nunca aqui partimos da premissa de que os testes vão vencer agora em dezembro”, afirmou.
Pazuello, no entanto, afirmou que o produto entrou no Brasil com uma validade “emergencial”, de oito meses, mas que a “validação” do novo tempo de uso está em discussão “há muito tempo”.
A Anvisa, contudo, afirma que a validade foi definida pela própria fabricante do teste, o laboratório coreano Seegene. A agência ainda diz que não há decisão sobre a extensão da validade. Do total estocado, cerca de 6,86 milhões de unidades, ou 96%, perdem a validade entre dezembro deste ano e janeiro de 2021.
O Metrópoles entrou em contato com o Ministério da Saúde para a pasta comentar os índices de testagem do país e se considera que eles são baixos. A reportagem não obteve resposta. O espaço continua aberto a esclarecimentos.
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