Brasil é atacado por várias cepas de coronavírus
Foto: Phil Noble/Reuters
Cientistas do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro identificaram os dois primeiros casos de coinfecção no Brasil. A ocorrência foi identificada em duas pessoas adultas, infectadas simultaneamente com diferentes linhagens do coronavírus, ocorrida em novembro de 2020.
Cerca de 92 amostras de material genético de pacientes com faixa etária de 14 a 80 anos de idade do Rio Grande do Sul, sendo 50% homens e 50% mulheres, foram selecionadas em uma pesquisa para investigar possíveis casos de reinfecções e coinfecções. Após o sequenciamento genético desse material, foi possível identificar cinco linhagens diferentes circulando no estado gaúcho, sendo uma nova a princípio denominada VUI-NP13, além dos dois casos de coinfecção.
Realizado pelo Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS) e pelo Laboratório de Bioinformática (Labinfo) do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis (RJ), o trabalho também possibilitou a identificação de uma linhagem do coronavírus sendo disseminada de forma generalizada no sul do país, qualificada como E484K. Ela foi encontrada inicialmente no Rio de Janeiro, em dezembro de 2020.
Fernando Spilki, coordenador do trabalho no Laboratório de Microbiologia Molecular da Feevale, afirma que “isso é preocupante, pois sabe-se que essa mutação pode estar associada a um escape de anticorpos formados contra outras linhagens do vírus. É mais uma evidência que essas novas linhagens podem causar problemas mesmo em pessoas que já tenham uma imunidade prévia contra o Sars-Cov-2”.
Essa linhagem está presente nos dois casos de coinfecção do RS, que é uma ocorrência caracterizada como “infecção simultânea por vírus com genomas distintos em um mesmo indivíduo”, de acordo com a Feevale. Segundo a instituição, a mistura de genomas de diferentes vírus em uma mesma pessoa é um fenômeno que pode causar a evolução do coronavírus – o que preocupa os pesquisadores.
No caso em questão, os pacientes apresentaram um quadro de Covid-19 de leve a moderado e já estão recuperados. No entanto, a coordenadora do Laboratório de Bioinformática do LNCC, Ana Tereza Vasconcelos, coloca que os dados visam alertar as autoridades sanitárias que estudos sobre a dispersão do Sars-Cov-2 são extremamente importantes para a segurança de todos.
A possível terceira linhagem do coronavírus e os casos de reinfecção registrados no país alertam para vacinação no menor tempo possível e preocupa cientistas e especialistas. Os fenômenos recentes aconteceram devido à circulação em alta quantidade do vírus e de uma taxa de infecção ainda maior.
Um dos maiores virologistas do país, Amilcar Tanuri, da UFRJ disse à CNN que dois vírus na mesma pessoa, a chance do RNA de cada um se recombinar e formar uma terceira linhagem é grande e isso já aconteceu no coronavírus. Tanuri atua no Rio de Janeiro, diretamente em parceria com Laboratório Nacional de Computação Científica – LNCC e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para sequenciar mais amostras do fenômeno.
Ele sugere uma testagem mais rápida e disponível em todas as unidades do sistema de saúde evitando que a população se desloque para lugares longes contaminando mais pessoas. “Diante de novas variantes e possibilidade de uma terceira linhagem, a vacina corre risco de perder sua eficácia na luta contra a Covid-19”, alertou o virologista.
O Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), no Rio de Janeiro, está sequenciando a nova linhagem do vírus. E em entrevista à CNN, a doutora Ana Tereza, pesquisadora do LNCC, alerta para os casos de reinfecção e a vacinação torna-se ainda mais importante e precisa ser feita rapidamente para conter os avanços da Covid-19.
“Estamos vendo novas linhagens se perpetuando, linhagens descobertas no Rio de Janeiro e no resto do Brasil. Isso mostra a capacidade do vírus de se adaptar aos hospedeiros. Se não houver vacinação o mais rápido e medidas mais restritivas e intensas, a situação poderá piorar”, explicou a pesquisadora.
Os pesquisadores da Fiocruz da Amazônia estão sequenciando novos fenômenos em Manaus com parceria da Fiocruz no Rio de Janeiro.
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